Lula se curva à política de mais diplomacia e de menos belicosidade

Pelo simples fato de que não tem muito o que fazer, há mais espuma para consumo interno do que reação enérgica do governo Lula à disposição do governo de Donald Trump de deportar brasileiros que entraram ilegalmente nos Estados Unidos.

País algum é obrigado a acolher no seu território estrangeiros considerados indesejáveis por ele. E se as portas dos Estados Unidos sempre estiveram abertas a migrantes no século passado, assim como as da Europa, elas agora se fecharam.

O governo do democrata Barack Obama foi o que mais deportou se comparado com os governos que o sucederam. O voo que despejou em Manaus a mais recente leva de brasileiros foi autorizado pelo governo do democrata Joe Biden.

O governo de Lula vai propor ao governo de Trump a criação de um grupo de trabalho conjunto para discutir as deportações de imigrantes brasileiros. Quer obter a garantia de segurança no transporte e de tratamento com dignidade aos deportados.

Daí – poderá sair alguma coisa – ou nada. Quando não se sabe direito o que fazer ou se quer mudar de assunto, costuma-se propor a criação de um grupo de trabalho. O governo avaliou usar aviões da FAB para resgatar os brasileiros deportados.

Desistiu da ideia. Concluiu que essa é uma tarefa que cabe ao governo americano. De resto, poderia soar como uma afronta aos Estados Unidos. A ordem de Lula é baixar a bola e não dar ensejo a uma crise quando Trump vive seu momento de maior triunfo.

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, tentou desafiar Trump ao não permitir que aviões militares americanos aterrissem em seu país levando colombianos deportados. Trump replicou taxando produtos colombianos importados. Petro recuou em 24 horas.

Os brasileiros deportados que chegaram a Minas Gerais no sábado (25) relataram agressões, ameaças e tratamento degradante que sofreram por parte dos agentes de imigração americanos responsáveis pelo voo de volta ao Brasil.

Alguns deles disseram ter ficado 50 horas algemados, sem ar-condicionado no voo e sujeitos a abusos. A Polícia Federal abriu inquérito a respeito. O encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília foi ouvido pelo Itamaraty.

Em data ainda incerta, o governo irá montar um posto de acolhimento no aeroporto de Confins, em Minas, para deportados vindos dos Estados Unidos. Aos poucos, o Itamaraty restabelece sua política tradicional de apaziguamento e Lula se curva a ela.

Em 2024, Lula comparou os ataques de Israel aos palestinos da Faixa de Gaza com o Holocausto dos judeus promovido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Por pouco, as relações diplomáticas entre os dois países não foram rompidas.

Na segunda-feira (27/1), o Itamaraty publicou um comunicado onde o governo brasileiro se somou as celebrações do Dia Internacional da Memória do Holocausto. Nas redes sociais, Lula renovou seu compromisso com a luta contra o antissemitismo.

O governo de Israel viu como “importante” e “muita positiva” a nota do Itamaraty e a mensagem postada por Lula.

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