A vez do fascismo (por Ricardo Guedes) 

Depois do socialismo fracassar, sem ter gerado igualdade e nem liberdade para os cidadãos; depois da democracia entrar em declínio, na expectativa frustrada de que a representatividade política iria gerar a distribuição de renda pela mediação dos grupos; vem aí agora o fascismo, na autocrática quebra das regras sociais, que também há de falhar. E a razão é simples: todos que lá chegam se locupletam e nada fazem.

Impera o capital.

Os grandes intérpretes do fascismo são Hannah Arendt, De Felipe, e George Mosse.

Os termos “fascismo” e “nazismo”, aplicados aos contextos históricos da Itália e da Alemanha dos anos de 1930 e 1940, são denominações de contextos específicos, mas com fortes similaridades com os eventos atuais. Atualmente, alguns autores têm utilizado o termo “populismo” para estes fenômenos, no que prefiro o termo “fascismo”, mais explanatório de suas causas, enquanto o termo “populismo” é mais uma descrição de seus efeitos.

O fenômeno do “fascismo” tem a sua origem na compressão econômica das classes médias, que, desesperadas, na rejeição de propostas à esquerda e questionamento das lideranças institucionalizadas, passam a dar suporte a líderes radicais, contra as elites tradicionais que supostamente lhes representam; na esperança de que o mundo, mais radical, vai lhes dar a estabilidade que anteriormente experimentaram, e que têm que ter para as suas vidas e criação dos filhos. Esganiçam a voz, a má educação, e a violência, que imperam. Seguem a seus novos líderes como se fosse uma cegueira, no caminho indelével do tentar vir a ser.

Os outcomes históricos podem ser diferentes em forma e intensidade, mas o “fascismo” tem sempre três pontos em comum: as decisões autocráticas, um inimigo interno, e um inimigo externo, como base de sustentação, na corrosão da ordem institucional.

A Alemanha “nazista” é o caso clássico desta expressão. O Acordo de Versailles pós Primeira Guerra Mundial impôs pesadas multas à Alemanha, com a Alemanha emitindo papel moeda em 1922 para pagar suas dívidas, gerando a hiperinflação. O Partido Social Democrata, então, declinou, com a ascensão do Partido Nazista, que chegou ao Parlamento em 1933 com 32% dos votos.  O inimigo interno foi atribuído aos “judeus”, e o externo ao “comunismo”. As consequências, todos nós sabemos.

Dados do “World Inequality Report” mostram o declínio na participação do PIB de 1980 para cá pelas classes médias e trabalhadoras, dando suporte a líderes radicais como Bolsonaro, Miley e Trump. Na Europa, as forças extremistas de direita se aglutinam, na orientação do amanhã.

Mas o “fascismo” também falhará. Seus mandantes, em verdade, são somente os representantes do capital, do grande capital, da versão mais extrema, da falta de ideologia, ou ética. O “fascismo” concentrará ainda mais a renda, até a hora em que as hordas enfurecidas que os elegerem se virem contra eles, sem nada mais ter a repor.

Somente má educação “não põe mesa”.

Mas o preço será alto.

 

 

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e Autor

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