Comunidade LGBTQ+ é “bode expiatório” de Trump, diz advogada americana

Trump assina decreto que bane pessoas trans do Exército americano. Trump remove termos como gay, lésbica, transgênero, bissexual e LGBT dos sites oficiais da Casa Branca. Trump diz que “agora só existem dois gêneros: masculino e feminino”. Essas foram algumas das medidas adotadas pelo republicano que chamaram atenção de todo o mundo nas últimas semanas.

Desde que tomou posse como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro, Donald Trump tem implementado uma rígida política contra a comunidade LGBTQ+.

O Metrópoles conversou com Jenny C. Piser, chefe do departamento jurídico da Lambda Legal, uma organização americana de direitos civis voltada para a comunidade LGBTQ+. Para Jenny, a administração Trump não está simplesmente tomando decisões que afetam esse grupo, mas, sim, o usando de forma intencional como uma ferramenta política.

“Sabemos que as pessoas LGBTQ+, especialmente as pessoas transgênero, estão sendo usadas como ferramenta política, como distração e como desculpa para o fomento do medo. A criação de bodes expiatórios sempre é feita por aspirantes a ditadores”, afirma a advogada.

Ameaça à democracia

Jenny diz que a administração Trump está violando o contrato social fundamental entre o governo e o povo. Segundo ela, o governo recebe impostos do povo e tem responsabilidade de fornecer, entre outras coisas, segurança para todos. A advogada vê isso como uma violação básica de confiança e um ataque direto à estrutura da democracia.

“Parece que Donald Trump gostaria de ser rei. Há algumas pessoas que fazem parte de seu movimento atual que querem realmente destruir o governo federal e acabar com os direitos civis”, afirma Jenny. “Então, em parte é Trump, em parte são empresas e há algumas pessoas que, por sua própria ideologia, gostariam de ver uma América dominada por homens brancos e cristãos que tomam todas as decisões por nós. E seria ridículo se não fosse tão perigoso.”

Volta aos anos 1940

A advogada explica que o tipo de governo promovido por Trump é um retrocesso em direção a uma sociedade hierárquica e tradicional. “É uma visão de mundo anterior aos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos. Uma voltas aos anos de 1940 e 1950.”

Apesar disso, Jenny chama antenção para a força e conquista dos movimentos civis envolvendo mulheres e a comunidade LGBTQ+ nas últimas décadas.

“Tivemos essas mudanças legais profundas e há algumas pessoas que se opõem a tudo isso. Se você entende uma definição de gênero baseada apenas nos gametas – óvulos ou espermatozoides determinam seu caminho de vida – essa é uma forma muito antiquada e arcaica de compreender os seres humanos.”

A advogada destaca, ainda, que a discriminação adoece a sociedade. “Nosso movimento [LGBTQ+] é global. Nós existimos agora assim como já existíamos antes. Nós defendemos o amor e a comunidade. Todos nós temos algo a oferecer. Fazemos parte de famílias, nós fornecemos trabalho, ensinamentos e damos apoio uns aos outros. Fazemos parte da sociedade e nos discriminar é um erro profundo.”

Foto colorida de Jennifer C. Pizer - Metrópoles
Jennifer C. Pizer é diretora jurídica e presidente da Lambda Legal. Ela está na organização há 29 anos e trabalhou ativamente na luta pelo direito e conquista do casamento entre pessoas do mesmo sexo, nos Estados Unidos

Tump processado

Jenny conta que trabalha na área de direitos civis há muito tempo e chega a relembrar a crise da Aids nos Estados Unidos, na década de 1980, “quando o governo ignorou a falta de assistência médica para homens gays e bissexuais”.

“Naquela época era um vírus [atacando]. Agora é o governo. É difícil até mesmo entender o quão errado e inescrupulosamente ultrajante é isso que está acontecendo.”

A advogada, por meio da organização Lambda Legal, quer processar a administração de Trump.

“Muito do que a administração Trump está fazendo é ilegal. Eles não têm o poder de fazer essas coisas. […] Vimos isto em diferentes gerações e em diferentes países que querem ter ditadores. Eles encorajam as pessoas a abrirem mão dos seus direitos e a ceder o poder. Mas agora, nos Estados Unidos, temos movimentos pelos direitos civis e temos advogados dos direitos civis. Nosso trabalho é fazer melhor para evitar que isso aconteça”, finaliza Jenny.

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