A grandiosa história do edifício Manuel Pinto

Os construtores do Edifício Manuel Pinto da Silva tinham consciência de que haviam realizado algo com um significado tão grandioso que ultrapassava os limites da História das Construções do Pará.

Afinal, numa época em que só dispunham de régua de cálculo para as operações matemáticas necessárias à construção de uma grande estrutura, eles conseguiram, nas esquinas das avenidas Nazaré e Serzedelo Correa, transformar num prédio de 108 metros de altura, 26 andares, 217 apartamentos e 6 lojas térreas uma montanha de materiais de construção da qual faziam parte 32.980.000 quilos de cimento, 23.000.000 de quilos de areia, 14.775.000 quilos de pedra britada e 1.720.000 quilos de ferro redondo.

A certeza de que eles tinham consciência do longo alcance obtido com seu trabalho advém não apenas da iniciativa deles de divulgarem a quantidade de cada material com o qual haviam lidado, no anúncio da inauguração do prédio, publicado numa pagina inteira de “A Província do Pará”, no dia 17 de abril de 1960.

Esta certeza se apoia, sobretudo, na percepção de que, naquele anúncio, a altura do prédio foi comparada, não com as alturas de outras edificações semelhantes do Pará, do Brasil, ou mesmo, do mundo, mas, com as alturas de todas as grandes estruturas construídas pelo homem, até aquela data.

Para que não restasse nenhuma dúvida, no texto do anúncio, o empresário Manuel Pinto da Silva declarou: ele estava entregando a Belém – não um dos mais altos prédios já edificados -, mas “uma das mais altas construções do mundo”.

Portanto, os construtores do edifício quiseram avaliá-lo não somente segundo parâmetros universais, como ainda, de acordo com parâmetros intemporais.

Se a altura do prédio fosse comparada somente com a altura de qualquer outro prédio similar a ele, relacionado no anúncio, o Manuel Pinto da Silva seria, então, na ocasião, o oitavo mais alto do mundo, e, o terceiro mais elevado do Brasil, superado apenas, no Exterior, pelos Empire State, Chrysler Building, Rockfeller Center, Bank of Manhattan, Woolworth Building – todos de Nova Iorque, nos Estados Unidos – e, no Brasil, pelos Banco do Estado de São Paulo, e, Banco do Brasil, ambos de São Paulo.

O prédio, contudo, foi colocado, no anúncio, na 16ª posição, no mundo, em disputa com o Edifício Martinelli, de São Paulo.

Isto porque houve a deliberada intenção de compará-lo, também, com a Torre Eifell, de Paris, a torre da Rádio Königs Wusterhausen, o Museu Nacional (antes, de Turim, hoje, do Cinema), o Mosteiro de Ulm e a Catedral de Colônia – da Alemanha -, com a Estátua (atual, Monumento) a Washington, dos Estados Unidos, com a St Paul´s Cathedral, da Inglaterra, e, a Pirâmide de Kéops, do Egito.

Na verdade, não deve surpreender ninguém esta busca de significação para o prédio no âmbito da Cultura Universal.

Feliciano Seixas – o arquiteto e engenheiro civil paraense, autor de seu projeto – era um viajante compulsivo.

Conhecia 23 países.

E se tornara membro da Academia Paraense de Letras exatamente porque escreveu um livro, intitulado “Um brasileiro na Europa” no qual havia capítulos com títulos como “Versalhes, esplendor da França”, “Pisa e a torre inclinada”, “Veneza e a Ponte dos Suspiros”, “Florença, a dos Museus”, e, “Ouçam as catedrais da Europa”.

Feliciano tinha 47 anos de idade quando o Manuel Pinto da Silva foi inaugurado.

Ele havia recebido uma refinada educação, antes de acumular conhecimentos através de suas viagens.

Seus estudos foram iniciados no conceituado Colégio Paes de Carvalho, depois prosseguiram no Rio de Janeiro.

Lá, estudou, sucessivamente, no Lycée Français, no Colégio Dom Pedro II – a escola-modelo do Brasil -, na Escola Nacional de Belas Artes – onde se formou arquiteto -, e, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, a mais importante do ensino de Engenharia Civil, no País.

Quando teve de retornar a Belém, transferiu-se para a Escola de Engenharia do Pará (atual Faculdade de Engenharia Civil, da UFPA), onde se formou engenheiro civil, e, depois, lecionou Desenho a Mão Livre, Desenho Técnico e Arquitetura.

A busca de avaliação do prédio por critérios muito amplos, no entanto, não impediu que seus construtores valorizassem o significado dele para o Pará.

Logo, no início daquele anúncio Manuel Pinto da Silva declarou: estava entregando “a maior contribuição da iniciativa particular para o melhoramento e o embelezamento de Belém”.

E, acrescentou sobre o edifício:

“É, por outro lado, também, a reafirmação da capacidade de realização dos nossos profissionais de construção civil”.

De fato, era.

Pois, nasceram no Pará: Feliciano Seixas, José Maria Lima Paes, calculista do bloco mais baixo do edifício e Amyntas de Lemos Filho, o engenheiro que acompanhou a construção da estrutura do bloco mais elevado.

O único não-paraense daquela equipe, o nordestino Antônio Alves Noronha, calculista do bloco elevado, estava tão ligado a nosso Estado, havia tanto tempo, que, três meses após a inauguração do prédio recebeu o título de Cidadão de Belém, dado a ele pela Assembléia Legislativa do Pará.

*Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista

TRADUÇÃO PARA O INGLÊS

THE GRAND HISTORY OF THE MANUEL PINTO BUILDING

The builders of the Manuel Pinto da Silva Building were fully aware that they had achieved something so monumental that it transcended the boundaries of the history of construction in Pará.

After all, during an era when only slide rules were available for the mathematical calculations required for constructing large structures, they managed to transform a mountain of building materials into a 108-meter-tall structure with 26 floors, 217 apartments, and 6 ground-floor stores at the corner of Nazaré and Serzedelo Correa avenues. This monumental endeavor involved 32,980,000 kilograms of cement, 23,000,000 kilograms of sand, 14,775,000 kilograms of crushed stone, and 1,720,000 kilograms of round iron.

Their awareness of the historical significance of their work is evidenced not only by their decision to publish the quantities of materials used in the announcement of the building’s inauguration—a full-page ad in A Província do Pará on April 17, 1960—but also by the fact that the building’s height was not compared to other structures in Pará, Brazil, or even the world.

Instead, it was measured against all the great structures built by humanity up to that point.

In the announcement, entrepreneur Manuel Pinto da Silva declared that he was not delivering to Belém “one of the tallest buildings ever erected” but rather “one of the tallest constructions in the world”.

Thus, the builders sought to evaluate the building not only by universal parameters but also through timeless standards.

Had the building’s height been compared solely with similar structures mentioned in the announcement, the Manuel Pinto da Silva Building would have ranked as the eighth tallest in the world at the time and the third tallest in Brazil—surpassed internationally by the Empire State Building, Chrysler Building, Rockefeller Center, Bank of Manhattan, and Woolworth Building (all in New York City) and, domestically, by the Banco do Estado de São Paulo and Banco do Brasil buildings in São Paulo.

However, the building was placed 16th in the world rankings in the announcement, alongside São Paulo’s Edifício Martinelli.

This was because there was a deliberate effort to compare it with other iconic structures, such as the Eiffel Tower in Paris, the Königs Wusterhausen Radio Tower, the National Museum (formerly in Turin, now the Museum of Cinema), the Ulm Minster and Cologne Cathedral in Germany, the Washington Monument in the United States, St. Paul’s Cathedral in England, and the Great Pyramid of Giza in Egypt.

In truth, this quest for global cultural significance should not come as a surprise.

Feliciano Seixas—the architect and civil engineer from Pará who designed the project—was an avid traveler, having visited 23 countries.

He became a member of the Pará Academy of Letters after writing a book titled A Brazilian in Europe, which featured chapters with titles like “Versailles, the Splendor of France,” “Pisa and the Leaning Tower,” “Venice and the Bridge of Sighs,” “Florence, City of Museums,” and “Listen to the Cathedrals of Europe”.

Feliciano was 47 years old when the Manuel Pinto da Silva Building was inaugurated.

He had received a refined education before gaining extensive knowledge through his travels.

His studies began at the renowned Colégio Paes de Carvalho and continued in Rio de Janeiro, where he attended the Lycée Français, Colégio Dom Pedro II (Brazil’s model school), the National School of Fine Arts (where he became an architect), and the Polytechnic School of Rio de Janeiro, the country’s foremost civil engineering institution.

Upon returning to Belém, he transferred to the Pará School of Engineering (now the Civil Engineering Faculty at UFPA), where he earned his civil engineering degree and later taught Freehand Drawing, Technical Drawing, and Architecture.

Despite the broad criteria used to evaluate the building, its significance for Pará was not overlooked.

Early in the announcement, Manuel Pinto da Silva declared that he was delivering “the greatest contribution of private enterprise to the improvement and beautification of Belém.”

He also added about the building: “It is, moreover, a reaffirmation of the capabilities of our civil construction professionals”.

Indeed, it was.

Born in Pará were Feliciano Seixas; José Maria Lima Paes, who calculated the structural design for the building’s lower block; and Amyntas de Lemos Filho, the engineer who oversaw the construction of the upper block.

The only non-native of Pará in the team, Antônio Alves Noronha from the Northeast of Brazil, had been so closely connected to the state for so long that three months after the building’s inauguration, he was granted the title of Citizen of Belém by the Pará State Assembly

(Illustration: photo of the building by Rafaela Coimbra)

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