Galípolo ainda projeta inflação fora da meta e economia desacelerando

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta sexta-feira (14/2) que o Brasil ainda terá de conviver por mais algum tempo com uma inflação acima da meta e uma atividade econômica em desaceleração.

O chefe da autoridade monetária participou de uma reunião com representantes do setor industrial na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista.

Galípolo disse que o aperto monetário colocado em prática pelo BC, elevando a taxa básica de juros para 13,25% ao ano, deverá começar a surtir efeito em breve, desaquecendo a economia e contendo a pressão inflacionária. A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, no fim de janeiro, a taxa Selic subiu 1 ponto percentual (estava em 12,25% ao ano). Foi a quarta alta consecutiva dos juros básicos da economia brasileira.

“Seja porque o esforço fiscal feito como reação à pandemia, que foi maior nos países avançados do que nos emergentes, impôs uma necessidade de rolagem de financiamento de dívida, seja porque aquela impressão inicial sobre o impacto da pandemia e da invasão da Ucrânia nas cadeias globais de valor poderia ser transitório e passageiro, tivemos uma inflação mais persistente, que demandou por parte das autoridades monetárias uma elevação das taxas de juros. Isso trouxe os juros para patamares mais elevados”, explicou Galípolo.

“Passamos a enxergar uma pressão inflacionária mais alta e gabaritamos as razões para iniciar um ciclo de alta de juros”, prosseguiu o presidente do BC, em referência ao caso brasileiro.

“A autoridade monetária interrompeu o ciclo de flexibilização monetária. A partir da reunião de dezembro, a autoridade fez um movimento claro para mover a taxa de juros para um patamar restritivo com alguma segurança.”

Em sua fala aos empresários da indústria, o chefe da autoridade monetária afirmou que “a política monetária fará o seu efeito primeiro na atividade econômica e depois na inflação corrente”.

“É sempre esperado que a autoridade monetária tenha uma atuação preventiva e que, para além disso, ela tenha uma função de reação assimétrica. É esperado que ela tenha uma agressividade maior nos momentos de altas de juros e mais parcimônia no consumo dos dados. É importante que a autoridade monetária não reflita essa volatilidade para não replicá-la”, observou Galípolo.

“Você deve observar um pouco dessa combinação. A atividade tende a reagir primeiro antes dos preços e da inflação corrente. Você pode ter uma combinação ainda entre uma inflação fora da meta e uma atividade que vem desacelerando”, completou.

Economia do Brasil superou expectativas, diz Galípolo

Na reunião com os representantes da Fiesp, Gabriel Galípolo destacou que a economia brasileira vem superando as expectativas que grande parte do mercado tinha no início de 2024.

“No Brasil, estamos indo para o quarto ano consecutivo de um crescimento acima do que era projetado pelo mercado e pelo próprio BC e também acima do que a maior parte dos analistas do mercado reputa ser o crescimento potencial do país”, disse.

“Uma das explicações é que as reformas que ocorreram nos últimos anos possam ter promovido alterações estruturais na economia brasileira, a ponto de que ganhos de produtividade elevaram o PIB potencial do país. Acho que é uma tese que demanda mais tempo para analisarmos”, prosseguiu o presidente do BC.

“Se analisarmos as expectativas do início de 2024 por parte dos agentes de mercado, as revisões maiores estão concentradas no crescimento econômico, na inflação e na taxa de juros. Os números relativos ao resultado primário ou à relação dívida-PIB não tiveram uma revisão tão forte. Os números finais apresentados foram melhores do que se imaginava inicialmente”, concluiu Galípolo.

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