O que é o bandoneon, instrumento musical regional, e a história de Roberto Carlos Maske, tocador há mais 40 anos

Capa: Roberto Carlos Maske em 11 de maio de 2023, no lançamento do livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura”, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Florianópolis e em 10 de outubro de 1984, com seu amigo Sandro Römig, também tocador do instrumento até os dias atuais. Na ocasião a dupla tocava no aniversário do prefeito de Pomerode Eugenio Zimmer.

O bandoneon é um dos instrumentos que estavam na bagagem dos pioneiros da região da antiga Colônia Blumenau, além dos sopros. Foi inventado na mesma época na qual foi fundada a Colônia Blumenau. O instrumento é originário de uma região junto ao Mar Báltico, atualmente, Norte da Alemanha.

Em 2013 escrevemos de maneira resumida sobre a história da Harmônica/Gaita/Bandoneon e hoje retornamos ao assunto movidos pela história de um tocador de bandoneon regional, que começou a tocar o instrumento quando ainda era um menino de 11 anos, há mais de 40 anos. Quando mencionamos esta história, reportamo-nos ao pomerodense Roberto Carlos Maske.

Harmônico Alemão.

Entre as variantes da origem do bandoneon, há uma que é conhecida como harmônico alemão ou um acordeom alemão, fabricados no século XIX.
O mais antigo harmônico alemão foi construído por Heinrich Wagner, que estudou em Viena com seu irmão Joseph Resch, onde teve contato contato com harmônicas de boca e de mão, então existente (não por muito mais tempo). Sua invenção era de origem chinesa no momento que desejaram construir um órgão portátil naquele país. Em 1836, Wagner foi vendedor destes instrumentos musicais, construídos por seu irmão, em Viena. Após algum tempo, ele próprio começou a construí-los na Alemanha.

Não demorou muito, pessoas de Viena vieram trabalhar na sua fabrica, que possuía aprendizes e funcionários, somando, em 1852, cerca de 100 funcionários e em 1867, 380 funcionários. Em 1890 a empresa foi dissolvida e a marca foi encampada pela Buttstädt.

O bandoneon é uma harmônica inventada por Wagner, na Alemanha. Este tipo de harmônica foi um aperfeiçoamento de um brinquedo sextavado construído para as crianças brincarem. O brinquedo recebeu melhorias. Também foi fabricado na Inglaterra por Charles Wheatstone que o transformou em concertina octogonal e depois, hexagonal. O som do bandoneon é criado através de palhetas de metal com balanço livre.

A história da evolução do instrumento aconteceu na Áustria, Inglaterra e na Alemanha e pode-se afirmar que sua criação, propriamente dita, passou por três períodos, que são: a criação da concertina, a criação do bandoneon e a fabricação do bandoneon. Como isso aconteceu?

O nome bandoneon ou bandonion remonta a Heinrich Band de Krefeld, que (como outros) estendeu a concertina para que fosse possível tocar todas as teclas.
A evolução desse processo teve início em 1834, quando Carl Friedrich Uhlig criou a concertina com caixas sonoras quadradas e com maior extensão musical.

Em 1840 apresentou um novo modelo com quatorze botões de cada lado e 56 tons. Nesse mesmo ano Heinrich Band, a partir da concertina de Uhlig, criou seus primeiros instrumentos com 56, 64 e posteriormente os 88 tons, chamando-os de bandoneon.

Em 1851, Carl Zimmermann também apresentou os instrumentos baseados naqueles criados por Uhlig, e os denominou Carlsfelder Koncertina, que posteriormente também passaram a ser chamados de bandoneon, em Krefeld.

Concertina Lachenal Vauderville inglesa. Dotada da capacidade de efeitos percussionistas.
Concertina.
Bandoneon Alfred Arnold, 1938 de Roberto Carlos Maske.
Roland Vogel – Blumenau SC.

O bandoneon foi inventado depois do acordeom. Surgiu como evolução da concertina alemã, o mesmo instrumento trazido pelos imigrantes oriundos do Norte da Alemanha para a Colônia Blumenau e outras colônias alemãs espalhadas pelo Brasil, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo. No Brasil há uma pequena confusão entre as denominações dos diferentes instrumentos.

Mesmo sendo o bandoneon uma evolução da concertina, ambos os instrumentos continuaram sendo produzidos. No Brasil, a concertina, segue preservada entre os imigrantes e descendentes de alemães no Espírito Santo. Entre os pomeranos/prussianos que vieram para Santa Catarina, região da Colônia Blumenau, e Rio Grande do Sul, é mais popular o uso como bandoneon. Na Argentina e Uruguai, popularizou-se e foi adotado para outras linguagens musicais – locais, como o tango. O bandoneon é o principal instrumento musical no grupo que toca tango.

Um dos nomes consagrados do bandoneon regional é o do Roberto Carlos Maske, residente em Pomerode.

Roberto Carlos Masque com o compositor alemão (autor da famosa marcha Bömischer Traum) Norbert Gälle e de Alexandra Gälle, sua esposa, em um dos desfiles oficiais da 40ª Festa Pomerana, 24 de janeiro de 2025.

Músico Roberto Carlos Maske

Maske e seu bandoneon na Oktoberfest Blumenau 2016, tocando na banda de Ingo Penz, Choppmotorrad.
Encontro de Grupos Folclóricos, em Pomerode – janeiro de 2020 tocando no G.F Alpino Germânico.
Pai da avó paterna de Maske.

O pomerodense Roberto Carlos Maske é uma das personalidades musicais da região, que toca um bandoneon alemão Alfred Arnold de 1938. Toca e canta sua música sem fazer muito “barulho” e de “maneira silenciosa”, com um sorriso permanente no rosto.
Seus pais foram Arno Maske (1928-2007) e Loni (solteira Dallmann) Maske (1933- 2020). Arno foi filho do blumenauense August Maske (1893 – 1976) e de Wilhelmine Emilie Caroline Schwartz (1895 – 1962). A mãe de August Maske, Auguste Louise Mathilde (Kamke) Maske (1861 – 1945) era natural de Pomerania sob o domínio da Prússia no Distrito de Belgard (em alemão: Landkreis Belgard, Kreis Belgard) que existiu como distrito da Pomerania entre os anos de 1818 e 1945. O Distrito de Belgard pertenceu, sucessivamente, à Prússia, ao Império Alemão, à República de Weimar e ao Terceiro Reich. O pai de Arno, August Maske, avô de Roberto Carlos Maske, foi neto do imigrante pomerano, Ferdinando Maske e seu pai foi Carl Maske (1871 – 1925).

Avô de Roberto Carlos Maske. Pai de Arno Maske.

Roberto Carlos Maske, nascido em Pomerode em 23 de julho de 1973, pertence à 5ª geração de uma das famílias pioneiras que chegaram à Colônia Blumenau e com ele, também a música, importante no seio da cultura dos pioneiros que construíram as cidades na região. Deixaram as famílias de suas famílias nestas muitas cidades.
Já registramos Roberto Carlos tocando em várias bandas da região, bem como na Banda Choppmotorrad, no Grupo Vocal Pommern Sänger de Pomerode, na Banda Municipal “Die Originalen Rega Bläeser” de Pomerode, e no G.F. Alpino Germânico. Já registramos Roberto Carlos Maske no vocal e tocando outros instrumentos além do bandoneon, como acordeom, teclado, violino, lira e tímpanos. Em um destes momentos, durante o nosso registro de sua música, sanamos nossa curiosidade e perguntamos, como tudo isso começou e ele falou para nossa lente – registrado para a História.

Acervo: Roberto Carlos Maske.

Roberto nos contou que começou a tocar bandoneon com 11 anos de idade incentivado pelas aulas de música de seu pai Arno a outro menino, Sandro Römig, iniciadas em setembro de 1984. O bandoneon é considerado um instrumento difícil de aprender e ambos aprenderam a tocar com o pai de Roberto, Arno Maske (1928–2007). A dificuldade está em memorizar os quatro sistemas diferentes, puxão e pressão da mão direita, puxão e pressão da mão esquerda. Leva algum tempo para aprender isso. O som final apresenta a melodia de harmônicos, da flauta piccolo ao violino, do clarinete ao contrabaixo.
Arno Maske (1928–2007), por sua vez, aprendeu a tocar o instrumento na localidade de Garibaldi, Jaraguá do Sul, prestando serviços na propriedade de seu “professor ” de música, Richard Schweder (1912-1996). O acerto se deu por meio do escambo, com trocas, sem a presença do dinheiro, mas da força de trabalho pelo aprendizado musical. A primeira apresentação oficial de Arno Maske (1928–2007) aconteceu na companhia de seu irmão Bruno Maske (1919–1993) na bateria, no evento do casamento do filho de Richard Schweder(1912-1996), seu “professor” de música.

Primeira apresentação pública do pai de Roberto Carlos Maske, Arno Maske. Aconteceu em 13 de outubro de 1951, nas festividades do casamento do filho de seu professor Richard Schweder. Acervo de Roberto Carlos Maske.

Como mencionado, Roberto Carlos Maske aprendeu a tocar bandoneon junto com Sandro Römig, outro menino natural de Pomerode. Poucos tocavam o instrumento nesta época, na região. Não havia uma renovação e o instrumento era considerado “coisa de velho”, de acordo com o depoimento de Roberto. Em um determinado dia, em 1984, Arno Maske externou seu desejo de ensinar um menino a tocar o bandoneon e repassar seu conhecimento musical. Alguém ouviu o que ele disse. Ingo Römig (1945 – 2008), pai de Sandro Römig decidiu que seu filho seria o aprendiz de Arno Maske e o levou até a residência dos Maskes. Assim que o menino Sandro Römig começou a estudar e a dominar um pouco os botões do bandoneon, o pequeno Roberto Carlos Maske chegou ao seu pai e disse-lhe: “Eu também quero aprender isso”, selando seu destino musical. Os dois começaram praticamente juntos, a aprender a tocar bandoneon em setembro de 1984. Sandro e Roberto aprenderam a tocar duas músicas nas primeiras aulas.
Em 10 de outubro deste mesmo ano, 1984, o então prefeito de Pomerode Eugen Zimmer comemorou seu aniversário. A mãe do Sandro Römig trabalhava na residência Zimmer e a família foi convidada para o evento do aniversário do prefeito que aconteceu no restaurante Pommerhaus. O pai de Sandro Römig decidiu levar os meninos para tocar uma música no bandoneon para o aniversariante. O prefeito Eugen Zimmer ficou tão satisfeito com o que viu e ouviu, que imediatamente afirmou: “Vocês vão para o desfile da Oktoberfest”, que era o primeiro Desfile Oficial da Oktoberfest Blumenau, na sua primeira edição, em 1984, há mais de 40 anos. E assim aconteceu.

Sandro e Roberto apresentando uma música no bandoneon no aniversário de Eugen Zimmer, prefeito de Pomerode em 1984. Acervo Roberto Carlos Maske.

Eugen Zimmer, foi o responsável pela participação da dupla de garotos Roberto Carlos Maske e Sandro Römig no histórico primeiro desfile oficial da Oktoberfest Blumenau 1984. Também, foi Zimmer quem convidou o grupo folclórico de Blumenau que se apresentava no Restaurante Frohsinn, Alpino Germânico para ensaiar e fixar sua sede em Pomerode para representar a cidade em eventos culturais.

A dupla Roberto Carlos Maske e Sandro Römig gravaram um disco em 1986, cuja fotografia foi enviada para nós por Fábio Luíz Bürger.

Disco de 1986 – a dupla Roberto Carlos Maske e Sandro Römig.
Acervo: Roberto Carlos Maske.
Acervo: Roberto Carlos Maske.
Acervo: Roberto Carlos Maske.

Entrevista informal, concedida por Maske a nós

Momentos do músico nos últimos 10 anos:

Na Banda Choppmotorrad, 16 de outubro de 2018, Oktoberfest Blumenau.
Na Banda Municipal “Die Originalen Rega Bläeser” – 2016, Aniversário do Alpino Germânico, Pomerode.
Na Banda Choppmotorrad, Stammtisch, Blumenau, 2018.
Na Banda Choppmotorrad, Stammtisch, Blumenau, 2018.
Grupo Vocal Pommern Sänger, Pomerode, 22 de janeiro de 2019. Festa Pomerana, Pomerode.
Na Banda Municipal “Die Originalen Rega Bläeser” – 2019, 20ºAniversário da banda municipal.
Na Banda Municipal “Die Originalen Rega Bläeser” – 2019, 20ºAniversário da banda municipal.
Na Banda Municipal “Die Originalen Rega Bläeser” – 2019, C.C. 25 de Julho de Blumenau, Blumenau.
G.F Alpino Germânico, encontro de Grupos Folclóricos, 2020, Pomerode.
Na Banda Choppmotorrad, Festa Pomerana 2020, Pomerode, 2020.

Em dupla, na Festa Pomerana 2023, Pomerode.
Com o G.F Alpino Germânico, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Lançamento do livro: “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * em maio de 2023.
Com o G.F Alpino Germânico, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Lançamento do livro: “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * em maio de 2023.

A seguir um registro em vídeo de um dos momentos da 39ª Festa Pomerana – Edição 2023, noite de 14 de janeiro de 2023.
Roberto Carlos Maske tocou acompanhado de Anna Letícia Schulze e cantou Das Kufsteiner Lied, uma das canções mais populares e cantadas nos países de língua alemã, composta pelo tirolês Karl Ganzer, em 1947 e gravada pelo cantor bávaro e de JodelFranzl Lang, em 1968.

Umas das muitas personalidades da região da antiga Colônia Blumenau que não é encontrada nos livros de história.

Um Registro Para a História!

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)

Referência

  • Jornal Testo Notícias. Curiosidades Históricas – Os Meninos Pomeranos (como tudo começou…). Pomerode, 26 de julho de 2019.

 

 

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