Por que o mercado tem medo de Gleisi Hoffmann

O dólar disparou na sexta-feira (28/2), com alta de 1,50%, cotado a R$ 5,91, e a Bolsa brasileira (B3) afundou, com recuo de 1,60%. Parte desses resultados negativos, foi atribuída por analistas do mercado à decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de indicar a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann para o comando da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), ministério responsável pela articulação política do governo.

A questão é por que, exatamente, o mercado tem medo da nova ministra. A seguir, alguns pontos que despertam esse temor, segundo o próprio mercado.

  • Risco para a agenda econômica

Para Alexsandro Nishimura, diretor da assessoria de investimentos Nomos, Gleise é vista pelos investidores como uma expoente da ala mais radical do PT, justamente a que mais ataca o mercado. Ele observa que a nova ministra tem sido “voz ativa contra medidas de ajuste fiscal, o que pode dificultar a agenda econômica.”

  • Austeridade fiscal

Sob a gestão de Gleisi no PT, o partido aprovou ainda uma nota defendendo a necessidade de o país se liberar do que chamou de “austericídio fiscal”, em contraponto ao termo “austeridade fiscal”.

  • Enfraquecimento de Haddad

À medida que o ajuste fiscal seja atacado, observam os técnicos, pode ocorrer um enfraquecimento da posição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no governo. Lula, no entanto, tem dado demonstrações de apoio a Haddad.

  • Críticas ao Banco Central 

A ministra Gleisi Hoffmann foi ao longo do atual governo de Lula a crítica de maior destaque contra a elevação da taxa básica de juros do país, a Selic, promovida nesse período pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC).

Isso ocorreu, notadamente, durante toda a gestão de Roberto Campos, ex-presidente do BC. Ele foi chamado por Gleisi de “bolsonarista”. A nova ministra das Relações Institucionais declarou que “o único descontrole na economia não é nos gastos do governo, mas nos juros estratosféricos que fazem crescer a dívida pública e já provocam recorde de recuperações judiciais das empresas, apesar do crescimento da economia”.

Gleisi voltou a atacar a alta dos juros em janeiro, quando o Copom elevou a Selic para o atual patamar de 13,25% ao ano, mas sob a gestão do economista Gabriel Galípolo, indicado por Lula. Na ocasião, ela, contudo, poupou o novo presidente do BC.

  • Articulação do governo no Congresso

As posições tidas como “radicais” de Gleisi, apontam outros analistas, podem ainda atrapalhar a relação do governo com o Congresso. “Na visão majoritária [do mercado], a nova configuração pode dificultar a articulação política do governo com o Poder Legislativo”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

  • Sobre a nova ministra

Gleisi Hoffmann (59 anos) é natural de Curitiba (PR) e formada em Direito pela Universidade Federal do Paraná. É presidente do PT desde 2017, mas terá de deixar o cargo antes de assumir o ministério.

É deputada federal pelo Paraná no segundo mandato consecutivo. Pelo mesmo estado, foi senadora (2011-2019). Gleisi Hoffmann atuou ainda como ministra-chefe da Casa Civil durante o governo Dilma Rousseff (2011-2014) e como diretora financeira da Itaipu Binacional (2003-2006).

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