Confrontos no Congo deixam população sem comida e água potável

O grupo armado M23, que enfrenta atualmente o exército da República Democrática do Congo com o apoio das forças da vizinha Ruanda, informou que pretende permanecer em Goma, capital da região de Kivu do Norte, ao leste, na fronteira entre os dois países.

Praticamente sem comida e água potável, a população desta cidade de cerca de 1 milhão de habitantes parcialmente tomada pelos rebeldes constata agora os estragos provocados pelos últimos dias de confrontos. Alguns são obrigados a atravessar a fronteira em busca de alimentos.

“Eu moro em Goma e não quero reviver os combates que vimos na segunda-feira”, desabafa um homem. Como muitos dos moradores da cidade, ele sai de casa após três dias de confrontos para constatar os estragos. Mesmo se poucos prédios foram destruídos, a situação humanitária preocupa diante da escassez de alimentos causada pelos combates que abalaram a capital da região.

“A situação está ruim”, diz outro morador de Goma, que constata uma retomada gradual do tráfego nas ruas. “Peço às autoridades que nos ajudem para termos internet, eletricidade e água”, lança ele.

“Estou com medo, pois não há comida. Isso é muito preocupante”, completa David Mugugu. “Estamos sofrendo muito”, diz outra moradora. “Estamos com fome e não temos comida suficiente. Para obter água, temos que tirar do lago, mas não podemos tratar essa água”, lamenta.

Diante dos problemas de abastecimento e da piora da situação humanitária, muitos daqueles que ousam sair de casa estão viajando para a vizinha Ruanda em busca do que não podem mais comprar em Goma. A reportagem cruzou muitos congoleses chegando em Gisenyi, cidade do lado ruandês da fronteira.

“Não saímos de casa por três dias”, conta Bally Kasereka. “Eu e minha família nos abrigamos embaixo da escada de nossa casa”, relembra esse congolês.

“Tudo foi destruído e saqueado”. “Tudo foi destruído. Os comércios foram saqueados”, conta Bally, descrevendo o que viu no caminho entre sua residência e a fronteira. “Algumas pessoas conseguiram manter provisões em suas casas, e é assim que estamos sobrevivendo”, resumiu.

“Como cortaram a internet, não conseguíamos nos comunicar. Foi também por isso que vim até aqui, para comprar um chip para meu telefone e voltar para Goma. Em termos de segurança, acho que o pior já passou. Agora precisamos de água, de eletricidade e de internet”, insiste.

A ofensiva relâmpago dos rebeldes em Goma e seus arredores fizeram mais de 100 mortos e cerca de mil feridos. Nesta quinta-feira (30), caminhões da Cruz Vermelha ainda recolhiam cadáveres que ficaram nas ruas após os confrontos e agora as Nações Unidas alertam para a situação humanitária na região.

“Ssilêncio e inércia”

O conflito entre o exército congolês e o M23, um grupo rebelde de maioria tutsi que, segundo a ONU, contaria com o apoio de 3.000 a 4.000 soldados ruandeses, exacerbou uma crise humanitária crônica na região. A RDC acusa Ruanda de tentar, com a ajuda de grupos armados como o M23, colocar as mãos nas riquezas do leste do país. Kigali nega que seus soldados estejam envolvidos com os rebeldes.

Na quarta-feira, o presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, que se mantinha em silêncio desde o início dos confrontos, fez um pronunciamento em rede nacional de televisão. Ele reconheceu o “agravamento inédito da situação em termos de segurança” no leste do país e prometeu uma “resposta vigorosa” contra os que ele qualifica de “terroristas”.

O chefe de Estado também criticou o “silêncio” e a “inércia” da comunidade internacional diante do que chamou de “barbárie do regime de Kigali”. Tshisekedi alertou para o risco de uma “escalada com consequências imprevisíveis” para toda a região.

A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos, a China e a vizinha Angola já pediram a retirada das tropas ruandesas da RDC.

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