Pais acusam Hospital Brasília de negligência por morte de bebê

Os pais de uma recém-nascida que morreu com 33 horas de vida acusam o Hospital Brasília de negligência médica. A família disse à coluna Grande Angular que o bebê faleceu depois da retirada de dieta zero, sem justificativa, e do atraso na realização de exames.

A professora Lia de Aquino e o músico Paulo Guimarães alegam negligência médica pelo suposto descaso da unidade hospitalar em momentos cruciais antes do falecimento da bebê Ana Raquel. A recém-nascida não apresentou nenhuma intercorrência após o nascimento, em 21 de junho de 2024, apesar do diagnóstico de Síndrome de Cimitarra, uma condição rara que afeta a drenagem venosa do pulmão, de acordo com a família.

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Lia de Aquino grávida de 37 semanas

Enxoval de Ana Raquel
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Lia de Aquino e a recém-nascida, Ana Raquel

Material obtido pelo Metrópoles

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Lia de Aquino grávida de 37 semanas

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Enxoval de Ana Raquel

Material obtido pelo Metrópoles

O Hospital Brasília também é acusado de negligência médica no caso de Miguel Fernandes Brandão, 13 anos, que morreu com corpo necrosado em razão de uma infecção bacteriana, 26 dias depois da internação na unidade do Lago Sul.

Entenda
  • Os pais de Ana Raquel processam o Hospital Brasília por negligência médica. O bebê faleceu com 33 horas de vida.
  • Segundo Paulo, a filha chorou por mais de 30 minutos sem receber assistência. Ela morreu em seguida.
  • Ana Raquel não apresentou intercorrência após o nascimento, apesar de ter Síndrome de Cimitarra, uma condição rara que afeta a drenagem venosa do pulmão direito, e dextrocardia (coração no lado direito do peito), de acordo com a família.

No caso de Ana Raquel, primeiramente, a equipe do Hospital Brasília prescreveu dieta zero até a realização de uma angiotomografia (exame para examinar artérias). Em determinado momento, uma nutricionista do hospital liberou 3 ml de leite materno e 2 ml de fórmula via sonda para a bebê, que se encontrava na UTI Neonatal para vigilância do quadro.

Veja: 

Anotação da equipe da enfermagem sobre a recém-nascida Ana Raquel em 22 de junho de 2024

No dia 22 de junho, depois de receber o líquido às 18h15, Ana Raquel dormiu, mas em questão de minutos começou a chorar sucessivamente. O pai disse que chamou pelas enfermeiras e, na primeira vez, a profissional informou que era “manha” ou gases da criança, segundo ele.

Depois de uma massagem, Ana Raquel parou de chorar, mas, assim que a profissional saiu, o choro voltou. A enfermeira retornou à UTI Neonatal e falou que ia atrás da médica. Segundo Paulo, a filha chorou por mais de 30 minutos sem receber assistência.

A mãe da criança estava em outro quarto para se recuperar da cesariana e disse que se lembra quando viu a filha morrendo, sem assistência médica. “O Paulo me mandou um áudio do choro dela. Quando eu cheguei lá, ela já estava morrendo. Ela estava com os olhos abertos, na hora que ela me viu, ela fechou o olho. Peguei na mãozinha, as unhas estavam pretas. Meu esposo estava sozinho na sala, sozinho quando eu cheguei”, contou Lia de Aquino.

Em seguida, a mãe correu para buscar atendimento junto às enfermeiras. “Eu saí andando rápido e falei: ‘Enfermeira, vem agora, a minha filha está morrendo, está com a unha preta e a saturação caiu’. Ela olhou com cara de paisagem para mim e falou: ‘ O que aconteceu lá?’. E eu falei: ‘Você tem como você vir agora?’”, relatou.

Segundo os pais, quando a enfermeira percebeu a gravidade da situação, houve “pânico no quarto”, 40 minutos depois que a profissional foi chamada pela primeira vez. Logo em seguida, a médica chegou e tentou reanimar a criança com massagem cardíaca e oxigênio mecânico, mas era tarde demais, de acordo com a mãe. Ana Raquel faleceu na noite do dia 22 de junho, 33 horas após o nascimento, por choque cardiogênico e cardiopatia congênita complexa.

“Se a médica vem no primeiro choro, quando ela já estava com bastante dor, poderia até acalmar a falta de oxigênio, esse tipo de coisa”, lamentou o pai.

Em relatório médico do dia 22 de junho, a fisioterapeuta responsável alertou que Ana Raquel tinha risco de broncoaspiração, que é uma complicação que pode agravar a aspiração pelas vias aéreas, além de hipoxemia, causada pela diminuição dos níveis de oxigênio no sangue arterial. Mesmo assim, a recém-nascida permaneceu respirando em ar ambiente, pois não apresentava sinais de desconforto, segundo o relatório. Leia:

 

Relatório médico da evolução da fisioterapia da recém-nascida Ana Raquel em 22 de junho de 2024

Lia de Aquino afirmou que, após a confirmação da morte da filha, não recebeu nenhum acompanhamento psicológico ou com assistente social no Hospital Brasília. Ela apenas retornou para o quarto e pediu alta o mais rápido possível para poder enterrar Ana Raquel.

Gravidez de risco 

Lia de Aquino descobriu durante o pré-natal que o feto tinha dextrocardia (coração no lado direito do peito). A dextrocardia é uma condição congênita que afeta o funcionamento do órgão por defeitos nos átrios, ventrículos e válvulas cardíacas. Em alguns casos, o mau posicionamento prejudica as artérias e o médico pode indicar uma cirurgia para corrigir o defeito.

Inicialmente o parto estava programado para a Maternidade Brasília, mas foi transferido para o Hospital Brasília, sob a alegação de que a unidade possuía uma estrutura de UTI mais adequada para o caso da bebê, segundo a família.

O prontuário médico descreve os procedimentos feitos logo depois do nascimento de Ana Raquel e destaca melhora da recém-nascida: “Levamos ao berço aquecido, posicionamos, secamos, trocamos panos úmidos, monitorizamos. Observamos permanência de saturação abaixo, realizamos um ciclo de VPP [ventilação com pressão positiva], com melhora em seguida”.

Ação judicial 

Os pais da recém-nascida pedem na Justiça uma indenização de R$ 500 mil por danos morais e materiais contra a Maternidade Brasília e o Hospital Brasília, alegando negligência médica. A ação tramita na 7ª Vara Cível de Brasília.

A defesa do Hospital Brasília disse que o bebê “não suportou a transição da circulação fetal para a circulação sanguínea fora do útero e fez uma parada cardíaca irreversível”.

Em nota enviada ao Metrópoles, a assessoria do Hospital Brasília lamenta o ocorrido e afirma que, “desde o pré-natal, foi constatado que o quadro de saúde da paciente era grave, condição que foi cuidadosamente acompanhada pela nossa equipe médica especializada”. A unidade hospitalar disse que “permanece à disposição da família e das autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos necessários”.

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