Estudo com asteroide põe em xeque teoria de como a vida chegou à Terra

Teria a vida na Terra começado a partir da colisão com um asteroide? Resultados de análises feitas em amostras do asteroide Bennu, publicadas nessa quarta-feira (29/1) nas revistas Nature e Nature Astronomy, revelam que os elementos químicos presentes no objeto rochoso são os mesmos da Terra, mas possuem uma estrutura diversa, questionando a ideia de que asteroides semearam nosso planeta com os compostos.

Asteroide no microscópio

O asteroide Bennu se aproxima da Terra a cada seis anos, passando a 300 mil quilômetros do planeta. Em 2016, uma missão foi enviada para para recolher parte de sua matéria e as amostras coletadas retornaram em 2023, quando foram repartidas por universidades de todo o mundo para análise. A missão que capturou as amostras custou cerca de 1,2 bilhão de dólares.

As pesquisas, chefiadas pela agência espacial americana (Nasa), contaram até com a participação de um cientista brasileiro, Ewerton Santos, que faz pós-doutorado na Universidade de Brown, nos Estados Unidos, analisando as amostras do Bennu.

Moléculas espelhadas

As amostras revelaram que o objeto rochoso possui uma estrutura que sugere a derivação de um asteroide maior, cheio de poças de sal, que se desintegrou há milhões de anos. Ele é, basicamente, uma rocha de 500 metros de diâmetro de carbono, o elemento mais essencial na vida orgânica.

O asteroide possui todas as nucleobases que formam as cadeias de DNA e RNA da vida terrestre (adenina, citosina, guanina e timina) e 14 dos 20 aminoácidos bases usados na composição de proteínas de seres vivos. Entretanto, elas estão arranjadas de forma diversa, em uma estrutura espelhada, como se fossem destras enquanto as da Terra são canhotas.

O fato de apresentarem a quiralidade (inclinação das moléculas) para a direita coloca em dúvida as explicações convencionais sobre a origem da vida a partir de asteroides.

Para todas as respostas que a amostra de Bennu forneceu, várias perguntas permanecem. “Ds dados adicionam grandes pinceladas à imagem de um Sistema Solar repleto de potencial para vida. Por que nós, até agora, só vemos vida na Terra e não em outro lugar? Essa é a pergunta verdadeiramente interessante”, afirmou o pesquisador Jason Dworkin, autor principal do artigo publicado na Nature Astronomy, em comunicado da Nasa.

Comparação Bennu Empire State
Comparação mostra o tamanho do Bennu em relação ao Empire State, de Nova York, e a Torre Eiffel, de Paris

Os lagos salgados de Bennu como esperança

Entretanto, os pesquisadores não acreditam que as evidências do asteroide descartem totalmente as hipóteses anteriores. A descoberta dos compostos orgânicos no Bennu reforçaria a ideia de que asteroides podem ter sido veículos para a entrega dos ingredientes essenciais à vida, como aminoácidos e nucleobases.

Em algum ponto, o impacto de asteroides ricos nesses compostos pode ter sido crucial para a origem da vida no planeta, ainda que hoje suas amostras sejam substancialmente diferentes.

Jason Dworkin, professor Nasa, asteroide Bennu
Pesquisador Jason Dworkin segura amostra do asteroide Bennu

Para os pesquisadores, a partir do Bennu, a descoberta de compostos orgânicos em outros corpos celestes pode ser mais comum do que se imaginava, e as condições para o surgimento da vida podem ser mais amplas do que antes pensado.

A análise ainda revelou a presença de sais, como carbonatos e fosfatos, sugerindo que o asteroide tenha abrigado lagoas salgadas no passado. Essas salmouras poderiam ter sido ambientes viáveis para a formação de compostos orgânicos mais complexos, produto das nucleobases que são vistas em sua superfície. Isso teria tornado o Bennu um possível ambiente propício para a vida há milhões de anos, ainda que ela não pareça ter florescido ali.

Antes da missão, os pesquisadores já suspeitavam que Bennu fosse rico em carbono e água. No entanto, a quantidade e a diversidade de compostos orgânicos presentes nas amostras surpreenderam os cientistas. A pesquisa mostrou que o asteroide possui mais carbono, nitrogênio e amônia do que outros meteoritos anteriormente estudados, como os provenientes do asteroide Ryugu.

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