EXCLUSIVO – Pescadores do Xingu denunciam “calote” e descaso da Norte Energia: 13 anos de miséria

Há 13 anos, milhares de pescadores, agricultores e ribeirinhos impactados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ainda aguardam a indenização prometida pela empresa Norte Energia, gestora do empreendimento. Apesar de um acordo firmado entre as partes, até hoje as compensações ambientais e sociais não foram pagas, deixando as comunidades afetadas em uma situação de extrema vulnerabilidade.

Nesta semana, cerca de 200 manifestantes viajaram a Brasília para exigir seus direitos, protestando em frente à sede da Norte Energia. Os manifestantes pediram ajuda ao Ver-o-Fato para denunciar o que está acontecendo e acusam a empresa de dar “calote”, cobrando o cumprimento das promessas feitas há mais de uma década.

Em suas palavras, eles relatam o desespero diante das dificuldades enfrentadas para sobreviver, muitos afirmando que estão passando fome.

Um dos manifestantes, visivelmente indignado, expressou sua frustração: “Que é o rio, que é os peixes do nosso rio. Norte Energia, paga nossa indenização, tá louco? Prometeram pra nós o CIPAR (Centro Integrado de Pesca Artesanal), fizeram até cerimônia de entrega, mas nunca entregaram. E agora, no ano passado, foram lá e tiraram dos pescadores. A única coisa que ainda funcionava era uma fábrica de gelo. Hoje estamos aqui, com a nossa energia, pedindo: paga a nossa indenização, empresa caloteira.”

Outro pescador, também revoltado, reforçou a gravidade da situação: “Estamos correndo atrás dos nossos direitos. Acho que os pescadores que vieram reivindicar aqui já não aguentam mais esperar tantos anos. Eles estão sufocados, passando fome em Altamira e região, e agora vieram para Brasília protestar para que sejam vistos pelas autoridades. O impacto não é negado, é reconhecido pela própria empresa, mas nada do que foi prometido saiu do papel.”

Os manifestantes destacam que o sofrimento causado pelo empreendimento afeta diretamente suas vidas, destruindo a economia local e a subsistência das famílias que dependem dos recursos naturais do Xingu. “Prometeram mundos e fundos e até hoje nada, zero, nada. Estamos aqui correndo atrás dos nossos direitos, porque em Brasília eles não sabem o que está acontecendo na nossa região do Xingu. O grito de lá não alcança aqui.”

A situação é crítica e a urgência dos manifestantes reflete a desesperança de quem já esperou por justiça por mais de uma década, sem ver qualquer avanço concreto. A Norte Energia, por sua vez, ainda não se pronunciou sobre as reivindicações dos manifestantes.

O Ver-o-Fato tentou falar diretamente com a direção da Norte Energia, mas não obteve sucesso. O espaço está aberto à manifestação.

O desabafo de dona Francisca

Dona Francisca, vice-presidente da Colônia Z12 de Vitória do Xingu, expressou sua indignação e frustração em meio aos protestos realizados em frente ao escritório da Norte Energia, em Brasília. Ao lado de outros pescadores e ribeirinhos, ela reivindica a indenização pelos impactos causados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, um conflito que já se arrasta por muitos anos.

“Nós estamos aqui numa batalha que já faz muito tempo. Temos sido prejudicados pela Norte Energia, que só vem com mentiras para o nosso lado”, desabafa Dona Francisca. “Somos ribeirinhos, batalhadores daquela área que foi atingida pela barragem, e queremos nossa indenização. Projeto nós não aceitamos mais. Queremos o que é nosso por direito.”

A vice-presidente destaca a insatisfação da comunidade em relação aos projetos oferecidos pela empresa, que, segundo ela, não atendem às necessidades dos afetados. “A nossa energia só trouxe prejuízo para nós. Não queremos mais projetos, não queremos mais nada que venha dela. O que queremos é a nossa indenização”, afirmou.

As palavras de Dona Francisca refletem o sentimento de desamparo e a luta persistente dos pescadores e ribeirinhos, que veem suas vidas transformadas negativamente pelos impactos ambientais e sociais causados pela hidrelétrica. A luta pela indenização se torna uma questão de sobrevivência, diante das promessas não cumpridas e da sensação de abandono por parte das autoridades e da empresa responsável.

Giácomo narra aflição

Em um contundente relato ao Ver-o-Fato, o pescador artesanal definiu o que ele, sua família e todos os prejudicados na região do Xingu estão sofrendo. Leia abaixo:

“Me chamo:Giacomo Dall”Acqua Schaffer . Sou pescador artesanal do município de Vitória do Xingu do estado do Pará município no qual está construída e situada a UHE Belo Monte, e conforme avançavam-se as obras, a escassez de peixes aumentava até ao ponto de não ter como mais sustentar nossas famílias.

Assim como eu milhares de famílias ficaram sem condições de tirar o sustento da pesca que outrora era farta. Ainda no ano de 2012, após a primeira manifestação dos pescadores com bloqueio da BR 230 Transamazônica, em uma reunião acalorada entre Norte Energia e a participação de mais de 2.500 pescadores a empresa se comprometeu em pagar uma indenização aos pescadores na época, porém a empresa usou de má fé para com os pescadores e não os pagou.

Dai seguiram-se as manifestações fechamos/bloqueamos por varias vezes, ano após ano o Rio Xingu, a BR Trasamazônica e a entrada do canteiro de obras da UHE Belo Monte. E após anos de uma batalha sangrenta o Ibama no ano de 2015 publicou a Licença de Operação e junto com essa licença a condicionante 2.24 aliena b”, entendendo o ibama que com isso contemplaria aos anseios dos pescadores.

Na época acreditávamos que com isso teríamos nossos direitos reconhecidos e respeitados, porém o que ocorreu e ocorre é que a empresa Norte Energia, com muito esforço dos pescadores, se comprometeu a implantar e custear aos pescadores assistência técnica e projetos produtivos de geração de renda.

Porém, 9 anos já se passaram e não houve a implantação de nenhum projeto que atendesse a um pescador e ao que a condicionante determina, no entanto os danos causados, prejuízos e direitos usurpados pela empresa Norte Energia continuam.

Sendo assim não nos restou outra opção, as necessidades por sobreviver nos trouxeram à Brasília pois se passamos fome em casa com nossos filhos , precisamos mostrar o resultado da realidade das ações causadas pela empresa Norte Energia.

Estamos certos. Hoje, após termos tentado todo tipo de acordo com a empresa e ainda assim ela não cumpriu ao longo desses 13 anos . Hoje temos por certo que nossa pauta, o pedido de indenização, é a solução mas acertada para que todos os pescadores possam decidir o que é melhor para suas famílias. Obrigado. Queremos nossa indenização já”.

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