Capitão da Rota foi promovido após suspeita de blindar chefões do PCC

São Paulo — Investigação da Corregedoria da Polícia Militar aponta que o capitão Raphael Alves Mendonça, que atuou como chefe da Agência de Inteligência da Rota, seria amigo pessoal de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e responsável por indicar para o setor os PMs que teriam atuado diretamente no vazamento de informações sigilosas que beneficiaram os criminosos.

Raphael Alves Mendonça atuou na Rota entre janeiro de 2016 e setembro de 2022, passando pelo posto de comandante de pelotão, chefe da Agência de Inteligência e chefe da Seção de Polícia Judiciária Militar e Disciplina (SPJMD).

Ao assumir o comando da SPJMD, Mendonça, que na época ainda era tenente, foi promovido à patente de capitão, apesar das suspeitas em relação aos vazamentos.

A passagem do oficial pela Rota coincide com o período em que a infiltração do PCC na corporação teria ocorrido. Uma fonte ligada à investigação ouvida pela reportagem afirmou que o primeiro contato de que se tem registro entre os PMs e a facção teria ocorrido em torno de 2017, com policiais fazendo a segurança de criminosos como Rafael Maeda Pires, o Japa.

Ao longo dos anos, o esquema teria ficado mais sofisticado, com diversos vazamentos que beneficiaram algumas das principais lideranças do PCC, como Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, e Marcos Roberto Almeida, mais conhecido como Tuta, então número um da facção fora do sistema carcerário.

De acordo com o inquérito policial militar que apura o caso, Raphael Mendonça tinha “contato rotineiro” com os PMs envolvidos no esquema e realizava confraternizações com eles na própria casa.

Em setembro de 2022, o capitão foi transferido para o Comando de Policiamento de Choque para exercer a função de Chefe da Agência Regional e, recentemente, está na Assessoria Policial Militar da Prefeitura de São Paulo.

“Gato grande”

Subordinados ao capitão Raphael Mendonça, atuavam pelo menos quatro policiais da Rota. Na ponta da linha, o grupo era coordenado pelo cabo Vagner de Deus Leão, conhecido como Gato Grande.

Ele é amigo pessoal e homem de confiança de Raphael Mendonça. Vagner Leão seria responsável por filtrar as informações que pudesse beneficiar seus “protegidos”, como Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola.

Ele foi transferido da Agência de Inteligência da Rota, em data não especificada, justamente em razão dos vazamentos de informações. O cabo migrou para o SPJMD junto com Mendonça.

Gato Grande chegou a ser proibido de circular pela base da Rota, até ser transferido para o 5º Batalhão de Policiamento Metropolitano. Pelo menos quatro familiares dele são suspeitos de envolvimento no esquema.

Supostamente usufruindo do dinheiro obtido com a venda de informações para o PCC, Leão abriu dois estabelecimentos em “homenagem” à Rota na zona leste, ambos com o nome de Rota’s Bar, uma espécie de adega no Jardim Helena e um restaurante em Itaquera. Os locais eram frequentados pelos demais PMs investigados.

Mensalidade de R$ 600 mil

Conforme revelado pelo Metrópoles, os traficantes do PCC pagavam uma mensalidade de R$ 600 mil para os policiais da Rota em troca dos vazamentos de informações sigilosas sobre operações e movimentações de viaturas.

O valor, no entanto, não excluía cobranças mais altas feitas pelos PMs em situações específicas, como no caso da Operação Sharks, em setembro de 2020, quando cobraram R$ 5 milhões para permitir a fuga de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta.

O mesmo ocorreu com o próprio Cebola, que teria escapado de uma ação do Ministério Público (MPSP) para prendê-lo na festa de aniversário de Ahmed Hassan, advogado apontado como um dos envolvidos nos esquemas de lavagem de dinheiro do PCC.

Cooptação dos PMs

Segundo informações internas da Polícia Militar, a suspeita é que a atuação conjunta entre policiais e o PCC aconteça desde, pelo menos, 2017. A cooptação de PMs da Rota pelo crime teria se intensificado em 2021, a partir da “entrevista” de um importante traficante da facção para promotores.

Na conversa informal, que ocorreu dentro do batalhão da Rota, o criminoso deu uma série de detalhes sobre o funcionamento do esquema, explicando a atuação conjunta entre policiais e PCC.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.