PIX, vexame e perda de credibilidade do governo Lula

A trajetória política de Luiz Inácio Lula da Silva, marcada por seus mandatos entre 2003 e 2011, continua influenciando profundamente suas ações como presidente em 2025. No entanto, o contexto econômico, social e político mudou de maneira drástica, apresentando novos desafios e expondo a inadequação de estratégias que outrora trouxeram resultados positivos. Há diferenças entre os dois períodos e os dilemas enfrentados por Lula em sua tentativa de governar em um Brasil profundamente transformado.

Nos anos 2000, o Brasil experimentou um crescimento econômico significativo, impulsionado pela alta demanda global por commodities e pela estabilidade do mercado internacional. Durante seus primeiros mandatos, Lula capitalizou esse cenário favorável, combinando políticas de distribuição de renda com incentivos à economia interna, o que contribuiu para a redução da pobreza e o aumento do consumo.

Hoje, no entanto, o mundo está em um estado de maior instabilidade. Crises geopolíticas, mudanças climáticas, pressões inflacionárias globais e uma recuperação desigual da pandemia da Covid-19 tornam o cenário muito mais desafiador. As velhas fórmulas, baseadas no aumento do crédito e no incentivo ao consumo, mostram-se limitadas em um país com endividamento crescente e restrições fiscais.

O cenário político brasileiro também mudou. A ascensão de uma direita mais articulada e mobilizada, alinhada a movimentos conservadores globais, introduziu um novo equilíbrio de poder. Essa direita trouxe para o debate questões que desafiam diretamente os ideais tradicionais da esquerda, como o papel do Estado, liberdade de expressão e controle das redes sociais.

Para a velha esquerda, acostumada a atuar em um contexto menos polarizado, isso representa um choque. Ideias que anteriormente pareciam incontestáveis agora enfrentam resistência de parcelas significativas da população, que rejeitam o que percebem como autoritarismo ou controle excessivo.

Redes sociais e regulação

As redes sociais se tornaram um campo de batalha essencial para o controle da narrativa política. Enquanto o governo de Lula defende a regulação dessas plataformas como uma medida necessária para combater “fake news e desinformação”, opositores enxergam a iniciativa como uma forma de censura. Essa tensão entre liberdade de expressão e responsabilidade nas comunicações digitais é um dos maiores desafios das democracias modernas, e o Brasil não é exceção.

Por outro lado, o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) nesse debate tem sido controverso. Decisões judiciais relacionadas à moderação de conteúdo e à punição de discursos considerados prejudiciais são frequentemente vistas como interferências excessivas, especialmente quando afetam adversários políticos.

Um ponto central de críticas à gestão de Lula é a percepção de que ele promove uma “democracia relativa”. Essa ideia está associada às medidas que alguns consideram restritivas, como a censura de oposição e a tentativa de controlar opiniões divergentes. Em um país com uma história de luta pela liberdade de expressão, tais medidas geram grande resistência popular.

Nikolas devastador

O que se vê, na verdade, é que, passados dois anos do terceiro mandato, a promessa de um governo que resgataria a estabilidade econômica e a união nacional está longe de se concretizar. Lula enfrenta desafios crescentes: uma economia instável, erros na comunicação e, sobretudo, a perda de credibilidade junto à população. Algo tenebroso para um governo populista.

Um dos episódios mais recentes, nesta semana, que escancararam a fragilidade do governo foi a tentativa da Receita Federal de monitorar as transações via Pix, uma medida que causou pânico entre a população mais pobre. Apresentada como um passo no combate à sonegação fiscal, a iniciativa foi rapidamente interpretada como uma intrusão do Estado nas finanças pessoais.

A reação veio de todos os lados, mas foi nas redes sociais que o estrago se tornou irreversível. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), criticando duramente a medida, alcançou o recorde histórico de mais de 310 milhões de visualizações, um impacto devastador para a imagem do governo.

O Planalto recuou e revogou a medida, mas o dano estava feito. Este episódio exemplifica um governo que parece mais reativo do que proativo, além de desarticulado na gestão de crises.

Além disso, a retórica de Lula e seus ministros de classificar críticas como “fake news” perdeu força. Quando o governo comete erros evidentes, como no caso do Pix, a população enxerga as acusações de “desinformação” como uma tentativa de desviar o foco da própria incompetência.

Vítima de si mesmo

A turbulência que marca este terceiro mandato é, em grande parte, autoinfligida. Erros de estratégia, comunicação desastrosa e uma percepção de desconexão com as demandas reais da população estão no centro da crise. O presidente parece desmotivado e cansado nessa caminhada que ainda está na metade do mandato.

Por fim, a perda de popularidade de Lula não é apenas um reflexo da oposição, mas um sintoma de um governo que não consegue transformar discurso em resultados tangíveis. Com dois anos restantes no mandato, o desafio de reconquistar a credibilidade é imenso para um governo que parece ser sua maior própria vítima.

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