Coronel questionou Cid sobre comandante que rejeitou golpe: “Cagou?”

O coronel Bernardo Romão Corrêa Netto (foto em destaque), integrante da Cavalaria do Exército e de um grupo que incitava militares a aderirem a um golpe de Estado supostamente encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reagiu com surpresa ao saber que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, não aceitaria integrar o núcleo golpista após a apresentação da minuta golpista.

Em mensagens reveladas após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirar o sigilo das delações do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, Corrêa Netto demonstrou espanto ao descobrir que Gomes, conhecido no meio militar como “CFG” — sigla para Comandante Freire Gomes —, não aderiu ao plano mesmo após a reunião com os comandantes das Forças Armadas no Ministério da Defesa.

A troca de mensagens ocorreu no dia 14 de dezembro de 2022. Em uma delas, Corrêa Netto perguntou a Cid: “CFG cagou?”. O ex-ajudante de ordens respondeu com um simples “sim”, confirmando que Freire Gomes não aceitou participar do golpe.

A minuta golpista foi apresentada pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, que ficou encarregado de apresentar o documento aos comandantes das Forças Armadas. A informação consta na delação premiada de Cid à PF.

Reunião

Segundo Cid, a reunião ocorreu no Ministério da Defesa em 14 de dezembro de 2022, com a presença dos comandantes da Marinha, do Exército e da Força Aérea. O objetivo do encontro era apresentar a minuta, que previa a alteração do resultado das eleições de outubro daquele ano para manter Jair Bolsonaro no poder.

Cid relatou que não estava em Brasília no dia da reunião, mas soube posteriormente que o general Freire Gomes, comandante do Exército, rejeitou a proposta e já havia manifestado anteriormente que não tomaria nenhuma medida fora das “quatro linhas” da Constituição.

Embora não tenha detalhado isso no depoimento, além de Gomes, o comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, se posicionou contra a medida. Já o chefe da Marinha, Almir Garnier, teria demonstrado interesse em apoiar o plano.

O sigilo da delação foi retirado nesta quarta-feira (19/2) por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Na noite anterior, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe e Estado.

General aliado do comandante

Dentro do Exército, o general Estevam Theophilo, quatro estrelas e ex-comandante da área de operações especiais, era considerado leal a Freire Gomes. Segundo Cid, Theophilo foi chamado ao Palácio da Alvorada por Bolsonaro para discutir a minuta do golpe.

Na reunião, realizada em 9 de dezembro de 2022, Bolsonaro teria apresentado o documento, que ainda estava sendo “trabalhado”. Cid afirmou à PF que não participou do encontro, mas soube de seu teor porque o próprio general lhe contou que o objetivo da reunião era tratar da minuta.

O ex-ajudante de ordens relatou ainda que Theophilo incentivou Bolsonaro a assinar o decreto e garantiu que as Forças Armadas cumpririam a decisão. O general também teria demonstrado disposição para integrar o núcleo do golpe, desde que o ex-presidente oficializasse a medida.

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