EUA: em despedida, Joe Biden diz que “oligarquias” ameaçam democracia

Em seu discurso de despedida do cargo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quarta-feira (15/1) que “uma oligarquia está tomando forma no país”, referindo-se ao poder dos super-ricos e citando também uma “estrutura tecnológico-industrial” capaz de infringir os direitos dos americanos e ameaçar o futuro da democracia.

No Salão Oval da Casa Branca, Biden fez alusão à proximidade entre proprietários de grandes corporações e o presidente eleito, Donald Trump, que assumirá o cargo na próxima segunda-feira, 20 de janeiro.

“Neste momento, uma oligarquia está ganhando forma nos Estados Unidos, construída sobre uma extrema concentração de riqueza, poder e influência que ameaça toda a nossa democracia, nossos direitos e liberdades básicos, e a chance para que todos possam progredir. Se o abuso desse poder não for interrompido agora, as consequências serão graves”, afirmou.

Sobre a utilização da estrutura industrial e de tecnologia do país, Biden invocou as advertências feitas por Dwight Eisenhower, que presidiu os EUA de 1953 a 1961. Ao deixar o cargo, na época, Eisenhower alertou sobre o surgimento de um complexo militar-industrial.

“Estou igualmente preocupado com o potencial surgimento de um complexo tecnológico-industrial que também pode representar perigos reais para o nosso país”, acrescentou.

O discurso durou aproximadamente 15 minutos. Biden reiterou a importância de uma transferência pacífica de poder e, apesar de não ter citado Trump, fez questão de destacar que o presidente americano não tem poderes infinitos.

“O poder do presidente não é ilimitado, não deveria ser. E, em uma democracia, a concentração de poder e riqueza também representa um grande perigo”, declarou.

Meio século de vida pública

Aos 81 anos, Biden deixará a presidência dos EUA após cumprir um mandato em que foi precedido e será sucedido por Donald Trump. Assim, encerra mais de 50 anos de vida pública. Ele foi vice-presidente entre 2009 e 2017, durante a gestão de Barack Obama, e senador pelo estado de Delaware de 1973 a 2009.

O discurso de despedida foi uma advertência marcante de Biden na tentativa de definir seu legado e fortalecer o país em relação ao retorno de Trump à Casa Branca. A fala veio depois de ele ter anunciado um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que poderá pôr fim a mais de um ano de violentos conflitos no Oriente Médio.

“Levará algum tempo para sentirmos todo o impacto do que fizemos juntos, mas as sementes foram plantadas, crescerão e florescerão nas próximas décadas”, argumentou.

Além de criticar indiretamente o seu sucessor, Biden alertou sobre a aproximação dele e do próximo governo com grandes empresários, principalmente do ramo de tecnologia.

O bilionário Elon Musk, por exemplo, gastou mais de 100 milhões de dólares para ajudar Trump a se eleger, e executivos como Mark Zuckerberg, da Meta, e Jeff Bezos, da Amazon, fizeram doações para o comitê do presidente eleito e foram até o clube particular dele, na Flórida, onde tiveram audiências, enquanto tentam se integrar ao próximo governo e moldar suas políticas.

Devido a isso, Biden alertou os americanos a ficarem atentos às liberdades e às instituições durante uma era turbulenta de rápidas mudanças tecnológicas e econômicas. Ele criticou, por exemplo, empresas de mídias sociais que recentemente excluíram ferramentas de checagem de fatos em suas plataformas.

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