Cenários para Lula 2025 (por Leonardo Barreto)

Como o governo deixou todo equilíbrio fiscal para o lado da receita, depende do crescimento da arrecadação para fechar as contas. Arrecadação, por sua vez, necessita de crescimento econômico. O problema é que o Banco Central lançou ao mar uma pesada âncora para diminuir a velocidade do navio brasileiro, levando a SELIC para um patamar altíssimo.

No melhor dos cenários, o freio de arrumação funciona e rapidamente a inflação volta para o prumo. O ano de 2025 presencia um pouso suave, sem muitas avarias para empresas e famílias, que conseguem administrar suas dívidas.

Mesmo crescendo menos, a economia mantém a arrecadação em nível razoável e as despesas são mais ou menos controladas por meio de congelamentos e bloqueios ao orçamento. O ano de 2026 começa com uma redução sustentável da taxa de juros e Lula anuncia novo pacote de estímulos que lhe garante boa condição para a reeleição.

Na pior simulação para o governo, as empresas e as famílias, altamente endividadas, têm sua situação piorada pelo forte aumento de juros. Ao invés de pouso suave, o país vive um baque na atividade econômica e, ao invés de uma redução de ritmo, o país experimenta uma recessão.

Nessa situação, a popularidade de Lula é submetida a um teste de fogo. O presidente, que tem dito que chegou “a hora da colheita”, descobre que escolheu um momento ruim para esse tipo de anúncio porque, em um grau maior ou menor, haverá algum tipo de ajuste neste ano.

Sem paciência para esperar os efeitos do ajuste, Lula iniciar uma ofensiva de comunicação para trazer o jogo político para seu ambiente natural, mais próximo de uma campanha eleitoral, numa clara disposição de enfrentar os dados da economia com narrativa.

Lula mantém a atuação do Banco Central blindada. No entanto, em outro front, empreende ações contrárias que retardam na prática o efeito que a autoridade monetária busca para o país – redução do ritmo de crescimento da atividade e redução da inflação.

Por exemplo, as medidas de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil e de crédito consignado para o setor privado com lastro no FGTS visam aumentar o poder de compra das famílias, retardando o que se propõe com o aumento da Selic.

Os juros fazem o “trabalho sujo”, mas não no ritmo desejado. Sem aguentar a ansiedade, o governo anuncia medidas de gastos e de estímulo ao consumo, aumentando o período necessário para que o Banco Central faça seu serviço, criando assim um círculo vicioso. A política monetária não funciona a contento e, como resposta, o governo cria condições ainda mais difíceis para que isso aconteça.\

Nessa situação, a economia desacelera, o desequilíbrio fiscal cresce, a inflação não cede o suficiente e a popularidade de Lula fica comprometida. Ele abandona o ajuste proposto pelo Banco Central e flerta com o populismo econômico para chegar com chances em 2026, compensando um desconforto macro com aumento de políticas de transferência e outra intervenções econômicas e o processo eleitoral fica imprevisível.

 

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política e sócio da consultoria Think Policy

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