Tarcísio turbina fundo gerido pela 1ª dama, que se projeta nas redes

São Paulo — Com a aproximação das eleições de 2026 e as incertezas sobre a disputa eleitoral, a esposa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Cristiane Freitas, começa a assumir um novo papel na gestão do marido.

À frente do Fundo Social São Paulo, Cristiane está administrando um orçamento que é superior ao de duas secretarias do estado (Mulher e Pessoa com Deficiência). Este ano, seu orçamento teve um salto de 240% (saindo de R$ 80,8 milhões para R$ 276 milhões), um crescimento superior ao de qualquer outra pasta.

Com dinheiro em caixa, Cristiane aumentou sua participação em agendas oficiais e tem executado projetos de visibilidade eleitoral. Além disso, tem registrado esses feitos nas redes sociais, onde aumentou a frequência e mudou o estilo das postagens, distanciando-se do perfil extremamente reservado e discreto dos primeiros anos de gestão.

Fortalecer Cristiane para “humanizar” Tarcísio

A mudança no comportamento e nas aparições da primeira-dama é notada por pessoas próximas ao casal. Para a deputada federal e presidente do PL Mulher, Rosana Valle, Cristiane “está se soltando” depois dos primeiros anos no Palácio dos Bandeirantes. “Eles são pessoas simples, é normal que ela tenha ficado mais contida no início”, disse.

Isso não indica, contudo, que Cristiane tenha ambições políticas próprias, algo improvável para quem a conhece. A análise mais levantada é de que o desempenho da primeira-dama ajuda a mostrar “um lado mais humano” de Tarcísio de Freitas, além de “aproximá-lo das pessoas” e amenizar a imagem de engenheiro e militar.

Essa estratégia já foi explorada no auge da Operação Verão de 2024, quando a gestão foi colocada à prova por sua política de segurança pública. À época, enquanto repercutiam as mortes de civis por policias militares na Baixada Santista, o governador, que não tinha o hábito de publicar imagens de sua família, compartilhou uma foto com a esposa e os dois filhos em suas redes sociais.

Ao lado de Cristiane, Tarcísio se mostra outra pessoa. O perfil sério e as falas técnicas são trocadas pelo choro fácil e as menções a Deus.

“É você, Cris, que sempre cuidou da nossa família. E eu não estaria aqui se não fosse por você. Todos os passos que eu dei na minha vida, você estava lá. Porque eu sabia que se eu fracassasse, você ia me amar do mesmo jeito”, disse o governador às lágrimas para um público de mais de 300 pessoas, incluindo secretários e parlamentares, durante o evento em que a primeira-dama ganhou o título de cidadã paulistana na Câmara Municipal de São Paulo, na sexta-feira (7/3).

Vitrine de Cristiane

Faz parte desse processo de projeção de Cristiane a construção das chamadas Praças de Cidadania, programa que prevê a instalação de um complexo com quadras e centro de qualificação profissional em lugares de vulnerabilidade social no interior do estado.

O projeto existe desde 2020, quando Bia Doria, esposa de João Doria (PSDB), estava à frente do Fundo Social São Paulo. Mas, com a família Freitas, está sendo impulsionado e usado como vitrine.

Desde 2023, a primeira-dama inaugurou quatro complexos do tipo nas cidades de Itapevi, Hortolândia, Mauá e Mogi das Cruzes com a presença do governador. Na última delas, aberta em fevereiro deste ano, o evento de abertura em Mogi contou com posts tanto no perfil da primeira-dama quanto no de Tarcísio (veja vídeo abaixo).

As chamadas “Praças” impulsionaram o aumento no orçamento do fundo. No ano passado, havia uma destinação de R$ 1 milhão para o projeto. Este ano, esse valor passou para R$ 85 milhões, com a promessa de que serão inauguradas outras 12 unidades até o fim de 2026.

O que diz o governo do estado

Procurado pelo Metrópoles a respeito do salto em seu orçamento este ano, o Fundo Social São Paulo enviou uma nota dizendo que “o aumento no orçamento previsto para 2025 tem como objetivo fortalecer as políticas de capacitação profissional e ampliar a inserção de pessoas no mercado de trabalho, além da ampliação de ações de ajuda humanitária”.

De acordo com o texto, “o aumento do orçamento reflete a ampliação das ações sociais do Estado de São Paulo, atendendo tanto a demandas estruturais, como a construção de equipamentos públicos, quanto emergenciais, como o suporte a famílias afetadas por crises e desastres. Os recursos serão direcionados para políticas públicas de assistência e inclusão produtiva, beneficiando diretamente a população mais vulnerável”.