Em Abaetetuba, PM atira no rosto e mata homem em motocicleta

Na madrugada de ontem, 5, por volta das 04h30, a Polícia Civil de Abaetetuba, município localizado na região do Baixo-Tocantins, foi chamada para atender a uma ocorrência de homicídio na rua Barão do Rio Branco, no bairro São João. Segundo as investigações preliminares, o policial militar Manoel Lobato dos Santos Junior abordou duas pessoas que estavam em uma motocicleta: Miguel dos Santos da Cruz, o condutor, e Manoel Bitencourt Barbosa, o passageiro.

Segundo narra o registro policial, durante a abordagem, o PM, de forma provocativa, questionou: “não é vocês que são os brabos?”, ao que Manoel Bitencourt respondeu: “mais quando mano, não é mais nós?”.

Em resposta, o policial efetuou um disparo, atingindo de raspão a cabeça de Manoel Bitencourt, que conseguiu se refugiar atrás de uma árvore. Nesse momento, Miguel dos Santos tentou apaziguar a situação, dizendo: “poxa cara, nós é do mesmo bairro”. No entanto, o policial, sem qualquer justificativa, disparou duas vezes contra Miguel, atingindo seu rosto e causando sua morte instantânea.

Após o ocorrido, o PM se dirigiu à delegacia, alegando que os disparos haviam sido feitos contra indivíduos que supostamente estariam tentando furtar sua residência. Contudo, no momento de seu depoimento, ele exerceu seu direito constitucional de permanecer em silêncio. Paralelamente, a equipe da Polícia Civil, que estava no local do crime, retornou à delegacia e confirmou que o policial havia sido o responsável pelo homicídio.

Manoel Lobato foi preso em flagrante e será encaminhado ao sistema prisional. A Polícia Científica foi acionada para realizar a perícia no local do crime e na arma apreendida. A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias e apurar a motivação do crime.

De acordo com informações de moradores, o PM teria protagonizado outra cena de violência, ao atirar contra um cachorro, havendo ainda suposta ligação dele com milícias da região, o que teria motivado uma investigação. O Ver-o-Fato tenta contato com a defesa do policial. O espaço está aberto à manifestação do advogado do militar.

Pará violento

Este tipo de crime é um reflexo alarmante de uma violência estrutural que se alimenta de diversos fatores no Pará, e especialmente em Abaetetuba. A violência policial, que muitas vezes transita entre abuso de autoridade e execuções sumárias, tem raízes profundas em uma cultura de impunidade, falta de fiscalização e uma formação deficiente no controle do uso da força.

A atitude por parte de alguns agentes de segurança pública reflete uma falha sistêmica no sistema de justiça e no próprio treinamento dos profissionais que, teoricamente, deveriam garantir a ordem e proteger a população.

No contexto do Pará, um estado com altos índices de violência e conflitos sociais, essa violência se alimenta de uma série de problemas históricos e contemporâneos. A desigualdade social e a exclusão de muitas comunidades, em especial aquelas em áreas periféricas e mais vulneráveis, contribuem para um ciclo de desconfiança entre a população e as instituições públicas.

O fato de um policial militar agir de forma tão impune e sem remorso, disparando contra cidadãos sem justificativa plausível, é um sintoma claro da normalização da violência em muitos setores da segurança pública.

A violência se retroalimenta nesse ciclo, pois gera mais violência. O medo, a falta de confiança nas autoridades e o sentimento de impotência nas comunidades acabam por reforçar um ciclo de violência policial contra a população, ao mesmo tempo que a violência de grupos criminosos ou facções continua a crescer. Esse ciclo nunca resolve a raiz do problema — a desigualdade, a exclusão e a falta de oportunidades.

Infelizmente, a impunidade é um dos maiores aliados dessa violência, já que, na prática, muitos desses crimes ficam impunes ou são minimizados. A dificuldade de se fazer justiça em casos envolvendo policiais alimenta o sentimento de que a violência não tem consequências, tornando cada vez mais difícil combater de forma eficaz a violência estrutural que assola o estado.

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