Pesquisadores desenvolvem prótese biônica capaz de sentir o que segura

Mesmo antes de pegar um objeto, você inconscientemente já preparou seus músculos para fazer a força necessária para levantá-lo: embora o formato de um copo vazio ou cheio seja o mesmo, a força que fazemos para levantá-lo é diferente.

Essa sensibilidade, tão cotidiana, é um dos maiores desafios para cientistas que desenvolvem próteses de membros. Como fazer com que as mãos biônicas saibam quando ser mais delicadas ou mais intensas ao tentar recolher um objeto?

Engenheiros da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, parecem ter encontrado uma forma de driblar esse desafio. Um estudo publicado na Science Advances nesta quarta-feira (5/3) revela uma mão biônica que é capaz de sentir os objetos que deve recolher sem preparos prévios.

A mão biônica que simula a adaptabilidade de uma mão humana foi testada para pegar desde brinquedos de pelúcia muito leves até garrafas de água, ajustando a força de preensão para evitar danos.

Tecnologia que imita a natureza

A nova mão biônica combina polímeros flexíveis com um esqueleto interno rígido, impresso em 3D, e três camadas de sensores táteis inspirados na pele humana. Essa estrutura permite não apenas detectar o toque, mas também distinguir texturas e formatos variados.

“O objetivo foi criar uma prótese que funcionasse e parecesse um membro perdido. Queremos oferecer segurança e liberdade para interações cotidianas, como segurar objetos ou até mesmo entes queridos, sem medo de machucá-los”, explica o engenheiro biomédico Sriramana Sankar, que liderou o projeto, em comunicado à imprensa.

Sistema devolve sensação ao usuário

A nova mão biônica utiliza articulações macias cheias de ar controladas por músculos do antebraço, e algoritmos de aprendizado de máquina para traduzir sinais táteis com um feedback sensorial realista. “A informação dos dedos é convertida em linguagem neural, permitindo uma sensação naturalista de agarrar o objeto”, detalha Sankar.

Em testes, a prótese manipulou 15 objetos cotidianos, como esponjas, caixas de papelão e até abacaxis com 99,69% de precisão. Um dos destaques foi segurar um copo de plástico frágil cheio de água sem amassá-lo, usando apenas três dedos.

Um futuro de interações mais naturais

Para os pesquisadores, a prótese pode revolucionar a robótica e a vida de amputados. A tecnologia bioinspirada permite que a mão funcione de forma intuitiva, usando sinais musculares do antebraço para conectar cérebro e nervos.

“Se você segura uma xícara de café, a palma e as pontas dos dedos enviam sinais ao cérebro sobre a possibilidade de escorregar. Nosso sistema faz algo semelhante”, diz o engenheiro biomédico Nitish Thakor, também autor do estudo. A prótese pode distinguir entre quente e frio, macio e duro, ou até detectar quando um objeto está escapando da pegada.

Embora o avanço seja significativo, os pesquisadores destacam que mais trabalho é necessário para refinar o sistema. Melhorias futuras podem incluir maior força de preensão, sensores adicionais e materiais mais duráveis. “Essa destreza híbrida é essencial não apenas para próteses, mas também para robôs que precisam manipular objetos delicados, como vidro ou tecido”, afirmou Thakor.

A mão biônica representa um novo capítulo na robótica, combinando estruturas macias e rígidas para imitar a anatomia humana. “É um passo importante para próteses de próxima geração e para robôs que interagem com o mundo de forma mais natural”, conclui Thakor.

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