Fenômeno da Maré Vermelha acende alerta no litoral de São Paulo

São Paulo — Desde o início de janeiro de 2025, extensas manchas vermelhas têm sido observadas no litoral paulista, com destaque para as regiões de São Sebastião e Ilhabela. Esse fenômeno é chamado de Maré Vermelha, e é causado pela alta concentração de Mesodinium rubrum na superfície do mar, um microrganismo que não é tóxico, mas pode impactar o ecossistema marinho.

A presença de Mesodinium em altas quantidades pode causar hipóxia — quando há diminuição de oxigênio na água, podendo levar à morte de peixes. Além disso, ele serve como alimento de um dinoflagelado conhecido como Dinophysis, que produz toxinas perigosas à saúde humana.

O fenômeno está sendo monitorado pelo Laboratório de Instrumentação de Sistemas Aquáticos (LabISA) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com o Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP e o Geospatial Computing for Environmental Research Lab (GCER) da Mississippi State University.

O primeiro registro realizado pelos satélites do Inpe foi feito em 10 de janeiro. No dia 15, a mancha estava presente em dois pontos próximos a São Sebastião e Ilhabela, no litoral norte, ocupando uma grande extensão da costa dias depois. Segundo o Inpe, esses satélites fornecem dados com uma precisão que permite a identificação exata das áreas afetadas.

O governo de São Paulo também está acompanhando o fenômeno através de um grupo de trabalho entre as secretarias de Saúde, Agricultura e Abastecimento e Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, que inclui a Companhia Ambiental do Estado (Cetesb). A companhia informou que a mancha já se dissipou e não há qualquer restrição ao consumo de frutos do mar vindos do litoral paulista.

“Apesar de a grande mancha já ter sumido, recomendamos à população que, ao observar a Maré Vermelha novamente, evite entrar no mar. Algumas pessoas, ao entrarem em contato com o microrganismo, podem apresentar coceira e irritação na pele”, disse a Cetesb em nota.

Em nota ao Metrópoles, a Prefeitura de São Sebastião informou que participou de uma coleta de mexilhões na praia Toque-Toque Grande no dia 4 de janeiro. A análise da água confirmou a predominância do microrganismo Mesodinium rubrum. “A ação integra o Programa Estadual de Sanidade dos Animais Aquáticos (PESAAq) e garante o controle higiêncio-sanitário dos moluscos destinados ao consumo humano”, afirma.

A Maré Vermelha

  • De acordo com as pesquisadores Aurea Ciotti, do Cebimar da USP, e Priscila Lange, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o litoral norte de São Paulo pode receber águas frias durante os meses de primavera e verão, que têm origem das ressurgência costeiras — fenômeno que resulta da ação dos ventos e correntes de águas distantes e profundas em direção à superfície e costa.
  • Essas águas também são ricas em nutrientes, o que proporciona o crescimento de algas marinhas que realizam fotossíntese.
  • “O acumulo elevado de microalgas pigmentadas ocasiona a pigmentação da água, conhecida como Maré Vermelha.”
  • A fonte dessa coloração, segundo as pesquisadoras, é o conjunto de pigmentos que esses organismos possuem em suas células.
Monitoramento é realizado por meio de satélites que permitem localizar a área exata da ocorrência de Maré Vermelha

Neste verão de 2025, foi idenficada a presença não de microalgas, mas de um pequeno protozoário, o Mesodinium rubrum. “Ele é muito interessante pois pode realizar fotossíntese, assim como qualquer planta, e pode também se alimentar de outros seres vivos”, afirmam as pesquisadoras.

Apesar do Mesodinium não ser tóxico, ele é fonte de alimento de um outro organismo, o Dinophysis, que produz uma toxina que pode causar intoxicações em humanos. A intoxicação se dá por meio do consumo de pescados que acumulam esses organismos ao se alimentarem, como os mexilhões.

Histórico do fenômeno

  • No ano de 2016, uma extensa floração tóxica de Dinophysis aconteceu no litoral de São Paulo e Santa Catarina, entre maio e julho.
  • O fenômeno levou ao primeiro embargo comercial na produção e comercialização de ostras e mexilhões por autoridades sanitárias de SP.
  • “No caso do Mesodinium, seu monitoramento pode ser um mecanismo de alerta para as potenciais florações de Dinophysis“, afirmam Aurea e Priscila.
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