Chefe do PCC na Europa fazia negócios e ditava regras em grupos de zap

São Paulo – Com a prisão de um núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável pelas relações internacionais da facção com a Europa, a polícia apreendeu celulares que contribuíram para que as autoridades entendessem a dinâmica de atuação do maior grupo criminoso do país — por meio de conversas e trocas de mensagens.

Reunidos em grupos de interesse, da mesma forma que grande parte dos usuários do WhatsApp, os criminosos mantinham contato com superiores hierárquicos — denominados “Cúpula Maior” e (sintonia) “Geral” — com parceiros próximos de negócios, com o “Grupo Trabalho Vitória 2” e, ainda, para fazer valer as regras disciplinares da facção, com o grupo “Pé Quebrado”.

Paulo Afonso Pereira Alves, o BH, de 26 anos, é apontado pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), como líder da Sintonia Geral da Rua na Espanha.

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Droga apreendida com criminosos
Criminosos usavam mensagens para mostrar despacho de drogas, incluindo com a prova de dia e horário, provados nesse caso com celular em frente à carga
Criminosos dividiam casa na qual confraternizando e coordenavam tráfico internacional
Grupo foi preso no Espírito Santo
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Rato a direita em momento de descontração com aliado

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Droga apreendida com criminosos

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Criminosos usavam mensagens para mostrar despacho de drogas, incluindo com a prova de dia e horário, provados nesse caso com celular em frente à carga

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Criminosos dividiam casa na qual confraternizando e coordenavam tráfico internacional

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Grupo foi preso no Espírito Santo

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Ele despachava drogas para o país europeu por meio do Porto de Vitória, no Espírito Santo, estado onde foi preso com outros comparsas da mesma célula criminosa, em dezembro de 2021, no âmbito da Operação Solis — deflagrada pelo Gaeco para aprofundar investigações sobre o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro do PCC.

Cinco criminosos, incluindo BH, dividiam uma casa na cidade litorânea de Vila Velha, na qual guardavam itens usados para despachar as drogas e onde também confraternizavam e registravam os momentos de parceria por meio de fotos, compartilhadas posteriormente pelo WhatSapp (veja galeria acima).

A mesma tecnologia de troca de mensagens era usada, principalmente, como uma ferramenta de trabalho de BH e seus parceiros de crime, por meio da qual faziam negócios, garantiam o monitoramento e entrega de cargas de cocaína, além de deliberarem sobre situações a serem submetidas pelos “tribunais do crime”, também conhecidos como “tabuleiro”.

Os criminosos agiam em parceria com outros membros da organização no interior e litoral paulista, além de manter braços em Vila Velha e Guarapari, também no Espírito Santo.

Negócio bilionário

Como já revelado pelo Metrópoles, o despacho de cocaína por via marítima rende por ano, ao menos, R$ 10 bilhões para o PCC, somente no Porto de Santos. A organização também despacha toneladas da droga nos portos do Rio de Janeiro, território do Comando Vermelho, além de portos no nordeste.

A facção ganhou o status de maior do Brasil justamente em decorrência do tráfico internacional, cuja Sintonia do Progresso de Países, composta por BH, “se mostra peça essencial para o bom sucesso da empreitada criminosa”, conforme pontua a Promotoria paulista.

Papo com o “padrinho”

Em uma conversa interceptada pelos investigadores, BH conversa com seu “padrinho” Amir José Leite, o Jogador, que foi o responsável pelo “batismo” de Paulo Afonso no PCC. Ambos atualmente estão presos. “[BH] fala que possui chip com conta no WhatsApp Business para usar no ‘grupo lá do comando’, em clara referência à facção PCC”, destaca o MPSP, em relatório obtido pela reportagem.

Usando o grupo de trabalho, BH manda mensagem para o padrinho, em 9 de outubro de 2021, na qual trata sobre a divisão de dinheiro entre membros da facção.

“Sobrou 900 euros aqui […] perfeitamente, contei de quatro a cinco vezes […] se for também de presente pro afilhado irmão, brigadão”.

Seis dias depois, BH envia fotos e vídeo de pacotes de droga, já prensada, questionando se precisaria abrir um deles para “ver a marca”. Os criminosos costumam marcar suas drogas com símbolos, para serem reconhecidas pelos compradores, garantindo assim a procedência do produto.

O grupo de BH pretendia usar um mergulhador para que ele fixasse as cargas, submersas em um navio, que seriam transportadas para a Europa.

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Cocaína submersa

Em troca de mensagem, ocorrida em 5 de novembro, ainda de 2021, um homem identificado como Joaquin Francisco Gimenez, o Pollo, pede para que três parceiros que moram com BH ajudem a “pegar as bolsas”

Os criminosos são: Caio Felippe Ferreira da Silva, de 30 anos, Leonardo de Pádua Barbosa Pulis, o Léo Barba, 31, e Bruno da Silva Alves, o BR, 38. Eles também estão presos, da mesma forma que o sintonia final João Vitor dos Santos, o Rato, 28, mais um morador da casa usada pelo grupo para guardar e despachar drogas à Europa.

Algumas horas depois, BH envia imagens de navios atracados no Porto de Vitória, para que os comparsas se encontrem e viabilizem o transbordo da cocaína. A investigação identificou que um grupo exclusivo de WhatsApp foi criado por Joaquin Francisco, composto pelos envolvidos na alocação de drogas em navios no Espírito Santo.

“Hoje é dia […] indo na marina para dar uma acelerada […] o que depende de mim que é mergulhar e fazer o trampo vai ser feito”, garante o mergulhador.

Já o “Grupo Trabalho Vitória 2” era composto exclusivamente pelos cinco moradores da residência do crime, no bairro Morada do Sol, e pelo padrinho de BH. Nele conversavam somente os membros da Sintonia do Progresso dos Países, deliberando sobre as atividades desenvolvidas nos outros grupos de WhatsApp.

Com base na intensa troca de mensagens, em 7 de dezembro de 2021, foram presos BH, Rato, Léo Barba, BR e Caio Felippe. O padrinho de BH já estava atrás das grades na ocasião.

Com eles, foi encontrada pouco mais de meia tonelada de cocaína pura, material para embalar a droga a vácuo, além de equipamentos de mergulho. Caso chegasse à Europa, a carga poderia render aos criminosos, em cálculo conservador, cerca de R$ 5 milhões.

Todos foram presos em flagrante, denunciados e condenados por associação criminosa e tráfico internacional de drogas. As suas defesas não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.

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