Facas, sangue e balas: como a polícia encontrou o assentamento do MST

São Paulo — As equipes das polícias Civil e Militar de São Paulo que foram até o assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Tremembé, no interior paulista, após o ataque a tiros na noite de sexta-feira (10/1), encontraram no local diversas cápsulas de balas de revólver, além de sangue espalhado e armas brancas.

De acordo com o boletim de ocorrência, a perícia policial apreendeu no assentamento um rastelo, uma enxada, uma picareta, quatro facas e mais de vinte estojos de munição de armas de fogo.

Quando os policiais chegaram no local, as vítimas já haviam sido socorridas por vizinhos e familiares. Os agentes então seguiram para o Hospital Regional de Taubaté e para o Pronto Socorro de Tremembé, onde os atingidos estavam sendo atendidos. Alguns deles deram depoimento aos investigadores.

Os relatos colhidos dão conta que um grupo de pessoas entrou no assentamento em diversas motos e veículos, discutindo e iniciando os disparos. Uma das pessoas presentes informou à polícia que conseguiu contar cinco carros e três motos.

Oito pessoas foram atingidas. Até a noite deste domingo (12/1), duas mortes haviam sido confirmadas e uma pessoa seguia internada em estado grave, estando em coma induzido. Outros quatro militantes feridos passaram por cirurgia e já receberam alta.

De acordo com o delegado Marcos Ricardo Parra, da Delegacia Seccional de Taubaté, os tiros ocorreram após um confronto motivado por um desentendimento envolvendo a negociação de um lote dentro do assentamento.

“Se desentenderam com uma questão local, nada relacionado com o movimento ou com invasão e defesa de terra. A intenção do grupo não era tomar posse. Foi uma desinteligência totalmente fora de controle por motivos internos da organização do assentamento”, afirmou o delegado em coletiva de imprensa.

Segundo ele, enquanto um grupo estava munido apenas de armas brancas, outro estava equipado com armas de fogo, gerando um “desequilíbrio” no confronto. Vítimas relataram à polícia que viram diversas armas, entre longas e curtas.

Polícia prende um suspeito e procura 2º

A partir do depoimento de vítimas e testemunhas, os policiais chegaram no nome de Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do piseiro”, como um dos envolvidos no ataque. Os presentes relataram que ele estava em uma caminhonete Amarok.

No sábado (11/1), a polícia encontrou Nero, 41 anos, em uma residência no bairro Santa Teresa, em Taubaté, e o prendeu em flagrante. Com o detido, a polícia apreendeu uma moto que teria sido utilizada no ataque (foto em destaque).

Tido como o mentor intelectual do ataque, Nero confessou o crime e indicou o nome de outro envolvido: Italo Rodrigues da Silva, de 29 anos. Uma testemunha também relatou que moradores do assentamento haviam sido ameaçados por Ítalo. Ele teria informado que “voltaria mais tarde”, de acordo com o depoimento.

Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como "Nero do Piseiro"
Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do Piseiro”

Neste domingo (12/1), a Justiça determinou a prisão temporária de Ítalo, que está sendo procurado. Nero segue preso e também teve prisão temporária decretada.

Além de Nero, outro homem foi preso no local por porte ilegal de arma de fogo. Ele, no entanto, não é tratado como participante do ataque e estaria ali para ajudar as famílias vítimas dos disparos, ainda segundo a polícia.

O caso segue sendo investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Taubaté, que procura identificar os outros envolvidos. Além da Polícia Civil, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que a Polícia Federal (PF) também investigue o caso.

O Metrópoles não localizou a defesa de Antônio Martins dos Santos Filho e Italo Rodrigues da Silva. O espaço segue aberto para manifestações.

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