Nota do Brasil sobre Venezuela mostra impotência e cinismo. É ridículo

A posição do governo Lula em relação à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela oscila entre a impotência e o cinismo. Na nota do Itamaraty divulgado ontem, os dois se misturaram. Uma proeza.

No comunicado, escrito na esteira da posse farsesca do ditador como presidente eleito, que contou com a presença da embaixadora brasileira e foi carimbada pela detenção da líder oposicionista que protestava nas ruas de Caracas, diz-se que “o governo do Brasil deplora os recentes episódios de prisões, de ameaças e de perseguição a opositores políticos”.

Antes, porém, afirma-se reconhecer “gestos de distensão do governo Maduro — como a liberação de 1.500 detidos nos últimos meses e a reabertura do Escritório do Alto Comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas em Caracas”.

Por fim, “o Brasil exorta, ainda, as forças políticas venezuelanas ao diálogo e à busca de entendimento mútuo, com base no respeito aos direitos humanos com vistas a dirimir as controvérsias internas”.

“Dirimir controvérsias internas” é resultado da química da impotência com o cinismo — aliás, o mesmo cinismo que iguala forte e fraco, opressor e oprimido, no caso da agressão da Rússia contra a Ucrânia.

De um lado, tem-se um ditador que não apareceu ontem, mas que está no poder há 12 anos, depois de suceder o déspota original do bolivarianismo, Hugo Chávez. Ambos contaram com a cumplicidade de Lula, do PT e do resto da esquerda autoritária latino-americana para manter-se no poder.

Nicolás Maduro roubou descaradamente uma eleição presidencial que jurou que seria limpa, traindo o próprio povo, que o rejeitou nas urnas, e ludibriando a comunidade internacional, que lhe deu um voto de confiança — Lula, inclusive, que passou a achar de bom tom que o amigão fosse eleito democraticamente.

O companheiro venezuelano roubou para continuar esmagando com mão de ferro 0 país depauperado por um regime sanguinário, sustentado por sicários outrora conhecidos como forças armadas venezuelanas.

Do outro lado, há uma oposição que teve a sua líder principal, María Corina Machado, impedida de concorrer pela Justiça fantoche de Nicolás Maduro, mas cujo candidato substituto, Edmundo González, conseguiu vencer por ampla margem na escolha popular. Hoje, ameaçado de prisão, ele se encontra exilado na Espanha, apesar de ser reconhecido como presidente eleito pelas grandes democracias ocidentais.

O governo Lula alega, papagaiado pela imprensa ingênua, que é preciso ter uma posição responsável em relação ao vizinho com o qual divide fronteiras extensas, transpostas por uma massa de esfomeados que fogem para o Brasil. Mas não há responsabilidade nenhuma em compactuar envergonhadamente, se é que há vergonha nisso, com a gigantesca fraude perpetrada por Nicolás Maduro. Pelo contrário, é uma irresponsabilidade que só fortalece o ditador e, assim, não coloca horizonte visível de liberdade para os venezuelanos extenuados pela voracidade da malta que governa o país.

Insistir, a esta altura, para que Nicolás Maduro apresente atas eleitorais idôneas que comprovem a sua vitória nas urnas é fazer vista grossa, fingindo que não se faz. Ou seja, uma hipocrisia. É impossível se obter o que não existe.

As cópias das atas eleitorais que comprovam a vitória de Edmundo González foram entregues ao Panamá, na semana passada, onde estão guardadas no banco central do país. Tratá-las como “supostas” é uma velhacaria. Os observadores internacionais idôneos da eleição presidencial venezuelana, aqueles que superaram todas as dificuldades impostas por Nicolás Maduro, como a Fundação Carter, são unânimes em dizer que a oposição venceu, sem margem de dúvida.

Em relação à Venezuela, o governo Lula mistura tanta impotência e cinismo, que chega a ser ridículo.

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