PCDF não vê indícios de crime em caso de idosa que teve pé amputado

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) afirmou que, até o momento, as investigações não encontraram indícios de crime em relação ao caso da idosa, de 103 anos, que teve o pé amputado na Asa Norte. As informações foram repassadas em entrevista coletiva durante a tarde desta sexta-feira (31/1).

O caso é investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa (Decrin). As apurações policiais apontam que o caso envolveu uma série de eventos complexos e uma progressão incomum da necrose, que resultou na necessidade de intervenções médicas. No entanto, as ações dos profissionais teriam ocorrido dentro das práticas regulares dentro de um contexto de cuidados paliativos.

Quadro de saúde da idosa

A investigação começou após denúncia sobre uma idosa que teria tido o pé amputado em casa, sem anestesia e em sofrimento. A polícia iniciou uma investigação, acionando a seção de crimes contra idosos, ouvindo familiares, cuidadores e a equipe técnica envolvida.

A idosa é centenária, acamada, com Alzheimer avançado e apresentava uma ferida no pé com necrose desde 2023. Inicialmente, foi cogitada uma cirurgia de amputação, mas devido à sua idade e condições de saúde, optou-se por cuidados paliativos em casa. Desde então, ela recebia o tratamento 100% home-care.

“Essa família continuou com os cuidados em casa, mas foi agravando essa ferida. Então, foi indicada uma enfermeira do mesmo hospital que a paciente idosa já esteve internada e que trabalhava como especialista em cuidados de feridas e estomaterapia (especialidade para cuidado de feridas agudas). A enfermeira, com várias especializações e cursos, foi indicada para fazer esse desbridamento”, relata Ângela Maria dos Santos, delegada-chefe da Decrin.

Recentemente, a enfermeira avaliou a situação e verificou que a extensão da necrose era grande. Consultando a família e levando em consideração o quadro da mulher, a profissional iniciou um tratamento de “cura seca”, que consistia em desbridamento, ou seja, a limpeza do tecido necrosado.

De acordo com a delegada, a enfermeira realizou duas sessões de desbridamento, onde limpava a ferida e fazia curativos. Na terceira sessão, ao retirar o curativo, a área necrosada se soltou naturalmente, ficando presa apenas por pequenos fios de tecido desvitalizado.

“Ela se surpreendeu com essa parte que soltou e ficou presa simplesmente aos estelos, que são os fios também sem vida. Para isso, dentro da especialidade dela, ela fez o corte, que não teve sangramento, e realizou o curativo. A partir daí, tivemos informação, tanto pela equipe médica quanto pelos familiares, que a idosa melhorou seu quadro de saúde. Com isso, ela teve condição de fazer [uma cirurgia de amputação] porque a necrose continuava grande. A família optou por fazer uma amputação, que foi feita no dia 27 de janeiro. A idosa passa bem, já está em casa”, apontou a chefe da Decrin.

Necrose e amputação

De acordo com a PCDF, a enfermeira teria usado o bisturi para cortar esses filamentos de tecidos necrosados. A profissional não usou o objeto para um procedimento de amputação cirúrgica, mas sim a remoção de tecido já morto. Otávio Castello, perito médico-legista da PCDF, explica que o bisturi não é capaz de cortar osso e cartilagem, e não foi usado com essa finalidade nesse caso.

“Embora as conclusões ainda sejam preliminares, algumas coisas já podem ser afirmadas com muita segurança. A primeira delas é que não houve uma amputação [realizada pela enfermeira]. Não aconteceu uma amputação no caso, o que houve foi um procedimento de desbridamento, ou limpeza, de um tecido desvitalizado, de um pé que tinha uma parte do tecido dele extensa, e que esse tecido já estava em fase de destacamento espontâneo”, afirma o perito.

Com análises e procedimentos de investigação, os peritos indicam que a idosa não sentiu dor durante o procedimento, pois o tecido já estava sem vida e sem as condições normais dos nervos. Os depoimentos do filho e da enfermeira, além da análise do prontuário, confirmaram a ausência de dor.

Após o procedimento da enfermeira, a paciente melhorou, e houve uma redução da infecção e da dor, o que criou uma janela de oportunidade para uma cirurgia de amputação no nível da coxa, realizada no hospital.

“Quando examinamos pessoas idosas acamadas, existem sinais sugestivos de maus tratos ou de falta de cuidados, e ela não tem nenhum desses. Ela está hidratada e adequadamente nutrida. Mesmo sem ter dentição, recebe uma alimentação com a consistência adequada. Ela não tem nenhuma ferida de pele relativa a ficar acamada, como é habitual acontecer nesses casos de pessoas mal cuidadas”, diz Otávio Castello.

“Descarte”

Em relação ao “descarte”, mencionado pela enfermeira em conversas no WhatsApp, os investigadores explicam que a enfermeira inicialmente tentou descartar os resíduos dos tecidos necrosados no hospital onde trabalhava, mas não foi possível, pois a instituição necessitava que paciente estivesse internada lá.

Com isso, o tecido necrosado foi descartado no lixo hospitalar do home care. O tecido removido não era um membro, mas sim um fragmento necrótico, correspondente à parte anterior do pé, incluindo os dedos, que já estava em processo de destacamento, quando parte dos tecidos já mortos se separam do corpo.

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