Ibovespa fecha no vermelho com tarifas de Trump

Ibovespa recua com foco em Trump e ajuste fiscal no Brasil

Segundo análise de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, o Ibovespa oscila equilibrando influências internas e externas. Lá fora, a política monetária dos EUA continua no radar, com o dado de inflação PCE sem surpresas, mas sem pressa do Fed para cortar juros. Ao mesmo tempo, Trump volta a ameaçar tarifas sobre o Brasil e outros países do Brics, o que tem um nas ações de commodities, como Vale.

Por aqui, a taxa de desemprego subiu para 6,2%, sugerindo um começo de desaquecimento da economia, o que pode influenciar os próximos passos do Banco Central com a Selic. Já o déficit primário de 2024 ficou dentro das expectativas, trazendo um certo alívio fiscal.

No pregão, bancos aproveitam a queda dos juros futuros e sobem, mas o peso das commodities limita o avanço do índice. No campo positivo, Petrobras (PETR3; PETR4) se sobressai após anunciar um reajuste no preço do diesel, o primeiro em mais de 400 dias. A medida tende a fortalecer a rentabilidade da estatal e aumentar as expectativas de dividendos mais generosos.

Já os frigoríficos JBS e Marfrig registram ganhos, com investidores minimizando os possíveis impactos das tarifas aplicadas pelos EUA sobre México e Canadá. Como essas empresas não possuem operações verticalmente integradas, o efeito imediato sobre suas atividades deve ser reduzido, e os preços da carne podem ser impulsionados no curto prazo.

Por outro lado, Vibra lidera as quedas após o Goldman Sachs rebaixar sua recomendação para neutro, apontando que o mercado ainda não precificou completamente os efeitos da Selic elevada e da aquisição da Comerc Energia. Já Braskem recua após elevar em R$ 1,3 bilhão sua provisão para cobrir custos relacionados ao desastre geológico em Alagoas, além de anunciar mudanças estratégicas na Oxygea, seu braço de inovação.

O real segue firme e se destaca entre as moedas emergentes nesta sexta-feira, enquanto o dólar perde força. O movimento reflete, na minha opinião, a entrada de capital estrangeiro, impulsionada pelos juros altos no Brasil, que tornam o real mais atraente para investidores. Além disso, a decisão do Fed de manter os juros nos EUA e a expectativa de cortes na Europa reforçam essa tendência.

No cenário externo, Trump confirmou tarifas de 25% para México e Canadá, mas não avançou contra a China e os Brics, o que trouxe certo alívio ao mercado. No Brasil, a inflação mais controlada e um déficit fiscal dentro do esperado também ajudaram a fortalecer a moeda nacional. Sem dúvidas, janeiro foi um mês de forte queda para o dólar, que recuou mais de 5%, refletindo a redução das apostas contra o real e as intervenções do Banco Central. Mas acredito que o jogo ainda está aberto: o cenário global segue incerto, e qualquer nova tensão entre EUA e Brics pode virar essa maré rapidamente.

Tivemos uma semana agitada, com Trump reacendendo o debate sobre tarifas de 25% para México e Canadá, mas sem bater o martelo, o que manteve os mercados na defensiva. Nos EUA, o Fed decidiu pausar os cortes de juros após três reduções seguidas, sinalizando cautela diante da economia ainda aquecida. O PIB veio abaixo do esperado, mas o consumo segue firme, o que pode adiar qualquer afrouxamento monetário por lá.

Na Europa, o BCE reduziu os juros, tentando impulsionar a economia, enquanto no Brasil o Copom seguiu o script e subiu a Selic para 13,25%, deixando claro que um novo aumento vem por aí. O mercado de trabalho brasileiro mostrou sinais de enfraquecimento, mas os salários ainda sustentam algum otimismo. O real, mesmo com altos e baixos, teve uma performance mais forte que outras moedas emergentes.

Para a próxima semana, acredito que os holofotes seguem em Washington, com Trump e suas promessas protecionistas, e no Fed, que ainda não deixou claro quando pode voltar a cortar juros. No Brasil, o mercado deve reagir aos desdobramentos fiscais e à política monetária, com a Selic ainda no centro das atenções.

Confira abaixo os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices:

  • Ibovespa: 126.134,94 (-0,61%)
  • S&P 500: 6.040,46 (-0,51%)
  • Nasdaq: 19.627,44 (-0,28%)
  • Dow Jones: 44.544,60 (-0,75%)
  • Dólar: R$ 5,83 (-0,25%)
  • Euro: R$ 6,05 (-0,77%)

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