Bola de Neve: após acordo, denúncia de desvio de dinheiro é extinta

São Paulo — A disputa pelo comando da Igreja Evangélica Bola de Neve envolveu uma ampla batalha judicial. Ao longo dos últimos meses, a pastora Denise Seixas, que brigava pelo posto de presidente da instituição, acusou o conselho deliberativo da igreja de desvio de dinheiro e fraudes. No entanto, ao renunciar ao cargo neste mês, a viúva do apóstolo Rina também declinou das denúncias de irregularidades.

Em 11 de fevereiro, dois dias antes de divulgar que entrou em um acordo com o colegiado e abdicou do mais alto cargo da sede religiosa, a cantora gospel manifestou judicialmente a desistência do processo. Na última quinta-feira (20/2), conforme documento obtido pelo Metrópoles, o juiz Rogério Márcio Teixeira, da 34ª Vara Cível, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), extinguiu a ação.


Entenda a disputa 

  • Composta por mais de 500 templos e com cerca de R$ 250 milhões de arrecadação anual, a instituição reúne milhares de pastores, líderes religiosos e fiéis.
  • Após a morte do fundador, Rinaldo Luiz de Seixas, vítima em novembro do ano passado de um politraumatismo depois de um acidente de moto, a viúva de Rina e o conselho deliberativo foram protagonistas de ampla disputa pelo comando da sede religiosa.
  • A pastora e cantora gospel Denise Seixas acusou o colegiado de fraude e desvio de dinheiro.
  • Um documento com supostas provas foi enviado ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), que investiga o caso.
  • Denise reuniu indícios de atuação indevida por parte de membros do conselho deliberativo da Bola de Neve, que, segundo ela, “poderiam resultar em sérios prejuízos irreparáveis de ordem material e/ou moral, principalmente com relação à sua credibilidade pública”.
  • A Justiça reconheceu Denise como presidente interina da igreja evangélica. No entanto, ela renunciou ao cargo em 13 de fevereiro.

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O pastor Rina era líder e fundador da Igreja Bola de Neve

Em meio a uma ampla disputa judicial pelo comando da Bola de Neve, a pastora Denise Seixas se tornou presidente interina
Denise Seixas e Rinaldo Luiz de Seixas Pereira foram casados
Ele morreu em 17 de novembro deste ano
Após uma queda de moto, Rina teve um politraumatismo
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O comando da Igreja Bola de Neve foi alvo de disputa judicial

Igreja Bola de Neve/Reprodução

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O pastor Rina era líder e fundador da Igreja Bola de Neve

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Em meio a uma ampla disputa judicial pelo comando da Bola de Neve, a pastora Denise Seixas se tornou presidente interina

@deniseseixas/Instagram/Reprodução

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Denise Seixas e Rinaldo Luiz de Seixas Pereira foram casados

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Ele morreu em 17 de novembro deste ano

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Após uma queda de moto, Rina teve um politraumatismo

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Ela também é cantora gospel

@deniseseixas/Instagram/Reprodução

Denúncia de desvio de dinheiro na Bola de Neve

Denise Seixas teria oficializado o Banco Bradesco, instituição financeira em que mantém a conta corrente da igreja, para cumprimento de ordem judicial. Ela havia solicitado o acesso a todas as contas de titularidade da Bola de Neve, após a morte do ex-marido.

No entanto, a pastora acusou o conselho de ter passado a movimentar as receitas recebidas pela instituição religiosa por meio de outra conta bancária, mantida em outra instituição financeira, sob o nome fantasia BMP Money Plus, com razão social BMP Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e a Empresa de Pequeno Porte Limitada.

De acordo com a defesa de Denise, por meio da instituição financeira BMP Money Plus, os acusados teriam recebido as receitas de titularidade da igreja, mediante a emissão de notas fiscais. No processo, a pastora apresentou 10 comprovantes, supostamente emitidos entre janeiro e outubro de 2024, que totalizam mais de R$ 442 mil.

Na notificação judicial, equipe jurídica da pastora pediu que os envolvidos prestassem esclarecimentos necessários sobre a movimentação de contas correntes de titularidade dela, assim como a vigência de decisões judiciais no sentido de impedir a referida movimentação financeira, sob pena de incorrer na prática do crime de desobediência.

Conforme documento obtido pelo Metrópoles, a SIAF Solutions Serviços de Tecnologia Limitada, registrada no nome de Ribeiro, controlava a receita com dízimos e taxas e arrecadou cerca de R$ 492 mil por meio de 57 notas fiscais reunidas. A empresa de softwares, que também prestaria serviços para outras igrejas evangélicas, fornece maquininhas de cartão.

O objetivo seria supostamente “centralizar ao máximo toda a arrecadação de dízimos e doações”, segundo a denúncia. “Há a aplicação de uma taxa que pode variar de 3% a 5% sobre o total arrecadado nos templos da Igreja Bola de Neve”, diz a peça.

Entre as acusadas, também está a empresa Green Grid Energy, fundada por Ribeiro e responsável por serviços de consultoria financeira à igreja. O arquivo enfatiza que a companhia, criada em maio deste ano, declarou faturamento de R$ 6 milhões.

Outra empresa citada na denúncia é a Filhos do Rei Serviços de Conservação, que tem como sócia Kelly Cristina Ribeiro Bettio, irmã de Everton Ribeiro. Ela emitiu notas fiscais que chegam a um valor milionário, “embora não se tenha clareza acerca da natureza dos serviços contratados” pela Bola de Neve.

Posicionamento da igreja

O conselho deliberativo da Bola de Neve disse que a gestão está “totalmente de acordo com a legislação e boas práticas de conformidade”. O colegiado também assegurou que a igreja segue à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades competentes.

“Há mais de uma década, as contas e os contratos da organização são auditados anualmente e aprovados sem restrições por empresa multinacional, cuja expertise e seriedade são reconhecidas pela qualidade e regularidade dos serviços prestados. Os contratos questionados, aliás, datam de um período em que a própria pastora Denise fazia parte da direção da igreja”, apontou, em nota.

Citado na denúncia, Everton César Ribeiro argumentou que Denise Seixas faz acusações falsas. “Nossos contratos são regulares e auditados e foram firmados quando a pastora ainda ocupava a direção da igreja, o que permite concluir que ou ela age com má-fé ou omissão.”

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