Voar sem asas (por Tânia Fusco)

Respeito e admiração para elas que levaram o Brasil ao pódio, com a medalha de bronze do terceiro lugar de equipe na Ginástica Artística, em Paris. Apesar do Brasil, voando alto, venceram pelo Brasil.

Cinco mulheres ainda um pouco meninas – Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira – foram ao mesmo tempo atletas e torcidas umas das outras.

À frente delas só duas equipes – em primeiro, medalha de ouro, USA, que tem a gigante Simone Biles no grupo; em segundo, a Itália, respeitadíssima, medalha de prata.

Nossas meninas são heroínas porque trabalhadoras valentes, esforçadas no desenvolvimento de sua arte – a de voar sem asas, partindo do chão.

A Ginástica Artística brasileira tem voado bastante desde 2000, em Sidney, quando a delegação brasileira contou com duas ginastas – Camila Comin e Daniele Hypólito, de 15 anos, que foi a 21ª colocada na classificação geral.

Nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, o Brasil teve sua primeira equipe completa – Ana Paula Rodrigues, Camila Comin, Daiane dos Santos, Caroline Molinari, Daniele Hypólito e Laís Souza. Conseguiram o 9º lugar na disputa por equipes.

Também em 2004, Daiane dos Santos – modelo de profissional, inspiração – foi a quinta colocada na disputa do solo. Jade Barbosa, medalhista na equipe da terça, 30/07, foi a 10ª melhor no individual geral, em Pequim/2008, quando também avançamos uma casa e conseguimos sair da 9ª para a 8ª colocação em equipe.

Com saltos e voos, vimos exibindo fôlego para estar entre as melhores. Em

Tóquio, nas Olimpíadas de 2020 (disputadas em 2021), Rebeca Andrade arrebentou. Trouxe para o Brasil as primeiras medalhas na modalidade – prata no individual geral e ouro no salto.

Faltava a consagração na disputa por equipes – a medalha conquistada agora, em Paris. Rebeca segue despertando expectativa e torcida do país inteiro. Que seus voos sejam altos e as aterrisagens perfeitas!

Imagine quantas e quantos meninas e meninos voadores teríamos se tivessem mais do que dedicação e esforço pessoal, empenho de treinadores e apoio da família? Imagina onde e quantas/os chegariam se realmente fossem também prioridades nos investimentos e na proteção do Estado brasileiro?

O Ministério dos Esportes tem orçamento encolhido a cada ano. Neste ano, se vira com 607,7 mi. Perdeu um terço do que tinha em 2023.

Ainda que com dores, se é pra voar, voamos inclusive e até o ponto certo para o olhar mágico das câmeras registrarem. Na semana dos voos brasileiros, o olhar do fotógrafo Jerome Brouillet registrou nosso surfista Gabriel Medina saindo do tubo nas ondas do Taiti (nota 9,90!), para pairar dourado sobre as águas.  E entre nuvens – reais ou não.

Nós brasileiros somos dos que, vez por outra, conseguem voar, andar sobre as águas ou pisar em nuvens. (Acontece particularmente para dar trocos.  Toma Kanoa Igarashi!)

 

Tânia Fusco é jornalista 

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