OPINIÃO – Violência tem remédio: a omissão do Estado e o avanço do crime

João Moraes – delegado de polícia *

A violência no Brasil não é um fenômeno novo, mas a escalada atual revela um quadro alarmante: o poder formal, representado pelo Estado, segue omisso e fragilizado diante do crescimento do poder real, o crime organizado, que se expande territorial e economicamente, impondo medo e desordem social.

O tempo passou, mas os problemas permanecem. A segurança pública continua refém de interesses políticos e econômicos, com instituições policiais subordinadas ao Executivo, impedidas de agir com independência técnica e estratégia. Policiais vocacionados, que deveriam combater o crime com inteligência, autonomia e excelentes remunerações diferenciadas, que no Pará esperam já há quase 7 anos, são frequentemente desestimulados e substituídos quando ousam contestar orientações equivocadas.

O resultado? Uma insegurança crônica que atinge todas as classes, mas vitimiza principalmente os mais vulneráveis.

A violência, hoje, é alimentada não apenas pelo tráfico de drogas e armas, mas também pelo abandono social. A desigualdade persiste, e com ela crescem os chamados crimes sociais — aqueles cometidos por cidadãos que, empurrados pela falta de oportunidades, perdem o limite entre a sobrevivência e a ilegalidade. O álcool, as drogas e a falta de perspectivas, aliados a um sistema educacional precário e a um sistema de saúde desestruturado, agravam esse cenário.

Não basta reaparelhar as forças policiais. É preciso investir, de fato, na prevenção social, com políticas públicas que garantam acesso à educação, saúde, trabalho e lazer. A segurança pública não pode continuar sendo vista como um problema isolado. Ela é consequência direta da ausência de um projeto social que atenda à maioria da população.

O Brasil precisa de uma mobilização nacional. Um fórum permanente entre comunidades, instituições governamentais e sociedade civil organizada pode ser o primeiro passo para diagnosticar e tratar as raízes dessa violência. O voto consciente, nesse contexto, é a arma mais poderosa do cidadão. Precisamos eleger representantes comprometidos com uma segurança pública eficiente, técnica e livre de ingerências políticas.

A violência tem remédio. E esse remédio passa, necessariamente, pela valorização e independência das polícias, pelo fortalecimento das instituições e, sobretudo, por uma ação política que priorize o bem coletivo, e não interesses particulares. O poder real, representado pelo crime e pela corrupção, só será enfraquecido quando o poder formal recuperar sua autoridade moral e institucional.

O futuro da segurança pública está nas mãos de cada cidadão. O voto comunitário, consciente e responsável, é o único antídoto capaz de frear o avanço da violência e restaurar o verdadeiro poder: o poder do povo.

  • João Moraes é ex-Delegado Geral de Polícia, professor e especialista em Segurança Pública.

The post OPINIÃO – Violência tem remédio: a omissão do Estado e o avanço do crime appeared first on Ver-o-Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.