Aos 90 anos, baluarte do samba quer preservar raízes do Carnaval de SP

São Paulo — O amor de Maria Apparecida Urbano pelo Carnaval começou cedo. Ainda criança, ela e uma prima costumavam se fantasiar com as roupas dos tios para curtir a festa nas ruas do Brás, bairro do centro de São Paulo onde a família vivia nos anos 1940.

Mais tarde, a menina seria pioneira ao ocupar o posto de carnavalesca de uma escola de samba em São Paulo, viraria pesquisadora do tema e escreveria sete livros sobre o assunto.

Hoje com 90 anos, Maria Apparecida celebra o crescimento do Carnaval em São Paulo, que chama de “espetáculo”, mas diz que o passar do tempo fez com que as raízes da festa fossem esquecidas. “Hoje se você pergunta ‘como nasceu a escola?’ ninguém sabe”, afirma. “Por isso que eu luto em contar a história. Ela não pode se perder”.

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Maria Apparecida Urbano revisita lembranças da história no Carnaval

Maria Apparecida Urbano foi a primeira carnavalesca mulher de São Paulo
Dona Cida e Osvaldinho da Cuíca
Dona Cida e outros membros da Embaixada do Samba, grupo com baluartes do samba paulistano
Dona Cida foi professora de cursos para jurados dos desfiles
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Aos 90 anos, dona Cida luta para preservar memória das escolas de samba em São Paulo

Jessica Bernardo / Metrópoles

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Maria Apparecida Urbano revisita lembranças da história no Carnaval

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Maria Apparecida Urbano foi a primeira carnavalesca mulher de São Paulo

Jessica Bernardo / Metrópoles

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Dona Cida e Osvaldinho da Cuíca

Arquivo Pessoal

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Dona Cida e outros membros da Embaixada do Samba, grupo com baluartes do samba paulistano

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Dona Cida foi professora de cursos para jurados dos desfiles

Arquivo Pessoal

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Dona Cida foi comentarista dos desfiles na Jovem Pan

Arquivo Pessoal

Dona Cida, como ficou conhecida, ainda se lembra da época em que as fantasias e carros alegóricos do Carnaval paulistano eram improvisados. “A gente saía [para o desfile] até com carrinho de supermercado. Enfeitava ele e saía. Às vezes juntava dois ou três carrinhos e fazia um carro maior”.

Foi na década de 1970, que ela entrou de vez para o mundo do samba. Então decoradora, foi convidada pelo presidente da Imperador do Ipiranga para ajudar na construção de um desfile da escola, e acabou assumindo o posto de carnavalesca ao lado dele.

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A Imperador do Ipiranga foi a primeira de muitas escolas por onde dona Cida passou, em uma lista que inclui agremiações como Barroca e Vai-Vai. Nesta última, escreveu o samba-enredo Água de Cheiro, que terminou em 2º lugar no Carnaval de 1985.

“Era Água de Cheiro, falando sobre o perfume. Fizemos um carnaval maravilhoso. Tiramos o segundo lugar, mas fomos para [a avenida] ficar em primeiro”.

Foi mais ou menos nessa época que os clientes para quem ela trabalhava como decoradora descobriram  seu envolvimento com o samba. “Quando a minha foto no Vai-Vai saiu no jornal, todo mundo viu”. Antes, ela mantinha segredo. Naquele tempo, conta, havia muito preconceito com quem atuava nas escolas.

No Carnaval, dona Cida viu de perto quando a Avenida São João ficou pequena para os desfiles das escolas. Acompanhou a mudança da festa para o Vale do Anhangabaú, e depois a Avenida Tiradentes, até chegar no Sambódromo do Anhembi.

A profissionalização da celebração, ela lembra, veio a partir de 1968, quando o então prefeito de São Paulo, Brigadeiro Faria Lima, passou a patrocinar a festa. Os regulamentos para os desfiles foram importados do Rio de Janeiro, que naquele tempo já tinha desenvolvido as regras para o evento.

Para dona Cida, o Carnaval paulistano fica hoje lado-a-lado com o carioca.

“O Carnaval que nós temos hoje é maravilhoso. É tão bom quanto o do Rio. Não digo que seja igual, mas é um senhor Carnaval o de São Paulo. Ele chegou onde devia, com bons carnavalescos, bons sambistas, bons compositores bons, chegamos onde queríamos”.

A carnavalesca nunca se afastou da festa. Treinou jurados no interior de São Paulo, virou comentarista dos desfiles, entrou para a Embaixada do Samba, grupo formado para homenagear nomes históricos da festa paulistano. Em 2024, desfilou de cadeira de rodas no Anhembi.

Este ano, pela primeira vez em cinco décadas de folia, dona Cida não vai desfilar. Com a saúde frágil, desta vez vai assistir ao espetáculo de casa. “Vou dormir, né?”, brinca.

Ao Metrópoles, dona Cida contou que está escrevendo seu oitavo livro sobre o Carnaval. Agora, uma auto-biografia, para registrar as histórias de uma vida dedicada à festa. A obra, no entanto, será reservada apenas aos familiares e amigos.

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