Trump x democratas: colisão de aeronaves vira briga política nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, relacionou na quinta-feira (30/1) o recente acidente aéreo em Washington a políticas adotadas durante os governos de Barack Obama e Joe Biden. A associação, no entanto, foi repudiada por membros do Partido Democrata.

Durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump afirmou que mudanças nos critérios de contratação no setor aéreo causadas, segundo ele, por políticas de inclusão e diversidade reduziram os padrões de qualificação dos profissionais. Isso, conforme Trump, poderia ter contribuído para o acidente envolvendo um avião de passageiros e um helicóptero militar na noite de quarta-feira (29/1).


O acidente

  • Um jato de passageiros da American Airlines e um helicóptero militar se chocaram na noite da quarta-feira (29/1) em Washington D.C., capital dos EUA.
  • Havia 60 passageiros e quatro tripulantes no avião civil e três militares no helicóptero Black Hawk. Não há sobreviventes, informou o presidente Trump.
  • O tempo em Washington estava limpo no momento do acidente. Ambas as aeronaves foram localizadas. O avião de passageiros foi encontrado invertido, em três seções, com água na altura da cintura.
  • A American Airlines criou uma linha telefônica para parentes que acreditam ter perdido alguém a bordo.

Sem apresentar provas, Trump disse que seu governo havia elevado os padrões para os profissionais do setor e que, após sua saída, a administração Biden teria revertido essas mudanças, trazendo de volta critérios que, segundo ele, comprometem a segurança do tráfego aéreo. O ex-presidente citou ainda um artigo de 2017 que mencionava iniciativas de inclusão na Força Aérea, incluindo a contratação de pessoas com deficiências intelectuais e psiquiátricas graves.

No primeiro dia de governo, Trump já havia abordado este tema. Ele assinou um ato no qual encerrou o programa de diversidade da Administração Federal da Aviação (FAA, na sigla em inglês). No documento assinado, o presidente fez afirmações de que haveria pessoas sem a qualificação adequada, colocando a segurança de voo em risco.

Ao lado de Trump na coletiva, estavam o vice-presidente JD Vance, o secretário de Transportes, Sean Duffy, e o secretário de Defesa, Pete Hegseth. Os três reforçaram as críticas do presidente às políticas de diversidade no setor aéreo e defenderam mudanças para priorizar competência técnica na seleção de profissionais. Trump também anunciou a nomeação de um novo diretor interino para a Administração Federal de Aviação (FAA), cargo que estava vago desde o início de seu novo mandato, mas o indicado não fez declarações à imprensa.

Enquanto isso, o Partido Republicano usou o episódio para reforçar o discurso de que medidas adotadas por administrações democratas precisam ser revistas. Membros da legenda usaram as redes sociais para fazer críticas a Trump.

Democratas reagiram

Deputados democratas reagiram criticamente à fala de Trump. Eleito pela Califórnia, o deputado John Garamendi acusou o presidente de não ter empatia com as vítimas e deu crédito ao trabalho investigativo. “Sei que a FAA, o Conselho Nacional de Segurança dos Transportes e os militares estão a conduzir uma investigação minuciosa e apolítica sobre este acidente, produzindo recomendações para garantir que esta tragédia nunca mais aconteça”, escreveu no X (antigo Twitter).

Por Nova York falou a deputada Alexandria Ocasio-Cortez. Ela usou um tom ainda mais forte. Ocasio-Cortez disse que Trump “destruiu o comitê de Segurança da Aviação”.

A deputada do Alabama Terri A. Sewell também se manifestou pelo X. “Para o presidente Trump, politizar essa tragédia horrível culpando a “DEI” é ofensivo e vergonhoso. Agora é hora de nos unirmos para confortar as famílias enlutadas e apoiar uma investigação independente. Devemos esperar algo melhor do presidente dos Estados Unidos”, afirmou no X.

“Irresponsável”

O ex-administrador da FAA no governo Biden afirmou que culpar políticas de inclusão por um acidente sem qualquer base técnica era uma forma de desviar o foco de problemas estruturais na segurança do tráfego aéreo. Líderes democratas e especialistas em aviação argumentaram que o debate sobre segurança deve ser conduzido com base em dados, e não em questões políticas.

A Associação Nacional de Controladores de Voo considerou “irresponsável” atribuir o acidente a qualquer fator antes da conclusão das investigações. Especialistas em aviação ressaltaram que colisões desse tipo costumam envolver falhas operacionais complexas e que apenas a análise das caixas-pretas e dos procedimentos adotados pelos pilotos e controladores poderá esclarecer o que aconteceu.

O acidente ainda está sob investigação, e autoridades do setor alertam que qualquer conclusão precipitada pode atrapalhar o trabalho dos peritos.

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