Inelegível, Evo Morales deixa o MAS e anuncia candidatura

O cenário político boliviano segue conturbado. A polarização não reside no antagonismo comum entre direita e esquerda, mas nas disputas internas do MAS – Movimento ao Socialismo – partido que comanda o país desde 2005, ano da primeira eleição de Evo Morales. Na semana passada, Morales confirmou sua saída da legenda e mesmo impedido pela Justiça, anunciou sua candidatura à Presidência nas eleições de agosto deste ano.

O ex-presidente boliviano vai disputar o pleito pela Frente para a Vitória (FPV) , um partido nanico que ficou em terceiro lugar nas últimas eleições, representado pelo médico, pastor evangélico sul-coreano naturalizado Dr. Chi. Com seu ideário conservador e anti-identitarismo, o “Bolsonaro boliviano”, obteve 1,5% dos votos. Nada mais distante das ideias de Evo.

“Evo Morales é mais uma vez um ator político muito importante, não necessariamente como candidato, embora isso não esteja descartado, mas tem capital político e sem dúvida conseguirá algumas situações que podem ser, primeiro, a fratura do campo de esquerda e segundo a recuperação de seu poder”, disse ao Brasil de Fato, o professor de ciência política da Universidade Mayor de San Andrés Franklin Pareja.

Mais do que um partido para enfrentar a legenda que presidiu por cerca de 25 anos, os desafios de Evo são com a Justiça. Primeiro, a eleitoral. Em 2023 o Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia (TCP) tornou Evo inelegível após anular a reeleição indefinida que permitiu ao líder indígena candidatar-se em 2019. Mas sua vitória  gerou uma crise institucional e o obrigou a renunciar e exilar-se no México.

A segunda, criminal. Morales é acusado de “estupro e tráfico de pessoas” por manter relações com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente. O ex-mandatário foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens para ter a sua disposição. O ex-presidente da Bolívia não compareceu para depor na Delegacia Geral de Polícia de Tarija e sua prisão foi decretada.

Vale lembrar que em junho de 2024, militares tentaram dar um golpe de Estado no país, liderados pelo general Zuñiga. Preso, o general afirmou que a ação foi incentivada pelo presidente Luis Arce, que queria promover um autogolpe para aumentar sua popularidade, sem jamais comprovar suas acusações.

Evo não pode recorrer da decisão da inexigibilidade na Justiça. Dentro do MAS, perdeu a batalha para Luis Arce, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da Bolívia ratificou em novembro a nomeação de Grover García como presidente do Movimento.  Resta fazer barulho para alimentar seu capital político, para quem sabe alcançar algum acordo durante a campanha presidencial.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.