Em frente, Bolsonaro. Ninguém à direita tem mais votos do que você

Verdade que em julho de 2002, ao reunir-se com seus ministros, você disse que não teria chances de derrotar Lula dali a três meses, e convidou-os a aderir a um golpe de Estado antes do final do ano. No primeiro turno, você ficou cinco pontos percentuais atrás de Lula. No segundo, porém, e para seu espanto, você quase ganhou.

De lá para cá, você só faz apanhar dos seus adversários e também dos falsos amigos. Indiciado pela Polícia Federal por tentativa violenta de abolição do Estado Democrático, está às vésperas de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República. É certo que o Supremo Tribunal Federal receberá a denúncia e o condenará.

Mas você se diz inocente. Você se diz vítima de uma trama odiosa urdida pela esquerda e pelo ministro Alexandre de Moraes para riscá-lo do mapa político do país, e não só você, mas  seus filhos, sua mulher e possíveis herdeiros de sua luta. Então, Bolsonaro, resista. Vá além do corredor de pouco fôlego que foi como soldado.

Veja bem: embora condenado e preso em Curitiba, Lula foi até onde pôde a dizer que seria candidato a presidente na eleição de 2018. E só quando o Tribunal Superior Eleitoral decretou em definitivo sua inelegibilidade, faltando 30 dias para o primeiro turno, foi que ele lançou a candidatura de Fernando Haddad (PT).

Uma jogada de mestre, a de Lula. Manteve-se na vitrine o quanto deu, transferindo depois para Haddad grande parte dos seus votos. Haddad foi para o segundo turno e a derrota dele para você não foi tão feia para quem fez campanha tão rápida. Você poderá repetir Lula. E, na última hora, apoiar um nome marcadamente seu.

Há uma semana, a mais recente pesquisa Quaest mostrou algo interessante. Quando os eleitores respondem em quem poderão votar para presidente em 2026 sem que lhes seja apresentada uma lista de candidatos, você, Bolsonaro, e Lula aparecem empatados com 9%, e o cantor Gusttavo Lima com 1%. São os únicos citados.

Ok, a eleição não é hoje, e no dia que for, os nomes dos candidatos estarão nas urnas eletrônicas para escolha do cidadão. Mas todos ou praticamente todos que votarem saberão quem você apoia. Se seu indicado perder, ninguém lhe atribuirá a derrota. Não atribuíram a Lula a derrota de Haddad. Você seguirá influente.

E se por artes do destino, e com o voto envergonhado da direita de punhos de renda, seu candidato acabar eleito? As portas da liberdade se abrirão outra vez para você, Bolsonaro. Quem sabe na eleição de 2030, você poderá voltar como presidente ou senador, depois de indultado pelo candidato que venceu Lula?

Neste país, mas não só, a política é o terreno das coisas mais improváveis. Aqui, um ditador dos mais sangrentos (Getúlio Vargas) voltou ao poder nos braços do povo, matando-se depois para não ser deposto. Aqui, um político esmagadoramente eleito (Jânio Quadros), mas que vivia de porre, renunciou à Presidência.

Dos presidentes eleitos desde o fim da ditadura militar, um morreu sem tomar posse (Tancredo Neves) e dois foram impedidos (Fernando Collor e Dilma). Quer história mais bizarra do que a de Lula, um retirante da seca do Nordeste, que governa o país pela terceira vez e que poderá governá-lo pela quarta?

Confie e vá em frente, Bolsonaro. Não ligue para os que desde já querem culpá-lo por uma eventual derrota da direita em 2026. Os verdadeiros patriotas jamais o esquecerão.

 

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