Quanto alocar em investimentos no exterior?

Quanto alocar em investimentos no exterior?

Começo este Insight com uma pergunta que recebemos diariamente aqui na Avenue: Quanto alocar em investimentos no exterior?

Observamos que, uma vez que os investidores entendem a necessidade e os benefícios de uma alocação internacional, a pergunta subsequente é justamente essa que dá título ao artigo.

Ok, mas qual percentual alocar no exterior?

De forma prática e objetiva, não existe uma resposta única para essa pergunta. A solução depende da construção de uma visão completa. Não quero aqui complicar as coisas, mas a resposta a essa pergunta depende do perfil do cliente, de suas necessidades, sonhos e objetivos futuros. É necessário entender o quão dolarizado é seu padrão de consumo, seu entendimento e conforto quanto às oscilações cambiais, perspectivas de gastos futuros em dólar, entre outros fatores.

De uma forma geral, por diferentes espectros, entendemos que faz total sentido para todo brasileiro considerar ter uma parcela alocada nos EUA, e que essa não deveria ser marginal em relação ao todo da carteira.

Em nossa visão todos os clientes da Avenue, independente do perfil de investidor podem se beneficiar ao manter parte relevante do seu portfólio investido no exterior, tendo em vista que, em geral, a adição de ativos descorrelacionados a uma carteira, melhora a relação risco/retorno da mesma e que grande parte dos custos da vida do brasileiro está atrelado ao dólar norte-americano. Entendemos adequado que, em geral, um brasileiro tenha cerca de 40% da sua carteira de investimento alocada no exterior, desde que essa alocação esteja alinhada ao seu perfil de risco.

Vale a importante ressalva de que é primordial que o brasileiro mantenha em Reais um montante destinado a cobrir gastos inesperados e que atenda à sua necessidade de liquidez local (em geral, de 3 a 6 rendas mensais).

Dito isso, entendo que não é uma ciência exata, e o objetivo deste Insight é fazer você pensar em diferentes modelos ou ideias.

OBSERVANDO AS ALOCAÇÕES DOS FAMILY OFFICES

O banco suíço UBS publicou recentemente o relatório intitulado Global Family Office de 2024, no qual apresenta um compilado de informações de alocações de 320 family offices em sete regiões do mundo. Um family office é um serviço de consultoria e gerenciamento de patrimônio para clientes de elevado patrimônio. Esse relatório mostra como essas famílias de maior poder aquisitivo alocam seu patrimônio. O relatório aborda family offices com uma média de recursos gerenciados de US$ 2,6 bilhões, somando um total de US$ 600 bilhões de patrimônio.

Ao observar a alocação média dos family offices da América Latina, vemos que uma parte importante das grandes fortunas está alocada em ativos chamados alternativos – tradicionalmente uma classe menos acessível a tickets menores. No entanto, ao analisar a parcela alocada em ativos tradicionais (69% da alocação total no gráfico abaixo), apenas 7% do total está alocado em ativos de renda variável de mercados emergentes e outros 7% em renda fixa também de emergentes.

Fonte: Global Family Office Report 2024 do UBS – 2024

Então, observando as alocações de famílias de alto poder aquisitivo, vemos que grande parte dos investimentos é feita no exterior.

PENSANDO EM RETORNO…

Na semana passada, abordamos um assunto super relevante: o momento atual e as alternativas de retorno obtidas na renda fixa no exterior. Se você não leu, diria que é fundamental que você leia!

IPCA +6% é bom, mas Dólar +6% é melhor ainda? (avenue.us)

Avançando na discussão, penso que o investimento no exterior pode funcionar não só como reserva e diversificação, mas também como alternativa para potencializar os retornos da carteira – obviamente sempre respeitando o perfil de investimento de cada investidor. Veja que interessante, a tabela abaixo mostra os retornos passados acumulados em Reais em janelas de 5, 10 e 15 anos.

Nada garante que será assim, mas os investimentos em renda variável no exterior tiveram uma performance que chama a atenção. Outra coisa que salta aos olhos é que, quando comparamos alternativas de renda fixa existentes no Brasil (títulos que remuneram IPCA+6%, por exemplo), tiveram performance semelhante às alternativas comparáveis nos EUA (Dólar +6%).

O gráfico abaixo compara o retorno de diferentes classes de ativos no Brasil com alternativas no mercado global. Considerando que ao investir no exterior você está investindo em dólar, o seu retorno final em reais leva em conta a oscilação da moeda (cotação do dólar no Brasil) mais o retorno do ativo investido no exterior. Mais uma vez, nada garante que será assim, mas os dados dos últimos 10 anos mostram a grande diferença de performance entre ativos locais e globais.

Fonte: JP Morgan – Princípios de sucesso para investimentos globais – 31/dez/2022

Então, pensando na possibilidade de retorno, me parece que a alocação internacional pode compor uma parcela relevante do patrimônio de qualquer investidor. O que você acha?

PENSANDO NO TAMANHO DA ECONOMIA E DOS MERCADOS…

Uma forma de determinar o tamanho da alocação internacional pode ser levando em conta o tamanho da economia e as possibilidades de investimentos. Considerando dados mais recentes, o Brasil se encontra como a oitava economia do mundo, empatado com a Itália em termos de PIB, com um valor que é menos de um décimo do que a economia americana produz. Ou seja, apesar de termos tamanho e relevância global, nossa economia ainda é pequena comparada aos EUA – o Brasil respondeu por cerca de 2% do PIB global nos últimos 12 meses encerrados em março de 2024 (fonte).

Fonte: Investopedia.com – 29/mai/2024

E, quando falamos do tamanho do mercado de capitais (de investimentos), a representatividade do Brasil diminui ainda mais. O gráfico abaixo compara o tamanho do mercado brasileiro de renda fixa e variável com sua representatividade no mundo. O impacto disso é que alternativas de investimentos em alguns setores específicos (especialmente ligados à tecnologia, ainda que não restritos a isso) praticamente inexistem para o investidor brasileiro. O gráfico abaixo mostra que, tanto na renda fixa quanto na renda variável, o mercado brasileiro responde por um percentual muito pequeno das alternativas de investimento no mundo. Ainda assim, o brasileiro investe quase a totalidade do seu patrimônio no Brasil.

Fonte: JP Morgan – Princípios de sucesso para investimentos globais – 31/dez/2022

Pensando no tamanho da economia e do mercado, parece que existe um grande espaço para alocação no exterior, não é mesmo?

PENSANDO NOS BENEFÍCIOS DA DIVERSIFICAÇÃO…

Muito se fala dos benefícios da diversificação em investimentos. É sabido que a adição de ativos descorrelacionados a uma carteira reduz o risco sem diminuir o retorno esperado. Você pode reduzir a volatilidade dos seus investimentos aumentando o número de ativos em sua carteira, como mostra o gráfico abaixo – trecho extraído do livro “Princípios: Vida e Trabalho” de Ray Dalio. Em resumo, o gráfico demonstra que, ao adicionarmos mais ativos (sejam ações, fundos, ETFs, renda fixa etc.), a volatilidade da carteira diminui – entendendo-se aqui como a redução do desvio-padrão da carteira. Mas uma melhor diversificação é alcançada somente através de ativos que possuam baixa correlação entre si – ou seja, ativos cujas performances sejam pouco ou nada impactadas por um único evento ou fator (vide gráfico abaixo).

Fonte: Investing.com – 23/fev/2022

As curvas vermelhas do gráfico acima mostram que, ao adicionarmos ativos que possuem baixa correlação, a volatilidade da carteira diminui. Ray Dalio, em seu livro “Princípios”, reforça a importância da diversificação, especialmente em ativos descorrelacionados, ou seja, ativos cujas performances sejam menos influenciadas por um único fator. São ativos que não “andam juntos” ou que não são impactados pelos mesmos fatores.

A questão é que, conforme vimos, no Brasil, a maioria dos investidores diversifica utilizando apenas ativos locais. No entanto, trata-se de uma diversificação muitas vezes ineficiente, dada a correlação entre os ativos. A razão para isso é que ativos dentro de um país estão expostos a riscos econômicos e políticos semelhantes. Ou seja, eventos que afetam apenas o Brasil acabam por impactar diferentes classes de ativos no país, reduzindo o benefício da diversificação por meio de ativos locais. É só pensar em eventos como eleições, riscos associados a declarações de governantes, ou o risco de aprovação ou não de uma reforma etc.

Portanto, para se beneficiar de uma diversificação efetiva que possa reduzir o risco da sua carteira, você precisa ter uma parcela do seu capital descorrelacionada de eventos que afetam apenas o Brasil, e isso você consegue acessando o mercado global. Faz sentido para você?

PENSANDO EM ALTERNATIVAS DE INVESTIMENTOS…

Ligando com os dois últimos pontos, como diversificar e buscar descorrelação de ativos investindo apenas em um mercado? Ou ainda, será que faz sentido ignorar diversas alternativas de investimentos em diferentes setores?

Citando novamente o Global Family Office Report 2024 do UBS, vemos que existe um grande interesse dos family offices globais em buscar diversificação através do investimento em temas como os listados abaixo para os próximos anos. Quais são as alternativas de investimentos no Brasil que te propiciam exposição a tais temas?

Fonte: Global Family Office Report 2024 do UBS – 2024

Então, pensando em alternativas de investimentos, parece razoável dizer que a alocação internacional pode compor uma parcela relevante do patrimônio de qualquer investidor. O que você acha?

ALOCAÇÕES DOS BANCOS CENTRAIS…

Por exemplo, bancos centrais ao redor do mundo guardam reservas que servem como um colchão de liquidez e segurança para momentos adversos, tal como nossa poupança. O percentual alocado em dólar pelos bancos centrais, segundo o FMI, atualmente (fim de 2023), é de 58% – vide gráfico abaixo.

Fonte: Exposição de reservas a moedas estrangeiras de acordo com o FMI – 29/mar/2024

A título de curiosidade, o Banco Central do Brasil guarda uma proporção maior das suas reservas em dólar. Segundo o relatório mais atual de gestão das reservas internacionais brasileiras, o Brasil possui cerca de 80% de suas reservas em dólar.

Em dezembro de 2023, a alocação por moedas das reservas se dava da seguinte forma: 79,99% em dólar norte-americano, 5,24% em euro, 4,80% em renminbi, 3,58% em libra esterlina, 2,60% em ouro, 1,80% em iene, 1,01% em dólar canadense e 0,9% em dólar australiano.

Fonte: Relatório de Gestão das Reservas Internacionais do Banco Central – 29/mai/2024

Citando mais uma vez o report:

“As reservas internacionais são os ativos do Brasil em moeda estrangeira e funcionam como uma espécie de seguro para o país fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques de natureza externa”

Ou seja, o Banco Central do nosso país guarda 80% da sua poupança em dólar. Seguindo os modelos adotados pelos bancos centrais, parece que mais uma vez existe um espaço relevante a ser ocupado por uma alocação global.

VOLTANDO AO MERCADO…

Na sexta-feira, tivemos o índice de inflação mais acompanhado pelo Fed subindo em linha com o esperado nas principais medições (+0,3% na variação mensal e +2,7% na comparação anual). No entanto, dois destaques que podem ser considerados positivos na divulgação de hoje: (i) um número menor do que o esperado na variação mensal do seu núcleo; (ii) os gastos pessoais cresceram 0,2% na comparação mensal ante os 0,3% esperados pelo mercado.

Entendemos que a leitura é positiva no sentido de continuarmos vendo alguma evolução no combate à inflação, mas principalmente pelos menores gastos pelo consumidor. Após um começo de ano com uma atividade mais forte do que o esperado, de janeiro a março, temos visto alguns números de atividade da economia vindo levemente aquém do esperado – esta semana, por exemplo, o PIB foi revisado para baixo (US economic growth last quarter is revised down from 1.6% rate to 1.3%, but consumers kept spending | AP News). Isso pode abrir espaço para ser refletido nos índices inflacionários.

Ainda nos parece prematuro para mudar a percepção e a postura do Fed e seus dirigentes quanto a mudanças na política monetária. A ata da última reunião reforçou a narrativa de juros mais elevados e, junto a isso, tivemos comentários, declarações e observações mais cautelosas dos dirigentes do Fed recentemente. Ainda há muita incerteza se a inflação está numa trajetória favorável para retornar à meta de 2%. Entendemos que o dado aumentou a incerteza sobre quando o Fed pode começar a cortar juros e nos parece manter o cenário aberto para potenciais mudanças no encontro em setembro, caso vejamos mais evolução positiva na inflação até lá.

O gráfico abaixo ajuda a mostrar que a inflação, especialmente quando anualizamos os últimos dados, ainda está longe da meta (linha amarela).

Fonte: Nick Timiraos (@NickTimiraos) / X – 31/mai/2024


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*William Castro Alves é Estrategista-chefe da Avenue Securities


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