UE promete plano de € 800 bi após Trump suspender ajuda à Ucrânia

Países e líderes europeus reagiram nesta terça-feira (4/3) à decisão do presidente americano, Donald Trump, de suspender a entrega de armas e munições à Ucrânia. Enquanto a União Europeia promete “um apoio imediato” e um plano de € 800 bilhões, o Reino Unido diz estar “concentrado na paz“.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (foto em destaque), o novo plano para reforçar a indústria da defesa, aumentar as capacidades militares dos Estados-membros e apoiar a Ucrânia pode mobilizar até € 800 bilhões.

A líder do bloco prometeu ainda conceder aos países-membros uma margem orçamentária maior para investir na área, além de € 150 bilhões de empréstimos e novos esforços para mobilizar capitais privados.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirma que segue “concentrado na paz” na Ucrânia e diz que não se deixará “distrair por anúncios”. Segundo a número 2 do governo britânico, Angela Rayner, o premiê pretende “continuar dialogando com nosso aliado mais antigo e poderoso, os Estados Unidos, e com os parceiros europeus, bem como a Ucrânia”.

Na França, a decisão de Trump suscita críticas. Para o ministro francês encarregado da Europa, Benjamin Haddad, a medida “afasta a paz” e “reforça a ação do agressor que é a Rússia”.

Já para o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, a suspensão da ajuda militar a Kiev “é uma traição” depois da “emboscada (…) que ocorreu no escritório do presidente dos Estados Unidos”, afirmou, referindo-se ao constrangedor encontro entre Trump, seu vice, JD Vance, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, na última sexta-feira (28/2).

Ordem geopolítica mundial abalada

A nova diplomacia pela força implantada por Trump, em pouco mais de um mês de presidência, abala a ordem geopolítica mundial. Trump alega ter tomado esta decisão após Zelensky demonstrar desrespeito e falta de gratidão ao seu governo pelos esforços para acabar com o conflito com a Rússia. “Você não tem as cartas na mão”, disse o republicano durante o encontro com o presidente ucraniano.

A retórica vem sendo adotada desde o início de seu governo, em 20 de janeiro deste ano. Seja a Groenlândia – território autônomo dinamarquês cobiçado pelo líder republicano – o Canal do Panamá ou a imposição de tarifas alfandegárias, Trump vem deixando claro que se importa mais com seus interesses do que com aliados.

O jornal Le Monde avalia que o governo Trump recorre a práticas de “chantagem e brutalização” para subjugar Zelensky à sua vontade. “Em três anos, os Estados Unidos gastaram US$ 67 bilhões em ajuda militar para Kiev.

Mas hoje, o governo dos Estados Unidos parou de tratar este país como um aliado, preferindo humilhá-lo e torná-lo mais vulnerável. Ao fazer isso, Trump dá as costas à vítima e aos europeus dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que renovaram seu compromisso com a Ucrânia”, constata o diário.

Já para o jornal Libération o dia 28 de fevereiro ficará marcado na história contemporânea como a data em que os Estados Unidos abandonaram a Europa no pós-Segunda Guerra. Em uma reunião transmitida ao vivo de Washington, o presidente ucraniano foi humilhado diante do mundo inteiro por Trump e Vance.  De forma grosseira, Zelensky foi responsabilizado pela invasão russa que devasta há três anos a Ucrânia.

A agressiva estratégia americana não apenas choca, mas preocupa a Europa, onde a extrema direita considera o poder autoritário do presidente russo, Vladimir Putin, como um modelo a ser admirado e seguido.

“Os atuais partidos ultranacionalistas na Europa sentem-se ainda mais empoderados e certos de suas posições, depois de Trump, do vice J.D. Vance e de Elon Musk se aliarem a Putin”, assinala um editorialista do jornal Libération.

Em defesa do Estado-nação

Em seu editorial, Le Figaro diz que diante da Rússia e dos Estados Unidos, a Europa se encontra desarmada e critica qualquer tentativa de atribuição de poder de decisão sobre questões de defesa à Comissão Europeia. Conservador em sua visão da soberania francesa, o texto defende que a França permanece autônoma em suas decisões, principalmente no que diz respeito à dissuasão nuclear.

“O feito heroico da Ucrânia é uma prova viva disso, o que não impede as alianças essenciais entre os Estados europeus, não impede a defesa de uma civilização milagrosa – o casamento do cristianismo e da democracia liberal –, mas nos obriga a retornar às realidades básicas. Somente nações fortes podem construir a independência europeia juntas. Desde que se tenha armas carregadas”, conclui o editorial do Le Figaro.

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