“Não nego meus valores, mas meu trabalho é técnico”, diz Angela Gandra

São Paulo — Nova secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, a advogada Angela Gandra chegou à gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) por meio da ala bolsonarista do entorno do emedebista. Ex-secretária do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo de Jair Bolsonaro (PL), ela afirma que não vai misturar suas convicções conservadoras com o trabalho desenvolvido na pasta municipal, cujo um dos focos será a busca por parcerias voltadas à segurança alimentar.

“Não nego os meus valores. Nunca vou ser omissa em relação aos valores humanos que eu defendo, mas o meu trabalho hoje aqui é técnico. E ele demanda 10 horas por dia”, afirma Angela em entrevista ao Metrópoles.

Filha do jurista Ives Gandra Martins, ela é próxima da família Bolsonaro. Ligada a pautas conservadoras, já viajou para fóruns internacionais ligados a organizações de direita para defender pautas antiaborto.

Essa agenda, segundo ela, não estará no escopo de sua atuação na secretaria de Relações Internacionais, posto que já foi ocupado por nomes historicamente ligados à esquerda, como Marta Suplicy e Aldo Rebelo.

“Acabei de renunciar a uma viagem que eu tinha para um fórum conservador. Para a própria posse do Trump eu não fui. Achei que não caberia. Significaria gastar um tempo para o que eu não estou sendo paga. Eles [valores conservadores] vão transparecer de algum jeito em algum momento, mas não vou ter uma proatividade nesse sentido. Porque seria injusto com a minha própria missão”, diz Angela.

A advogada afirma que foi seu currículo que chamou a atenção de Ricardo Nunes. A ponte foi feita pela vereadora Zoe Martinez (PL), que também é ligada à família Bolsonaro e se engajou na campanha de Nunes à reeleição.

Angela é professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie e atuou como gerente de Relações Internacionais da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). No vídeo em que anunciou a nova secretária, no final de dezembro, o prefeito exaltou o fato de ela falar sete idiomas e ser doutora em Direito.

Relação com consulados

Angela Gandra afirma que seu principal objetivo neste início de gestão é receber as demandas dos consulados e estabelecer parcerias estratégicas com cidades de outros países para trazer boas práticas ligadas a temas como moradia e alimentação.

“Vamos fortalecer os vínculos com todos os consulados para encontrar cidades que queiram ser irmãs de São Paulo. Ao mesmo tempo, intercambiar boas práticas. Não queremos só fortalecer relações econômicas, queremos relações humanas e cultivar a paz entre os países a partir desses acordos que possamos fazer”, explica.

De acordo com Angela, um dos consulados que já procurou a secretaria com interesse de estreitar relações e promover eventos é o de Israel.

“Temos que entender o que aconteceu com cada povo, não importa a geopolítica geral. Temos que indicar São Paulo como uma cidade acolhedora. E eles têm muita tecnologia para oferecer. Então, estamos fazendo ‘matches’, com muito espírito de liberdade. Estamos muito abertos a todos”, relata.

Segurança alimentar

Um dos focos da gestão, segundo a secretária, será o combate à fome. Ela afirma que pretende apresentar a outros países bons exemplos de produção de alimentos por meio da agricultura familiar em São Paulo. Por outro lado, também quer atrair tecnologias estrangeiras que possam potencializar a produção alimentar na cidade.

“A secretaria tem um polo que é de desenvolvimento sustentável. Queremos ver como o mundo pode se ajudar nesse sentido, com tecnologia, dando plataforma para os pequenos produtores. Que a gente possa também mostrar as vocações do município, como que produtos pode oferecer”, diz.

COP 30

A secretária de Relações Internacionais também quer aproveitar a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em novembro, em Belém (PA), para promover um “HUB de negócios” em São Paulo antes do evento principal.

“São Paulo tem a oferecer muito para o ‘ganha-ganha’ em negócios e parcerias em investimentos. Queremos que lideranças e empresários possam conhecer o Brasil na sua diversidade. São Paulo é diferente do Rio, que é diferente de Belém. Acho que podem surgir negócios muito interessantes, porque haverá representantes de muitas cidades”, afirma.

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