Caso Gritzbach: PF aponta elo entre policiais e PCC em diversos crimes

São Paulo — A Polícia Federal (PF) concluiu, no inquérito que investiga o caso Vinícius Gritzbach, delator morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024, que policiais civis paulistas se aliaram ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e criaram esquemas para exigir propina de criminosos em troca da promessa de impunidade.

No relatório final da investigação, obtido pelo Metrópoles, a PF indiciou 14 suspeitos, entre os quais quatro policiais civis, por crimes como extorsões, corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e associação criminosa.

Na lista de indiciados, estão os investigadores que conduziram o inquérito sobre a morte do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, que foi atribuída a Gritzbach. O delator sempre negou o crime. À polícia, ele confessou lavar dinheiro para traficantes e acusou policiais de exigirem R$ 40 milhões em propinas para não indiciá-lo pelo assassinato.

Na peça, a Polícia Federal pediu para que sejam convertidas em preventivas, ou seja, por tempo indeterminado, as prisões temporárias do delegado Fábio Baena e dos policiais civis Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, Eduardo Lopes Monteiro, e Marcelo Marques de Souza, o Bombom. Eles teriam extorquido o delator.

A PF identificou, ainda, uma trama para devolver relógios subtraídos a Gritzbach para tentar acabar com uma investigação sobre o caso na Corregedoria da Polícia Civil.

Com os policiais, foram encontradas mensagens e até planilhas sobre a cobrança de propina de casas de prostituição, bingos, desmanches e outros estabelecimentos clandestinos pelos agentes.

Segundo a PF, “ao longo da investigação, foram angariados elementos que confirmaram a hipótese criminal delineada no início e revelaram que policiais civis do Estado de São Paulo, em conluio com outros integrantes da Orcrim [organização criminosa] vinculados ao PCC, praticaram diversos crimes visando a obtenção de vantagem”.

“O sucesso das empreitadas ilícitas é garantido pelos policiais civis que, com o auxílio de advogados ou de “gansos”, selecionam investigados com alto poderio econômico ou pessoas que atuam à margem da lei para obter tal vantagem (dinheiro, bens etc.) em troca da impunidade”, afirma a PF — ganso é o apelido dado para quem se infiltra em grupos criminosos para passar informações à polícia.

Segundo a PF, “há indícios veementes do envolvimento de integrantes da organização criminosa com o tráfico de drogas”.

“Com vistas a ocultar e dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e a propriedade de bens, direitos e valores provenientes das práticas criminosas, os investigados contam com a participação de familiares e de terceiros, tanto que foram apreendidos veículos e documentos que comprovam tal prática”, destaca a a Polícia Federal.

Por meio de nota, o advogado Daniel Bialski, que defende o delegado Fábio Baena e o investigador Eduardo Monteiro, afirmou que a decisão da PF pelo indiciamento de ambos não analisou “os pedidos de produção de provas formulados pela defesa que desmentiram as ilações e bravatas suscitadas pela citada autoridades”.

Ainda de acordo com o advogado, a decisão foi abusiva e “preferiu indiciar todos os investigados, de maneira genérica, sem qualquer individualização, e sem indícios do cometimento de qualquer crime”. As defesas dos demais citados não foram localizadas pela reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.

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