Apoio ao governo ficará mais caro com a queda da popularidade de Lula

Estamos a quase 10 meses do fim de 2025, o ano que Lula considera, e com razão, o mais decisivo para a sorte do seu terceiro governo. Se ele não chegar bem até lá, dificilmente terá chances de se reeleger em outubro de 2026, como tanto quer.

Naturalmente, isso Lula não diz, nem mesmo em conversas com seus companheiros mais próximos, para não parecer desde já que poderá jogar a toalha. De resto, pela esquerda, não teria para quem jogá-la. Talvez fosse obrigado a ir para o sacrifício.

A aprovação de Lula desabou em dois meses de 35% para 24%, alcançando um patamar inédito para ele em suas três passagens pelo Palácio do Planalto, segundo a mais nova pesquisa do Datafolha. A reprovação também é recorde: passou de 34% a 41%.

Acham o governo regular 32%, ante 29% em dezembro, quando o Datafolha havia feito sua última pesquisa. Foram ouvidos 2.007 eleitores em 113 cidades, na segunda (10) e na terça-feira (11), com margem de erro geral de dois pontos para mais ou menos.

Na parcela dos brasileiros que ganham até dois salários-mínimos, a aprovação despencou de 44% para 29%. Eles representam 51% da amostra populacional do Datafolha, e a margem de erro nesse grupo é de três pontos percentuais apenas.

Nos 33% dos ouvidos que só têm ensino fundamental, a queda foi também de 15 pontos: de 53% para 38%. Aqui, a margem de erro é de quatro pontos. Mesmo no Nordeste, reduto eleitoral de Lula e sua principal fortaleza, o ótimo/bom caiu de 49% para 33%.

Entre eleitores de Lula no segundo turno contra Bolsonaro em 2022, o recuo foi de 20 pontos, chegando a 46%. A desaprovação quase dobrou (7% para 13%), mas a desconfiança fez a opinião migrar mais para o regular, que foi de 27% para 40%.

O deputado federal Jilmar Tatto (SP), secretário de Comunicação do PT, admite que a avaliação do governo Lula atingiu o “fundo do poço”, mas que a situação ainda não é desesperadora:

“Chegou nesse ponto em função de tudo que aconteceu neste período mais recente. Tem que reagir, e reagir rápido”.

Tatto refere-se à batalha perdida pelo governo em janeiro quando a oposição disseminou a notícia falsa de que seriam taxadas as transações via Pix superiores a cinco mil reais. Refere-se também ao aumento no preço dos alimentos, cuja culpa não é do governo.

Pode não ser. Mas o eleitor insatisfeito costuma culpar  por tudo o governo de ocasião. A inflação nos Estados Unidos estava em baixa, mas a percepção dos americanos era de que estava em alta. Então derrotaram o presidente Joe Biden e sua candidata.

Outras pesquisas recentemente divulgadas, entre elas a da Quaest, mostraram que Lula segue favorito para se reeleger e que venceria qualquer um dos atuais aspirantes a candidato. Ocorre que a eleição não é hoje ou amanhã, só daqui a quase 20 meses.

Essa constatação serve para os dois lados: para animar Lula a tentar se recuperar, e para injetar ânimo na oposição que pretende impedi-lo de conquistar o quarto mandato. Governo é forte mesmo quando está ladeira abaixo. Bolsonaro estava, mas quase se elegeu.

Disse Lula, ontem, antes de conhecer os resultados da pesquisa Datafolha:

“2025 é meu ano. Agora, se eu vou ser candidato ou não… Eu tenho 79 anos, não posso mentir para ninguém nem para mim. Se eu tiver 100% de saúde, como estou hoje…”

Não se aterrorize ou não comemore a frase que Lula não concluiu. Ele é suficientemente esperto para esconder o que fará, deixando os caminhos abertos para trilhar qualquer um deles. O mais provável é que seja candidato mesmo arriscando-se a perder.

Por enquanto, de certo em 2025, só existem duas coisas à vista: Lula terá de pagar mais caro pelo apoio de partidos ao seu governo; e Bolsonaro será condenado pelo Supremo Tribunal Federal a uma pena elevada. Nesse caso, eu acho é pouco.

 

Todas as Colunas do Blog do Noblat

Adicionar aos favoritos o Link permanente.