É preciso dar um jeito (por Tânia Fusco) 

Em um bloco de carnaval, no meio da rua, cercado de gente, enfurecido, um jovem joga mochila e outros objetos, mirando o rosto do porta bandeira. A violência deixa estarrecido e paralisado o grupo mais próximo da cena. A festa continuou.

O agredido é Marcelo Rubens Paiva, escritor, cadeirante tetraplégico, filho caçula do ex-deputado Rubens Paiva – assassinado e “desaparecido”, depois de convocado para um depoimento por militares, na ditadura. A história da violência de seu “desaparecimento” faz o enredo do filme Ainda Estou Aqui. O que parece ter sido causa da agressão.

A violência foi registrada sem alarde. Apesar de bem fotografado, o agressor ainda não foi apresentado ao público pela polícia.

Passou batido?

Violência alcança, cada vez mais sem cerimônia, também os mais frágeis – cadeirantes e outros portadores de necessidades especiais, crianças e velhos, de todos os sexos.  Pretos e os LGBTQI+ são vítimas “preferenciais”.

Agressores perderam a vergonha de alcançar qualquer um. Mas têm ostensiva predileção pelos mais fracos. Atitude que, em outros tempos, atendia pelo nome de covardia. Covarde era quem a praticava. Sempre existiram. Um pouco mais acanhados.

Covardes e suas covardias já não causam perplexidades. Covardia não tem mais status de barbárie. Não só no Brasil. Generalizadamente. Do ponto de vista de humanidade, o mundo anda uma grande e amedrontadora porcaria.

Fernanda Torres, protagonista do filme Ainda Estou Aqui, feliz com o sucesso e as premiações do filme, disse: “A vida presta”.  Se Fernanda ou o filme levarem um Oscar teremos um alento nestes tempos bicudos. Às vezes, o mal e os maus não vencem. Vale muito tomar partido, vale denunciar. Há que haver espanto, indignação. Há de haver repúdio à violência – todas as violências.

 

– “Os lugares mais escuros do inferno estão reservados para aqueles que mantêm neutralidade em tempos de crises moral.”  (Dante Alighieri)

 

… É preciso dar um jeito, meu amigo
É preciso dar um jeito, meu amigo
Descansar não adianta
Quando a gente se levanta

Quanta coisa aconteceu…  (Música de Erasmo Carlos. Da trilha sonora do Filme Ainda Estou Aqui)

 

Tânia Fusco é jornalista 

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