Sanção contra Colômbia é um aviso para o Brasil (por Leonardo Barreto)

“Trump está fazendo da Colômbia um exemplo para Brasil e México”. Esta afirmação foi feita por Jonathan Ávila, presidente da Vali, uma das maiores consultorias políticas colombianas com operação outros países andinos.

Ele se refere ao anúncio da taxação de 25% de todos os produtos colombianos exportados para os Estados Unidos, medida tomada após o presidente Gustavo Petro ter proibido aviões estadunidenses com imigrantes deportados pousassem no país neste final de semana.

A ação tem ares catastróficos. Cerca de 30% de toda a exportação colombiana segue para os EUA. Os principais produtos são petróleo, ouro, café não torrado, flores, portas, janelas e molduras. Curiosamente, o saldo das transações comerciais é positivo para os estadunidenses, com resultado de cerca de U$ 1.031 bilhões.

A situação é mais chocante quando se lembra os profundos laços diplomáticos entre Colômbia e EUA. Durante décadas o país vizinho foi o principal aliado – inclusive militar – e há uma forte comunidade de negócios colombiana residente no país de Trump.

Ávila alerta que a medida agressiva contra a Colômbia não é um acaso. Donald Trump está mandando um recado para os governos esquerdistas do Brasil e do México e escolheu o menor país entre esses três para servir de exemplo.

Petro respondeu criando uma taxa de 50% e tentou abrir uma porta de saída da crise ao anunciar que mandaria um avião oficial buscar os deportados. Entretanto, a questão da imigração parece ser um pretexto para que Trump mostre o novo tipo de diplomacia que deseja desenvolver a região.

Não há dúvida de que esta mensagem, completamente desproporcional, é um recado de força que visa deixar claro que, se for preciso, os EUA radicalizarão tanto as sanções que poderão desestabilizar politicamente governantes de outros países.

Hoje, Petro tem aprovação de 41% da população e rejeição de 51,2%. Para Ávila, empresários em geral tendem a não dar suporte ao presidente colombiano na crise, gerando uma pressão com uma frente externa e outra doméstica. Não se trata de uma situação trivial.

Ao despejar tanta força sobre a Colômbia, Trump está, segundo Ávila, sinalizando ao Brasil e ao México para não seguirem na mesma direção e aliviarem suas críticas. Trata-se de um difícil teste para nossa diplomacia, que terá que achar o equilíbrio entre a atuação pragmática e a defesa dos direitos no caso dos deportados.

 

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política e sócio da consultoria Think Policy. 

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