Tortura e fuga: brasileiros vítimas de tráfico humano na Ásia chegam ao Brasil

Os dois brasileiros vítimas de tráfico humano em Myanmar, na Ásia, chegaram ao Brasil nessa quarta-feira (19). Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, foram seduzidos por promessas de emprego na Tailândia, mas acabaram sequestrados e levados a Myawaddy, cidade de Myanmar, país que vive em guerra civil.

Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos foram para a Tailância no fim de 2024 e foram escravizados por uma máfia que cometia golpes virtuais

Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos foram para a Tailância no fim de 2024 – Foto: Record/R7

Aprisionados, eles eram obrigados, por uma máfia local de origem chinesa, a aplicar golpes financeiros para arrecadar recursos para a organização. Caso não conseguissem alcançar metas, eram torturados.

“Muito difícil estar lá. Eles batiam na gente quase todos os dias. Tinha máquina de choque também. A gente sofreu bastante. Essas aqui são marcas das algemas, a gente ficava 17 horas presos assim”, disse Luckas dos Santos na chegada ao Brasil.

“[Agora] eu estou feliz, estou feliz de estar aqui com a minha mãe. Eu sei que ela ficou muito preocupada”, acrescentou.

Brasileiros vítimas de tráfico humano foram seduzidos por proposta de emprego

Luckas trabalhou em uma empresa de games nas Filipinas e depois em um hostel, na Tailândia. Em outubro do ano passado, encontrou uma proposta de emprego com salário de R$ 8 mil por mês e decidiu aceitar.

Brasileiros foram vítimas de tráfico humano por uma máfia de origem chinesa

Brasileiros vítimas de tráfico humano chegaram ao Brasil nessa quarta-feira (19) – Foto: Record/R7

“Eu peço para o pessoal ver bem as oportunidades que eles estão recebendo, porque, como aqui no Brasil o salário não é tão bom, fica a ilusão, porque é como se fosse cinco, seis vezes mais [o salário]. E, no caso, eu aceitei [a proposta] porque eu já estava na Tailândia e eu estava procurando alguma coisa lá. Um amigo me mandou no grupo, e achei que era algo sério”, disse à Agência Brasil.

Tortura e plano de fuga

Os brasileiros vítimas de tráfico humano contaram que tentaram fugir do local onde estavam aprisionados, mas acabaram sendo pegos e torturados. O complexo onde eles ficavam era vigiado por, aproximadamente, 300 homens armados.

“A gente não conseguiu fugir. A gente bolou o plano, só que nesse plano a gente tinha que escalar três montes e correr mais 22 quilômetros para tentar cruzar um rio para chegar na Tailândia. Eu consegui escalar um monte. No terceiro monte, veio um guarda com uma faca e mandou eu voltar. E foi isso. Eles pegaram todo mundo”, disse Phelipe.

Brasileiros vítimas de tráfico humano foram torturados e escravizados na Ásia – Foto: Record/R7

“Aí, eles espancaram a gente. Minhas pernas também estão todas roxas. Espancaram a gente. E ficaram ameaçando a gente, falando que a gente nunca ia sair de lá, que a gente iria morrer”, acrescentou.

Segundo Phelipe, um dos brasileiros vítimas de tráfico humano, a saída deles do local ocorreu com a ajuda da ONG Exodus Road Brasil e um acordo com o DKBA (Exército Budista Democrático Karen), grupo rebelde armado que domina a região onde fica a máfia que escravizou os brasileiros.

O jovem esperava mais apoio das autoridades brasileiras na operação de resgate, mas informou que as passagens de volta foram pagas pelo Itamaraty.

O Ministério das Relações Exteriores foi procurado nessa quarta-feira (19), mas ainda não se manifestou. No último dia 12, em nota, a pasta informou que, por meio das embaixadas em Yangon, no Myanmar, e em Bangkok, na Tailândia, vinha solicitando os esforços das autoridades competentes, desde outubro do ano passado, para a liberação dos brasileiros vítimas de tráfico humano.

O Itamaraty acrescentou que busca conscientizar os brasileiros que buscam emprego no exterior sobre os riscos do tráfico e contrabando de pessoas, com guias online e informes sobre os perigos das ofertas de empregos no Sudeste Asiático.

*Com informações do R7 e Agência Brasil.

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