HÁ VINTE ANOS – Os Estados Unidos terceirizam a tortura de presos

Maher Arar, 34 anos, nasceu na Síria e migrou para o Canadá quando era adolescente. No dia 26 de setembro de 2002, ao retornar de umas férias com a família na Tunísia, foi preso por autoridades americanas no aeroporto de Kennedy, em Nova York, onde estava em trânsito.

Arar, cidadão canadense, não foi formalmente acusado de nenhum crime. Mas, como nos diz Jane Mayer, em um artigo cativante e profundamente perturbador na atual edição da revista “New Yorker”, ele foi algemado e teve os pés acorrentados por policiais à paisana. Assim, foi transferido para um jato executivo.

Em um instante, Arar mergulhou em um pesadelo cada vez mais comum, cortesia dos Estados Unidos da América. O avião decolou do Kennedy, voou para Washington, continuou para Portland, Maine, e parou em Roma, Itália. Depois, pousou em Amman, na Jordânia.

Qualquer direito que Arar pensasse que tivesse, como cidadão canadense ou apenas como ser humano, foi deixado para trás. Às vezes, durante a viagem, Arar ouviu os pilotos e sua equipe se identificarem em comunicações de rádio como membros da Unidade Especial de Remoção. Ele estava sendo levado, sob ordens do governo dos EUA, para a Síria, onde seria torturado.

O título do artigo de Mayer é “Terceirizando a Tortura”. É um relato detalhado do programa americano assustador e extremamente sigiloso conhecido como rendição extraordinária. Esse é um dos grandes eufemismos de nossa era.

Rendição extraordinária é o nome que se dá quando a polícia detém indivíduos sem sombra de processo legal e os envia para serem interrogados por regimes famosos por praticarem a tortura. Em termos de mau comportamento, está lado a lado com a contratação de assassinos.

Nossos capangas em lugares como Síria, Egito, Marrocos, Uzbequistão e Jordânia estão torturando suspeitos de terrorismo em nome de uma nação – Estados Unidos – que acaba de passar por uma eleição nacional na qual a questão de valores morais foi supostamente decisiva. Como nos tornamos um país onde gays se casarem é considerado uma abominação, mas a tortura é aceitável?

 

(Publicado aqui em 11 de fevereiro de 2005)

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