A solução final de Trump para Gaza passa pela retirada dos palestinos

Dirão os que o defendem, já começaram a dizer, que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, fala grosso e ameaça o mundo só para extrair vantagens e depois negociar de uma posição de força. É por isso que não se deve levar a sério tudo o que ele diz. Trump não taxou as compras de produtos do Canadá e do México e recuou em menos de 24 horas? Não acenou com a deportação para outros países de americanos condenados por crimes bárbaros, e agora diz que só o fará se a lei permitir? A lei não permite.

A verdade é que Trump é Trump, um falastrão de escola, um exibicionista de primeira, um disseminador de falsas notícias assombrado pelo fato de que só governará os Estados Unidos por mais quatro anos sem direito à reeleição, porque esse é o seu segundo mandato e a lei proíbe um terceiro. É um “pato manco” como se diz por lá. Mas isso não importa. Importa que ele preside a maior potência militar e econômica do mundo, e o que fala reverbera por toda parte e influencia o destino da humanidade.

Ao receber ontem o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na Casa Branca, Trump disse que todos os dois milhões de palestinos da Faixa de Gaza deveriam ser transferidos para países como Egito e Jordânia por causa da devastação causada pela campanha de Israel contra o Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023. Em pouco mais de um ano de guerra, o Hamas matou 1.200 pessoas, entre civis e soldados, e Israel, ao retaliar, cerca de 47 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças.

“Os Estados Unidos tomarão conta da Faixa de Gaza, e nós também faremos um trabalho com ela”, disse Trump em uma entrevista coletiva. “Nós a possuiremos e seremos responsáveis” por descartar munições não detonadas e reconstruir Gaza, “tornando-a uma nova meca para empregos e turismo” de milionários americanos. Soando como o empreendedor imobiliário que sempre foi, que tratorava seus concorrentes, Trump prometeu transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”.

Por décadas, o controle de Gaza tem sido um dos principais pontos críticos do conflito árabe-israelense, e a ideia de realocar seus residentes palestinos relembra uma era em que grandes potências ocidentais redesenharam os mapas da região e moveram populações sem levar em conta sua autonomia. Os europeus procederam da mesma forma ao redesenharem o mapa da África, dominando-a para explorar suas riquezas. Trump não citou nenhuma autoridade legal que lhe dê o direito de ocupar Gaza.

A remoção forçada de um povo viola o direito internacional e mais de 50 anos de consenso de política externa americana em ambos os partidos – Democrata e Republicano. A proposta de Trump vem no momento em que os Estados Unidos buscam garantir a segunda fase do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, projetada para libertar os reféns restantes em Gaza e pôr fim à guerra. Os negociadores descreveram sua tarefa como excepcionalmente difícil. O Hamas, que governa Gaza desde os anos 70, recusou a proposta de Trump.

O Egito e a Jordânia são contra a remoção dos palestinos de Gaza. “Eles dizem que não vão aceitar”, admitiu Trump ao reunir-se com Netanyahu no Salão Oval da Casa Branca. “Pois eu digo que vão.” O primeiro-ministro de Israel sorriu satisfeito. Mais tarde, durante a entrevista coletiva, Netanyahu cobriu Trump de elogios:

– Você vai direto ao ponto. Você vê coisas que os outros se recusam a ver. Você diz coisas que os outros se recusam a dizer, e depois que os queixos caem, as pessoas coçam a cabeça e dizem: ‘Você sabe, ele está certo.’ Este é o tipo de pensamento que irá remodelar  o Oriente Médio e trará paz.

Trará mais guerras e mortes, alimentando a contínua expansão do território de Israel.

 

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