Fábrica de fake news: o papel dos hackers no plano de golpe de Estado

As investigações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado mostraram esquema de desinformação que visava minar a confiança no processo eleitoral brasileiro e preparar o terreno para uma possível intervenção militar. Segundo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, hackers eram responsáveis pela criação e disseminação de notícias falsas para inflamar a opinião pública.

A quebra do sigilo da delação foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que entendeu que, com a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e mais 33 pessoas, não havia mais necessidade de manter o material em segredo.

O documento detalha como hackers foram recrutados para fraudar informações, atacar instituições e criar um ambiente propício para uma ruptura democrática.

Walter Delgatti

Entre os nomes citados na delação, está o de Walter Delgatti (foto em destaque), hacker conhecido por invadir sistemas da Justiça em 2019 e que, segundo Mauro Cid, foi o único hacker que se encontrou pessoalmente com Bolsonaro. O encontro, intermediado pela deputada Carla Zambelli, ocorreu no Palácio da Alvorada.

De acordo com Cid, Bolsonaro estava interessado em explorar supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas e queria que Delgatti demonstrasse como um hacker poderia invadir o sistema eleitoral. O ex-presidente acreditava que o hacker poderia ter sido o responsável pela invasão dos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018.

Embora Cid tenha dito que não sabe se Delgatti teve participação na elaboração do relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas, ele afirmou que Bolsonaro queria usar as informações do hacker para reforçar a tese de fraude eleitoral e enfraquecer a credibilidade do pleito.

Além disso, há suspeitas de que Delgatti tenha colaborado na falsificação de um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, embora Cid tenha declarado que desconhece essa ligação.

Fake News

A Polícia Federal identificou que a propagação de notícias falsas foi uma das principais estratégias do grupo investigado. Entre as táticas utilizadas estavam:
• Disseminação de informações falsas sobre fraudes nas eleições para descredibilizar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
• Manipulação de dados e criação de narrativas enganosas sobre o sistema eletrônico de votação.
• Ataques direcionados ao STF e ao TSE, promovendo desconfiança sobre as decisões da Justiça.
• Utilização de redes sociais e grupos organizados para inflamar apoiadores, incentivando atos antidemocráticos, como acampamentos em frente a quartéis.

As autoridades afirmam que a atuação desse grupo segue o mesmo padrão do “gabinete do ódio”, estrutura digital bolsonarista especializada em criar e disseminar fake news para influenciar a opinião pública.

A PF também identificou um núcleo militar envolvido nas articulações golpistas, que discutia cenários de intervenção radical caso Bolsonaro fosse derrotado nas eleições. O grupo utilizou as fake news para estimular apoiadores a resistirem e criarem um ambiente de caos, fortalecendo a tese de uma “intervenção constitucional”.

 

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