Mais de 300 mil pessoas já fugiram de conflitos no Congo, diz ONU

O confronto entre o Exército congolês e o grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda, segue se expandindo na República Democrática do Congo, RD Congo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a capital da província de Kivu do Norte, Goma, foi tomada pelo movimento e enfrenta uma situação humanitária “extremamente grave”, em razão dos combates.

Segundo o órgão, mais de 300 mil pessoas buscam refúgio nos arredores da cidade, que tem cerca de 2 milhões de pessoas. “A situação humanitária é extremamente grave em Goma e exige atenção imediata da comunidade internacional. Em nome da comunidade humanitária na RDC, apelo ao respeito pelo direito humanitário internacional e à proteção dos civis por todas as partes”, afirmou o coordenador da ONU no país, Bruno Lemarquis, por meio das redes sociais.


Entenda a situação

  • O grupo armado M23 – que sofre sanções dos Estados Unidos e da ONU – faz parte da coalizão rebelde Alliance Fleuve Congo (AFC).
  • A região onde os confrontos ocorre é rica em minerais, como o coltan, que são fundamentais para a produção de telefones e computadores.
  • No último domingo (27/1), o Congo anunciou que cortou relações diplomáticas com Ruanda, nação vizinha acusada de equipar os rebeldes com armas e combatentes.

Violação de direitos

De acordo com o porta-voz do Escritório da ONU para os Direitos Humanos, Jeremy Laurence, bombas atingiram pelo menos dois campos de deslocados internos, causando vítimas civis. Segundo ele, também foram documentadas execuções sumárias de, pelo menos, 12 pessoas pelo M23 entre 26 e 28 de janeiro.

Além disso, o órgão das Nações Unidas está verificando relatos de que 52 mulheres foram estupradas por tropas congolesas em Kivu do Sul, incluindo supostos estupros coletivos.

Deslocamentos

Em áreas sob controle do M23, escolas e hospitais foram ocupados, os deslocados foram expulsos e a população civil é alvo de recrutamento e trabalho forçado. Após a tomada de Goma, agora os rebeldes seguem rumo à Kivu do Sul.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) declarou estar profundamente preocupada com as centenas de milhares de civis deslocados nos últimos dias em Goma.

A escalada nos combates e na violência nos últimos dias forçou as pessoas, algumas já deslocadas antes, a sair de suas casas. A OIM alerta que os desalojados precisam urgentemente de abrigo, comida, água potável, assistência médica e serviços de proteção para mulheres e crianças. Itens essenciais como cobertores, esteiras e utensílios de cozinha também estão em demanda crítica.

Conflitos na RDC

A atividade armada do M23 recomeçou no Congo em novembro de 2021, com ataques contra o Exército de Kinshasa, capital do país, apoiado por milícias aliadas, no Kivu do Norte. Desde então, avançou em várias frentes até chegar a Goma.

Desde 1998, o leste da RDC enfrenta um conflito entre milícias e o Exército, apesar da presença da missão de manutenção de paz da ONU (Monusco).

Na última terça-feira (28/1), o general de divisão brasileiro Ulisses de Mesquita Gomes foi nomeado comandante da Monusco. O general atuou no Ceará em fevereiro de 2020, como reforço à segurança pública durante motim de policiais militares. Ele foi comandante da tropa empregada da Força Tarefa Felipe Camarão, durante a operação do Exército batizada de Madacaru.

A Monusco tem cerca de 12 mil militares, a maioria africanos. Durante a ofensiva do M-23, os capacetes azuis da ONU sofreram 13 baixas. Ao todo, 22 militares brasileiros estão na força das Nações Unidas. Cinco deles permanecem em Goma, pois ocupam funções no Estado-Maior da brigada. Outra parte dos brasileiros está agregada ao batalhão uruguaio, uma das unidades da Monusco, que tem autorização para usar a força.

De acordo com o Exército brasileiro, outros 10 militares estão na cidade de Beni, ao norte do país. “A situação nessa localidade permanece dentro da normalidade, sem alterações significativas na segurança”, informou o Exército.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.