PF investiga mais duas empresas de ônibus de SP por elo com PCC

São Paulo — Uma investigação da Polícia Federal do Paraná investiga duas empresas de ônibus da rede de transporte coletivo de São Paulo por envolvimento com integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). As empresas Movebuss e Transunião são citadas no inquérito da Operação Mafiusi, que apura a relação entre a facção criminosa e máfia italiana ‘Ndrangheta.

Em janeiro deste ano, a Prefeitura de São Paulo decidiu romper os contratos das empresas de ônibus Transwolff e UpBus, também investigadas por suposto elo com a facção.

A Movebuss atende a área 5 de São Paulo com uma frota de mais de 630 veículos, transportando diariamente cerca de 430 mil pessoas. A empresa é investigada por ligação com Patricia Soriano, irmã de Roberto Siriano, conhecido como “Tiriça” no PCC, apontado como segundo no escalão da facção. Além disso, Patrícia é viúva de Edmilson de Menezes, o “Grilo”. Ele morreu atropelado em outubro de 2024 enquanto peregrinava na Via Dutra (BR-116), em Santa Isabel, no interior de São Paulo.

De acordo com a investigação, Patricia recebeu o valor de R$ 227.918,38 da Movebuss. “O que é notável é que os depósitos ocorrem de forma fragmentada, com dois depósitos no mesmo dia e seis depósitos por mês, ocorrendo mensalmente desde 2020 até o último depósito registrado em 10/10/2022”, declara o inquérito da PF.

Além disso, Patricia omite em suas declarações de renda o recebimento desses valores, tanto como pessoa física quanto como pessoa jurídica. A PF também analisou os perfis das redes sociais das filhas dela, onde é ostentado alto e luxuoso padrão de vida. “É possível inferir que o padrão de vida apresentado é incomparável com a renda declarada”, concluiu a investigação.

A PF ainda destaca que a Movebuss participou da maior licitação de transportes do país lançada pela Prefeitura de São Paulo, que somou R$ 71,14 bilhões em contratos.

A Transunião atua nos bairros da zona leste de São Paulo, em 35 linhas. A empresa é investigada por envolvimento com Jair Ramos de Freitas, conhecido como “Jair Cachorrão” na facção. Ele foi preso em uma operação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) em 2022, que investigava a morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da Transunião, mas foi solto um mês depois. A Operação Proditor investigava homicídio, organização criminosa e lavagem de dinheiro do PCC a partir da Transunião e da UpBus.

Jair Ramos de Freitas recebeu mais de R$ 8,1 milhões da Transunião, sem notas fiscais envolvidas nas transações. O que chama a atenção da PF é que, entre 2020 e 2021, a receita de Freitas aumentou 1.149,8%, passando de pouco mais de R$ 203 mil para R$2,5 milhões. Para esse montante, só existem R$1,1 milhão relacionado às notas fiscais de venda de veículos e produtos associados.

Além disso, Jair Cachorrão fez movimentações financeiras, tanto como pessoa física quanto jurídica, somadas em mais de R$ 32,7 milhões entre 2020 e 2022.

“Considerando todos os indícios apresentados em relação a Jair Ramos de Freitas e sua empresa, é plausível inferir que se trata de uma estrutura utilizada para fins de lavagem de dinheiro ou como conta de passagem para pagamentos relacionados ao crime organizado”, concluiu a PF.

O que dizem os envolvidos

Em nota, a Movebuss informou que a empresa de Patricia Soriano presta serviços de locação de veículos a Movebuss, e que ela “tem vínculos familiares com suposto integrante de facção criminosa”.

“Os valores de R$ 227 mil que foram transferidos para a empresa locadora de veículos desta pessoa dizem respeito a locação de veículos por período de 34 meses entre 2020 e 2022. Tais valores foram sendo transferidos mês a mês a título de pagamento da prestação de serviços de locação. Os pagamentos foram realizados de forma fracionada dentro de cada mês e em três parcelas. Todos os valores estão descritos com nota fiscal hábil e correta, que estão registrados em todos os documentos fiscais e contábeis da Movebuss”, argumentou a empresa.

“A Movebuss possui política rígida de compliance e periodicamente solicita certidões de antecedentes criminais e outros assuntos a seus prestadores de serviços. No caso específico nunca nada foi identificado que trouxesse algum apontamento positivo nestas certidões. Por conta disso não tínhamos conhecimento dos fatos”, afirmou em relação ao contrato de prestação de serviço.

“Estamos tranquilos e serenos aguardando que qualquer órgão de polícia ou justiça solicite algum esclarecimento ou documentação. Nossa posição é de sempre colaborar com qualquer esclarecimento e com os órgãos competentes.”

O Metrópoles procurou a Transunião em busca de um posicionamento, mas não houve retorno. A reportagem também procurou Patricia Soriano e Jair Ramos de Freitas e aguarda resposta. O espaço está aberto para manifestação.

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