‘Tentei falar, mas já chegaram com spray’, diz folião agredido no Carnaval de Florianópolis

Os foliões que circularam após as 2h da madrugada na Avenida Hercílio Luz, no Centro de Florianópolis, durante o Carnaval, foram cercados pela GMF (Guarda Municipal de Florianópolis) com spray de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a população. A justificativa para a ação policial é uma portaria emitida pela prefeitura no fim de fevereiro, proibindo a continuidade das festas nas ruas após esse horário.

Guarda aponta arma para folião rendido no Centro de Florianópolis - Reprodução/ND

1
5

Guarda aponta arma para folião rendido no Centro de Florianópolis – Reprodução/ND

Agentes de segurança causaram revolta ao lançar jato de spray de pimenta no rosto de dois foliões que tentavam deixar o Centro Leste de Florianópolis - Divulgação/Floripa LGBT/ND

2
5

Agentes de segurança causaram revolta ao lançar jato de spray de pimenta no rosto de dois foliões que tentavam deixar o Centro Leste de Florianópolis – Divulgação/Floripa LGBT/ND

Agente da Guarda Municipal de Florianópolis intimida com cassetete foliões que tinham acabado de receber spray de pimenta na cara - Reprodução/ND

3
5

Agente da Guarda Municipal de Florianópolis intimida com cassetete foliões que tinham acabado de receber spray de pimenta na cara – Reprodução/ND

GMF e Polícia Militar dispersaram o público do Centro Leste com spray de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral - Divulgação/Floripa LGBT/ND

4
5

GMF e Polícia Militar dispersaram o público do Centro Leste com spray de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral – Divulgação/Floripa LGBT/ND

Guarda esguicha spray de pimenta contra foliões em Florianópolis - Reprodução/ND

5
5

Guarda esguicha spray de pimenta contra foliões em Florianópolis – Reprodução/ND

Vídeos gravados pelos foliões registraram a ação dos agentes. Uma das gravações mostram Gabriel Leonel, de 32 anos, andando de mãos dadas com seu namorado, de 33, por volta das 2h40 de terça-feira (4), quando são atacados com spray de pimenta.

Enquanto caminham pela rua, agentes da GMF se aproximam e lançam spray de pimenta em direção ao casal, que se abaixa para escapar do jato e dá meia volta. Ao ND Mais, Gabriel relatou o que aconteceu no momento, como foi a abordagem e o que ele e o namorado faziam no local.

Veja o momento em que guardas lançam spray de pimenta nos rostos de Gabriel e de seu namorado


Guardas municipais lançaram um jato de spray de pimenta no rosto dos dois foliões por volta das 2h40 da madrugada em Florianópolis – Vídeo: Divulgação/Floripa LGBT/ND

‘Não justifica a falta de humanização’, relata folião agredido

Gabriel conta que, no momento da agressão, ele estava voltando da festa para sua casa, que fica na avenida Hercílio Luz, a duas quadras de onde o vídeo foi gravado. “Não tivemos nem a oportunidade de falar. Fomos no caminho que sempre percorremos para casa e eles vieram já de forma agressiva, sem dar espaço para a gente explicar para onde estávamos indo. Cheguei a tentar verbalizar, mas já vieram com o spray de pimenta”.

O folião relembra que o spray veio direto nos seus olhos e nos olhos do namorado. “A gente deu meia volta e retornou por onde tínhamos vindo. Buscamos um abrigo e ficamos algumas horas esperando a ardência passar, sem nem conseguir abrir os olhos, tentando nos acalmar”.

Eles voltaram para a casa somente no final da madrugada. “Ficamos amedrontados de passar pela Hercílio de novo”, relata.

Gabriel expõe que, mesmo após chegar em casa, ainda demorou um tempo até a ardência passar. “Entramos na água gelada para tentar amenizar a temperatura quente da pele, era uma ardência muito intensa. Não só nos olhos, mas também na parte inferior do corpo, tanto do meu quanto do meu namorado. Melhorou um pouco, mas não passou rápido. Doeu por muitas horas”.

O folião critica a postura dos agentes e, mesmo que a festa tenha acabado às 2h, a abordagem, no seu entendimento, foi “desumana”. “Por mais que tenha um decreto, não justifica a falta de humanização. Já que existe a expulsão, ela não precisa ser feita de forma agressiva. Não precisava daquilo. Estávamos apenas eu e meu namorado naquela calçada”.

Gabriel diz que registou um boletim de ocorrência, mas não citou a intenção de receber uma indenização ou ver o afastamento dos agentes. “Eu gostaria só que a justiça fosse feita, porque hoje aconteceu comigo, mas amanhã pode acontecer com outras pessoas que não estão fazendo nada de errado. Gostaria que fosse evitado que outros também passem por isso”.

GMF e Polícia Militar dispersaram o público do Centro Leste com spray de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral - Foto: Divulgação/Floripa LGBT/ND

GMF e Polícia Militar dispersaram o público do Centro Leste com spray de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral – Foto: Divulgação/Floripa LGBT/ND

Vereador de Florianópolis protocolou pedido para que a GMF explique as ações

Na manhã de terça-feira (4), o vereador da capital catarinense Leonel Camasão (PSOL) protocolou um requerimento para convocar o comando da GMF ao Plenário da Câmara Municipal para prestar esclarecimentos sobre eventual abuso de autoridade e uso desproporcional da força contra foliões no Carnaval.

Para que a convocação seja realizada, é preciso ter aprovação dos vereadores. A pauta foi colocada na Ordem do Dia desta quarta-feira (5), mas não chegou a ser votada. Ela deverá ser pautada novamente na próxima sessão, que ocorrerá na segunda-feira (10).

Segundo a equipe do vereador Camasão, uma denúncia está sendo preparada e deverá ser protocolada no MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) nesta quinta-feira (6).

A atuação das forças de segurança causou pânico e correria no Centro Leste de Florianópolis  - Foto: Bailes de Floripa/@bailesdefloripa/Instagram

A atuação das forças de segurança causou pânico e correria no Centro Leste de Florianópolis  – Foto: Bailes de Floripa/@bailesdefloripa/Instagram

GMF diz que ‘há registros de desrespeito e resistência’ contra os agentes e que ‘não houve uso de força física’

Em nota ao ND Mais, a GMF reforçou que todos os blocos e festas de Carnaval de Florianópolis foram previamente informados sobre as normas e os horários limites. “No entanto, há registros de desrespeito e resistência, incluindo agressões e arremesso de objetos cortantes contra os profissionais responsáveis pela segurança”, afirma o órgão.

Segundo a GMF, as guarnições estavam direcionando o público para a mesma rota na noite de terça-feira, quando os dois foliões foram agredidos. Os agentes informaram que a maioria acatou as ordens e alegaram que “não houve uso de força física, apenas comandos verbais e equipamentos de dispersão, como spray de pimenta”.

Portaria definiu horário limite para blocos

Uma portaria publicada em 24 de fevereiro estabeleceu o horário limite de 2h da madrugada para blocos, arenas e festas em espaço público durante o Carnaval. A determinação conjunta, assinada pelos secretários Juliano Pires, de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, e Ivanna Tomasi, de Planejamento, Habitação e Desenvolvimento, estabeleceu:

  • I – Finalização da sonorização até 01h30;
  • II – Movimento de dispersão até às 02h;
  • III – Início da limpeza pública às 02h.

No entanto, em contraste à ação da GMF, a portaria trata de “horário geral para blocos, arenas e festas em espaço público”, sem qualquer menção que proibisse a circulação de pessoas pelas ruas após o fim da sonorização e da dispersão do bloco ou da festa.

Em entrevista à Coluna Bom Dia, o prefeito Topázio Neto (PSD) avaliou que “estatisticamente, as ocorrências mais graves em festas e eventos de Carnaval acontecem a partir das 2h da manhã”, quando “as pessoas já se passaram no consumo de álcool”.

Ainda, o prefeito ressaltou que, “apesar do Carnaval, a cidade continua funcionando” e, por isso, deve haver tempo hábil para “limpar a cidade para o dia seguinte”.

Vice-prefeita viu tolerância em ação

Na visão da vice-prefeita, Maryanne Mattos (PL), a atuação das forças de segurança no Carnaval de Florianópolis chegou a ser tolerante com os foliões. “Se as pessoas tivessem respeito com as regras, respeito inclusive com a verbalização do agente de segurança. Se fosse talvez em outro país, a pessoa iria presa. A gente tem essa tolerância”, argumentou, em entrevista ao Balanço Geral Florianópolis na última quarta-feira (5).

Adicionar aos favoritos o Link permanente.