Quinta da Opinião: Como os bancos escravizam os brasileiros

Foto: Vinícius Antohaki | Advogado

O superendividamento da população brasileira atingiu níveis alarmantes, afetando aproximadamente 73,10 milhões de pessoas, o que representa 76% das famílias do país, que enfrentam dificuldades financeiras devido ao acúmulo de dívidas.

Esse cenário é impulsionado por um sistema financeiro predatório, que estimula o consumo desenfreado e concede crédito de forma irresponsável, sem avaliar a capacidade de pagamento dos consumidores. Para os bancos, não importa se a dívida é sustentável, apenas que ela continue existindo (afinal, quanto mais tempo uma pessoa deve, mais dinheiro os bancos lucram).

Bancos e financeiras adotam diversas estratégias para atrair clientes, oferecendo produtos como empréstimos pessoais, crédito rotativo, cheque especial, consórcios e financiamentos de longo prazo, muitas vezes sem considerar a real capacidade de pagamento dos consumidores.

Com promessas de dinheiro fácil e soluções rápidas, milhões de brasileiros acabam presos em um ciclo de dívidas intermináveis, onde o rendimento mal entra na conta e já é consumido por parcelas, juros abusivos e renegociações desvantajosas.

O problema não está apenas na falta de planejamento financeiro dos consumidores, mas principalmente na forma como as instituições financeiras impõem contratos com cláusulas abusivas e juros que crescem exponencialmente.

O crédito consignado, por exemplo, que deveria ser uma alternativa segura, tornou-se uma armadilha para aposentados e servidores públicos, que frequentemente têm grande parte de sua renda comprometida com descontos diretos na folha de pagamento. Muitos idosos, que deveriam aproveitar uma aposentadoria tranquila, se veem obrigados a escolher entre pagar suas dívidas ou comprar remédios e alimentos.

Os impactos desse endividamento vão muito além do bolso. O superendividamento adoece. Ele gera ansiedade, tira o sono e corrói a dignidade. Pequenos negócios são afetados pela queda do consumo, enquanto a inadimplência se torna um problema sistêmico, impactando desde a desaceleração da economia até o aumento do desemprego e da desigualdade social.

Diante dessa realidade, cresce o movimento de consumidores que buscam romper com essa dependência financeira imposta pelos bancos. Cada vez mais pessoas estão questionando contratos abusivos, exigindo a revisão de cláusulas ilegais e, em muitos casos, recorrendo à Justiça para reaver o que lhes foi tirado.

O acesso à informação tem permitido que consumidores conheçam melhor seus direitos e busquem alternativas para renegociar suas dívidas de forma mais justa, sem cair em novas armadilhas financeiras. Esse movimento de resistência expõe a insatisfação generalizada com o sistema bancário e pressiona as instituições a oferecerem soluções menos exploratórias (se vão fazer, é outra história).

O sistema financeiro precisa respeitar os consumidores, garantindo relações mais justas e equilibradas, em vez de tratar o cidadão apenas como uma cifra. Enquanto os bancos continuam lucrando bilhões às custas do desespero alheio, milhões de brasileiros tentam sobreviver ao peso de dívidas que jamais conseguirão quitar.

O povo brasileiro não pode continuar refém de um sistema que transforma trabalho em desespero, salário em dívida e sonhos em números vermelhos.

Vinícius Antohaki | Advogado
@viniciusantohaki
Vinícius Antohaki possui formação em Direito pela Unoesc, é pós-graduado em Processo Civil pela Damásio Educacional S/A, e especialista em Direito do Consumidor. Com uma carreira pública de 10 anos e experiência como coordenador do Procon de Chapecó/SC. 

Possui ampla experiência na advocacia empresarial, destacando-se pela abordagem estratégica na defesa dos interesses dos clientes e pelo compromisso com a ética profissional.

www.antohaki.com.br

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