PARÁ – Agressão a pauladas: mendigo é atacado por moradores de rua

Um caso revoltante de violência explodiu nas ruas de Santa Maria do Pará, município do nordeste paraense, expondo, na terça-feira, as entranhas de uma crise social que mistura miséria, vício e abandono. Na noite do crime, três indivíduos em situação de rua, armados com um pedaço de madeira, atacaram brutalmente um mendigo conhecido como “Ceará”, também morador das ruas.

O golpe, desferido com selvageria na cabeça da vítima, deixou-a caída e sangrando às margens da BR-010 (Belém-Brasília), em uma cena que chocou quem passava pelo local. O que se viu ali não foi apenas um ato isolado de agressão, mas o reflexo de uma tragédia maior: a ausência de políticas públicas para os vulneráveis, o peso do vício em drogas ou álcool e a rejeição familiar que empurra tantos para as ruas – ou, em alguns casos, a escolha de abandonar tudo por um destino incerto.

A Guarda Municipal da Polícia Militar (GU PM), em ronda pela região, foi acionada por denúncia e chegou ao local rapidamente. Uma aglomeração de curiosos já cercava “Ceará”, que jazia no chão, gravemente ferido. Os agressores – dois homens e uma mulher, todos moradores de rua – fugiram, mas populares indicaram à GU PM o rumo que tomaram.

Reação e prisões

Sem perder tempo, os agentes iniciaram uma busca e localizaram os suspeitos na esquina da avenida Santa Maria com a rua Vicente Fernandes. O encontro, porém, não foi pacífico: visivelmente alterados, com claros sinais de embriaguez, os acusados reagiram com agressividade. Foi preciso reforço da viatura 4210 PMF e o uso progressivo da força, incluindo algemas, para contê-los e efetuar a prisão.

Enquanto isso, “Ceará” foi socorrido por uma ambulância e levado ao Hospital da Ordem Terceira, sendo depois transferido para a UPA de Castanhal. O diagnóstico médico confirmou a gravidade do ataque: traumatismo craniano, uma lesão que coloca sua vida em risco e sublinha a intenção homicida dos agressores. Já os acusados, junto a uma testemunha, foram conduzidos à Delegacia de Polícia (DEPOL), onde foram autuados em flagrante por tentativa de homicídio.

Esse episódio infame é mais do que uma notícia policial – é um grito abafado de uma população esquecida. A violência entre os próprios moradores de rua revela o desespero de quem vive à margem, onde a luta pela sobrevivência muitas vezes se transforma em barbárie. O vício, seja em álcool ou drogas, parece ter sido o estopim, mas as raízes são mais profundas: a miséria que corrói, a falta de assistência do poder público e o abandono familiar que condena tantos a essa existência invisível.

“Ceará” é uma vítima, mas também um símbolo de tantos outros que, rejeitados ou por escolha própria, vagam pelas ruas sem perspectiva. Até quando casos como esse serão apenas manchetes passageiras, sem provocar uma resposta real à tragédia social que os alimenta? Santa Maria do Pará, como tantas outras cidades, carrega o peso dessa pergunta sem resposta.

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