O que se espera após, finalmente, o cinema brasileiro ter um Oscar

Foto: ClicRDC

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A virada de ontem (2) para hoje (3) foi de imensa alegria para o povo brasileiro, tirando um que outro cidadão que ideologizou o filme “Ainda Estou Aqui”. Apesar de política, a obra nacional premiada com o Oscar de Melhor Filme Internacional é, antes de tudo, artística e histórica. Agora, não apenas pelo caso Rubens Paiva, mas por ter trazido ao cinema brasileiro, após tantas decepções, finalmente, a primeira estatueta dourada de Hollywood.

O filme teve investimento 100% privado. Conforme a Folha de São Paulo, foram gastos R$ 45 milhões para a produção de “Ainda Estou Aqui”, e um valor ainda não calculado para a campanha que levou a obra para o topo de uma das principais categorias do Oscar. O filme nacional custou, em valores atuais, R$ 10 milhões a mais do que “Anora”, obra que ganhou a categoria de Melhor Filme.

A principal pessoa responsável pela conquista dessa estatueta não é Fernanda Torres, apesar de ter sido a atriz aclamada, o símbolo e a embaixadora da vitoriosa campanha pelo reconhecimento do cinema brasileiro. Quem fica com o Oscar em casa é o herdeiro do Itaú e diretor do filme, Walter Salles. Pense num homem que lutou por essa glória! Foram diversas tentativas, sendo a que mais perto chegou do êxito foi “Central do Brasil”, que teve Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres como protagonista, em 1998.

O bilionário de 68 anos quebrou o maior muro que existia no cinema brasileiro para a definitiva oportunidade de internacionalização de nossas produções e mais fácil exportação de nossos talentos. A partir de agora, espero, primeiramente, que o setor privado faça maiores investimentos no cinema brasileiro, e não sobrecarregue o setor público, mesmo que seja via Lei Rouanet, redirecionando dinheiro que iria para o governo a fim de financiar obras cinematográficas.

Na sequência, tenho a expectativa de maiores investimentos públicos e privados na formação de cineastas. Em Chapecó, temos uma graduação em Produção Audiovisual, que capacita pessoas do Oeste Catarinense para trabalharem e viverem do cinema. O mercado regional pode receber apoio de grandes empresas, sendo pensado como mercado formador para que, quem sabe, o próximo diretor brasileiro ganhador do Oscar venha da nossa terra.

Por fim, desejo que seja fomentada uma maior concorrência entre as empresas nacionais de produção cinematográfica. Existe uma grande liderança da Globo Filmes no mercado, que foi desafiada com o sucesso de “Ainda Estou Aqui”, mesmo que a obra tenha sido apresentada como o primeiro filme original para a plataforma de streaming Globoplay.

Uma canção que leva o mesmo nome do filme, “Ainda Estou Aqui”, da banda evangélica Voz da Verdade, lançada em 2005, tem uma letra que vem bem a calhar com a história de morte e dor que o Brasil reviveu na tela do cinema. Fiz questão de ouvi-la novamente ontem, várias vezes, e hoje ela faz ainda mais sentido: “Subindo a montanha, senti o amor de Deus. Dentro do vale, a paz me alcançou. Nos rios e mares, não me afoguei. Direi ao mundo, ainda estou aqui”.

Recadinhos

  • Na cobertura do Oscar na Globo, em quase todas as intervenções de repórteres espalhados pelo Brasil, gritos de “sem anistia” por parte dos foliões que pulavam carnaval, e ao mesmo tempo, acompanhavam a transmissão.
  • Como comentado na coluna semana passada, é muito complicado que a Lei da Anistia, neste momento, já tenha 230 votos na Câmara dos Deputados, conforme calcula a oposição. Com a repercussão de “Ainda Estou Aqui”, é quase impossível.
  • Fernanda Torres, com excelente humor, citou o Troféu Imprensa, organizado pelo SBT, no tapete vermelho do Oscar. Este é um dos legados de Silvio Santos para o reconhecimento ao talento nacional, e não se pode perder!
  • Foi emocionante acompanhar a vibração de todo o país, nas casas e nas ruas, no momento da vitória do filme brasileiro. De norte a sul, todos se identificaram com a necessidade desse tabu ser quebrado, e ele finalmente foi.

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