Mercado estressado com declarações de Lula: qual a estratégia por trás da postura do presidente?

Depois de uma sequência de altas, o dólar voltou a cair nessa quarta-feira, 3. A moeda americana fechou o dia recuando 1,71%, cotada em R$ 5,56. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira encerrou em alta de 0,70%, aos 125.662 pontos. Uma possível explicação para este movimento está num pedido público do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que alertou o próprio governo sobre a necessidade de ajustes na comunicação. Não parece coincidência a declaração de hoje do presidente Lula: “responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso”.

Interferência no câmbio pelo Banco Central

O discurso se opõe às últimas manifestações do presidente que deixaram o mercado bastante estressado. Lula chegou a dizer que o real estaria sendo alvo de um ataque “especulativo” e que estava analisando o que o governo poderia fazer a respeito. Parte do mercado interpretou como um sinal que medidas seriam tomadas para controlar o câmbio.

Lula também fez críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como na última segunda-feira: “O que você não pode é ter um Banco Central que não está combinando adequadamente com aquilo que é o desejo da nação. Não precisamos ter política de juro alto neste momento, a taxa Selic a 10,5% está exagerada”, declarou o presidente da República.

Para Mário Goulart, analista CNPI e criador do canal do Analisto, essas falas de Lula causam um stress desnecessário no mercado. “O primeiro sinal é o dólar em disparada. Mas isso não mudar vai acarretar em mais inflação e perda do poder de compra da população”. Ele pondera que pode haver uma estratégia eleitoral na postura do presidente: “Lula fala para o eleitor dele, que num primeiro momento fica satisfeito. porem no futuro podemos ter como consequência os preços mais altos que também vai afetar todos os brasileiros, principalmente os mais pobres”, alerta Goulart.

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O analista Mário Goulart

O economista Roberto Dumas, professor do INSPER e da FIA Business School (Profuturo), comentarista da BM&C News afirma que que possíveis intervenções do Banco Central no câmbio não são unânimes, mas alerta sobre o estresse gerado com as críticas do presidente Lula. “Os comentários de Lula em relação ao Bacen agradam apenas a aqueles que demonstram dificuldades de sinapses neurais simples, ou desonestidade intelectual mesmo. Pois assim estava escrito no estatuto deles, empoeirado com resquícios do antigo Muro de Berlim”, pondera em artigo.

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O economista Roberto Dumas

Para Roberto Dumas, o chefe do executivo da sinais bem claros que gostaria de exterminar a autonomia do Bacen, afirmando que com um novo presidente da autarquia, a taxa de juro Selic cairá mais. “Vamos assumir que o risco Brasil ou fiscal aumentou, por isso os agentes financeiros buscam se refugiar no dólar. Nesse caso cabe mais uma pergunta: o que será que faria esses recursos, assumindo uma deterioração dos fundamentos econômicos, ficarem no país? Será que intervenções esterilizadas, que ao final acabam mantendo o retorno dos títulos constantes seriam suficientes em um cenário de maior risco?”, questiona o economista.

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